Conversa de mãe desempregada com recrutador repercute e expõe grave realidade
Funcionário teria deixado mulher esperando por mais de três horas e ainda agiu de forma preconceituosa
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
O caso da mulher que divulgou uma troca de mensagens com um recrutador viralizou nas redes sociais e traz reflexões importantes. O homem teria atrasado três horas para começar a entrevista e, quando ela disse que estava esperando no horário marcado e que não poderia mais participar, ele passou a criticá-la.
O tal funcionário de recursos humanos ironizou: "Qual seria a rotina de tantos compromissos de um desempregado?". Além disso, também fez um comentário discriminatório ao afirmar que é "sempre difícil contratar quem tem filhos".
Conforme noticiou o R7, o caso aconteceu com Samara Braga, moradora de Cariacica, no Espírito Santo. E o diálogo ocorreu no início do mês, em uma conversa pelo WhatsApp.
Equilíbrio e prioridades
Por mais que as falas do recrutador pareçam absurdas, visões como essas, infelizmente, são comuns de encontrar. Para muitos, a vida de uma pessoa só tem sentido se ela viver apenas para o trabalho. "Afinal, fora ele, o que mais ela pode fazer?" pensam.
Não é a toa que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de países com mais casos de burnout (doença causada pelo esgotamento emocional, físico e mental com origem no estresse do ambiente corporativo). Os dados estão no relatório organizado pelo International Stress Management Association (Isma-BR).
Ou seja, pensar como o funcionário, que somente trabalhar significa ter atividades na vida, além de preconceituoso demonstra que não se valorizam outras áreas, como a pessoal, a familiar, a espiritual etc.
Sobre a outra questão mencionada, que é "sempre difícil contratar quem tem filhos", existem diversos estudos que apontam que muitas mulheres superam o desempenho profissional após a chegada dos pequenos.
Posso falar pela minha experiência trabalhando com boas profissionais que são mães: elas trazem diversos benefícios à estrutura organizacional das empresas. Uma pesquisa feita pela empresa The Mom Project constatou que as mães geram uma experiência 23% mais positiva para os colaboradores e aumentam a produtividade da equipe em 12%.
Mudança de mentalidade
Não é preciso ler muitos estudos para entender que quanto mais adoecida fica a mente do ser humano, pior é seu desempenho profissional. Quem sabe equilibrar os "pratos da vida" rende muito mais em todos os aspectos, incluindo o de produzir no ambiente de trabalho.
Por isso, mais do que postagens demarketing no LinkedIn dizendo "olha só, promovi uma mulher grávida", "valorizo a qualidade de vida do meu funcionário" etc., é preciso realmente agir assim e valorizar as pessoas, e não fazer isso apenas para ganhar likes.
Não adianta atirar "mil pedras" nesse recrutador se você, ao fim e ao cabo, pensa igual a ele, mas só não se expressa dessa forma. O universo corporativo está mudando, evoluindo, e quem não acompanhar as transformações positivas ficará para trás, assim como ele já ficou.