Desde sua criação, em 2002, a lei holandesa de eutanásia tem sido alvo de debates; recentemente, uma nova denúncia reacendeu a polêmica. Segundo um estudo da Universidade de Kingston, entre 2012 e 2021, cerca de 40 pessoas que se identificavam como autistas ou com alguma deficiência intelectual fizeram o procedimento. As pessoas consideravam suas aflições barreiras intransponíveis para ter uma vida normal. De acordo com a pesquisa, cinco indivíduos com menos de 30 anos citaram o autismo como motivo para tomar a decisão de acabar com sua vida. Tais declarações trazem dúvidas sobre a intenção original da lei da eutanásia, que inicialmente se concentrava em indivíduos que sofriam de doenças terminais.Questão séria A eutanásia é uma questão delicada, e as estatísticas recentes levantam mais preocupações sobre como a lei é aplicada nos países em que é permitida, sobretudo em grupos vulneráveis. Para muitos, os motivos da eutanásia vão desde doenças físicas até uma solidão insuportável. Essa tendência trazida pelo estudo, de sacrificar indivíduos autistas, levanta sérias preocupações. "Não tenho dúvidas de que essas pessoas estavam sofrendo. Mas a sociedade está correta em aceitar que eles tirem a própria vida?", questiona a especialista em cuidados paliativos e uma das autoras do estudo, Irene Tuffrey-Wijne. O diretor do Centro de Pesquisa de Autismo da Universidade de Cambridge, Simon Baron-Cohen, argumenta que aqueles que almejam a eutanásia podem não compreender totalmente o peso de sua decisão e chama de "abominável" o fato de eles não receberem apoio. Nosso papel Hoje países como Austrália, Nova Zelândia, Áustria, Holanda, Canadá, Suíça, Espanha, Bélgica, França, Portugal e dez estados dos EUA permitem a eutanásia. Cada vez mais, as nações aderem ao procedimento e, por isso, é essencial que haja uma comunicação responsável em torno desse tema tão sensível. Muitas pessoas optam por não falar sobre ele, mas, à medida que a prática aumenta, se faz necessário refletir. Assim, este caso levanta novamente a necessidade do debate sobre a morte assistida e sua relação com a saúde mental. Não podemos julgar quem escolhe esses métodos, mas acredito que nós, como sociedade, podemos ajudar e incentivar outras saídas, mesmo quando diversas possibilidades já falharam. A vida é algo sagrado, e jogar a toalha não deveria ser uma opção. Não podemos simplesmente fechar os olhos para aqueles que não encontram mais forças para lutar e validar o suicídio assistido como algo normal.