Quem dirige, especialmente nos grandes centros, sabe como é difícil manter a paciência quando alguém te fecha, xinga ou buzina no seu ouvido. O trânsito é algo que testa nossa paciência, sim, só que quem não passa nessa “prova” corre riscos, e riscos graves.Notícias sobre violência nesses casos estampam os noticiários. Recentemente, muitas chamaram a atenção deste blog. No dia 20 de janeiro, no Rio de Janeiro, por exemplos, duas mortes foram registradas em brigas de trânsito. No primeiro caso, um policial militar teria reagido após um desentendimento com um motorista.O empresário e assessor parlamentar Marcelo da Silva, de 49 anos, estava hospedado em um hotel na Barra da Tijuca com familiares. Naquela madrugada, retornou ao local de carro e encontrou uma picape bloqueando a entrada da garagem do estabelecimento. Impaciente, começou a buzinar de maneira insistente. O dono do veículo, o policial civil Raphael Gedeão, encontrava-se na recepção do hotel tentando resolver um problema com o cartão de acesso. Incomodado com as buzinas, ele foi até a garagem, onde a situação evoluiu para uma discussão.Segundo relatos, o empresário se aproximou do policial civil, que sacou uma arma e ordenou que ele se afastasse. Em seguida, disparou contra ele, atingindo-o no abdômen. Marcelo tentou fugir após o primeiro tiro, mas foi atingido por mais dois disparos nas costas e morreu no local. O criminoso foi preso e, em nota, a Polícia Civil repudiou “quaisquer desvios de conduta” de agentes da corporação.No mesmo dia, outros dois homens se envolveram em uma discussão que também culminou em óbito.Esses casos recentes só mostram o agravamento da violência no trânsito e como a morte está, cada dia mais, banalizada. O trânsito deveria ser um espaço de convivência, mas não é. A verdade é que, para muitos, é um campo de batalha. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os países com maior número de mortes no trânsito, e embora muitas dessas ocorram por acidentes, os casos decorrentes de desentendimentos vêm crescendo.De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, episódios de agressão aumentaram cerca de 20% nos últimos cinco anos. Esses números refletem não apenas imprudência, mas também um problema grave de falta de controle emocional.O que leva alguém a perder o controle em um conflito que, muitas vezes, começa com uma simples fechada? A resposta, em parte, está na incapacidade de lidar com frustrações. A pressa, o estresse e a sensação de impunidade alimentam esse tipo de atitude, onde uma ofensa pode se transformar em tragédia em questão de segundos.Mas qual é o caminho para mudar esse cenário? Acredito que a solução passa, primeiramente, pela autorreflexão. Afinal, o trânsito é um ambiente que exige muita paciência. Todos nós, motoristas ou pedestres, estamos sujeitos a erros, e muitas vezes um simples pedido de desculpas pode evitar consequências maiores.Agora, se você faz parte do time dos “esquentadinhos”, vale a pena considerar mudar de comportamento. Se alguém te ofendeu, deixe para lá, porque uma resposta pode ser a causa da sua morte ou da morte de quem estiver com você no veículo. E a pergunta que eu faço é: vale a pena arriscar a sua vida e a de quem você ama por um simples estresse? Se a resposta for não, como imagino que seja, você já sabe o que fazer. Ignore e lembre-se: o mais forte não é aquele que grita mais, mas sim aquele que controla suas reações diante do descontrole dos outros.Além disso, é fundamental investir em campanhas de conscientização e em políticas públicas que reforcem a educação no trânsito. Órgãos como o Detran deveriam se preocupar mais em orientar e educar o público, em vez de se envolver em escândalos de corrupção. Segundo dados do Ministério Público e de operações realizadas pela Polícia Federal, esquemas de corrupção envolvendo a emissão de carteiras de habilitação e a aprovação de veículos em vistorias fraudulentas já movimentaram milhões de reais em várias regiões do país.Nos países com menores índices de violência nas vias, como a Suécia, a tolerância é cultivada desde cedo, nas escolas e no próprio processo de habilitação. Talvez devêssemos nos inspirar nesses exemplos.Manter a calma em momentos de tensão não é apenas uma questão de segurança, mas também de necessidade. No fim das contas, quando estamos atrás do volante, todos queremos o mesmo: chegar bem ao nosso destino. Que possamos refletir sobre essas histórias tristes e repensar nossa postura. Afinal, no trânsito e na vida, o melhor caminho é sempre o do respeito.