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Manter a taxa Selic em 13,75% ao ano é bom ou ruim para o bolso?

Especialistas explicam por que o Banco Central mantém a taxa de juros alta mesmo que isso signifique menos crédito na praça

O que é que eu faço Sophia|Sophia Camargo, do R7 e Sophia Camargo

Juro alto é remédio amargo contra a inflação
Juro alto é remédio amargo contra a inflação Juro alto é remédio amargo contra a inflação

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu manter a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75% ao ano, decretando o fim do mais longo ciclo de alta de juros de sua história. Mas manter a taxa Selic em um nível tão elevado é bom ou ruim para o bolso?

A resposta não é simples, porque vai depender de vários fatores, explicam os especialistas ouvidos pela coluna Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, e Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest.

Segundo eles, uma taxa de juros em um nível elevado como 13,75% ao ano não é boa para os negócios nem para pessoas que estão endividadas ou precisando de crédito.

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Já para quem tem dinheiro em caixa e quer investir, a taxa alta é vantajosa porque traz um rendimento mais alto em um menor período de tempo.

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Essa taxa é boa para quem tem dinheiro%2C que pode aplicar e obter retorno elevado%2C contanto que a inflação seja inferior a essa taxa. Mas ela é ruim para quem não tem dinheiro e tem dívidas%2C porque vai pagar mais caro pelo crédito

(Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest)

Ou seja, uma taxa alta é boa para os mais ricos e ruim para quem não tem dinheiro.

Mas, se não é tão bom manter uma taxa de juros alta, por que o Comitê de Política Monetária opta por remédio tão amargo? É que pior que uma taxa de juros alta é uma inflação alta, explica Enrico Cozzolino.

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"Esse é o primeiro mandato do Banco Central: conter a inflação. Se a subida de juros é ruim para as pessoas, a inflação é pior ainda. Ela é muito mais devastadora para o bolso", diz.

Taxa de juros alta é ruim para o bolso%2C mas a inflação alta é devastadora

(Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos)

Novamente os pobres são os mais prejudicados: uma inflação alta é ainda pior para as pessoas mais pobres, que não têm como se defender de uma alta contínua de preços.

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Quem tem dinheiro também sofre os efeitos da inflação, mas consegue se proteger colocando dinheiro em aplicações que remunerem acima da taxa de inflação e de alguma forma "perde menos ou até mesmo recupera as perdas com a inflação. Mas os mais pobres não têm esse dinheiro e não conseguem se proteger.

"A defesa da baixa renda é receber o salário e correr para o supermercado, porque se não fizer isso a inflação sobe e a pessoa compra menos com a mesma quantia de dinheiro", diz Marques.

Ele lembra que quem viveu a década de 80 sabia o que era ter uma inflação de 50% ao mês, com preços subindo 3% ao dia. "A economia não pode permitir que a inflação aumente, porque ela sobe de forma contínua. Com o tempo, caem investimentos, cai o consumo e ninguém consegue se planejar nem a médio prazo", diz Rafael Marques.

Por que aumentar os juros combate a inflação?

A forma tradicional de combate é subir os juros, porque isso leva ao encarecimento do crédito. Esse movimento dá origem a outros:

• Sem crédito, as pessoas consomem menos.

• Quanto menos as pessoas consomem, menos as empresas vendem.

• Quando as empresas vendem menos, aumenta o desemprego.

• Com a oferta grande de mão de obra, caem também os salários.

• Se as pessoas estão recebendo menos ou desempregadas, a inflação cai.

Mas a queda da inflação não é imediata, basta ver que o processo de alta da taxa de juros começou em março de 2021, e a inflação só veio a diminuir neste ano.

E ainda assim houve não só a alta da taxa de juros, mas também o corte do ICMS sobre combustíveis e serviços de energia e telefonia.

O combate é longo e cruel%2C mas necessário

(Rafael Marques)

O que significa Selic?

O nome da taxa Selic vem da sigla do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. A taxa Selic refere-se à taxa de juros apurada nas operações de empréstimos de um dia entre as instituições financeiras que utilizam títulos públicos federais como garantia. O BC opera no mercado de títulos públicos para que a taxa Selic efetiva esteja alinhada com a meta da Selic definida na reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom).

Como a taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, se ela sobe, todas as demais taxas cobradas para empréstimos sobem também, já que os bancos vão ter de pagar mais para pegar dinheiro emprestado e, por consequência, também vão cobrar mais de quem pedir empréstimo.

Entenda os efeitos da taxa Selic em alta

No crédito:

Quando a taxa Selic sobe, a tendência é que os juros cobrados pelos bancos para emprestar dinheiro ao consumidor e às empresas também aumente, o que faz com que diminua a oferta de crédito.

Nas aplicações financeiras:

O rendimento das aplicações de renda fixa, como poupança, Tesouro Selic, LCI, CDB e fundos de renda fixa, também aumenta. Ou seja, o investidor ganha mais dinheiro para cada real que põe nessas aplicações.

Como fica mais "fácil" ganhar dinheiro investindo em renda fixa, os investidores não precisam tomar tanto risco para ver seu capital crescer e, com isso, podem desestimular investimentos na economia real como as empresas, seja na criação delas, seja no investimento em ações de empresas que estão listadas na Bolsa de Valores.

No consumo:

Como o custo do dinheiro fica maior, a tendência é que as pessoas gastem menos em compras e serviços.

Na inflação:

Se o consumo diminui, isso pode ajudar a conter a inflação, já que as pessoas estão gastando menos.

O que acontece quando a taxa Selic cai?

No crédito:

Quando a taxa Selic cai, a tendência é que os juros cobrados pelos bancos para emprestar dinheiro ao consumidor e às empresas fique menor, o que faz com que pessoas e empresas busquem mais crédito para consumir e também para investir em máquinas, equipamentos e crescimento das empresas.

Nas aplicações financeiras:

O rendimento das aplicações de renda fixa fica menor, e o investidor passa a ter de tomar mais risco para remunerar mais seu capital. Com isso, pode acontecer uma procura maior por ações na Bolsa e também por investimentos mais arrojados, como fundos imobiliários e fundos multimercados, além de investimentos de renda fixa que tenham mais risco, como debêntures. Alguns também podem querer abrir os próprios empreendimentos.

Consumo:

Como fica mais barato pegar dinheiro emprestado e a rentabilidade dos investimentos é menor, há uma tendência de aumento do consumo.

Inflação:

Se o consumo aumentar demais, isso poderá fazer com que a inflação também suba.

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Se ainda tiver dúvidas sobre economia, dinheiro, direitos e tudo o mais que mexe com o seu bolso, envie suas perguntas para “O que é que eu faço, Sophia?” pelo email sophiacamargo@r7.com

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