“Pô, cara, você não está tocando legal”, disse o produtor para o baterista Marcelo Bonfá, de uma banda que estava gravando seu primeiro disco, a Legião Urbana. O baterista respondeu: “Eu toco bem quando eu quero”. Aquilo foi a gota d’água em um ambiente cercado por momentos de tensão desde o primeiro dia que encontrou com a banda. “Chega!”, respondeu. Levantou e foi embora.Ele era o terceiro produtor daquele disco (os dois anteriores tinham abandonado também). Sua saída poderia ser o fim do disco? O vocalista Renato Russo correu até o estacionamento e implorou para ele continuar o projeto. Debaixo de chuva, ele concordou, mas antes precisava dormir, afinal eram três horas da manhã.Essa e outras histórias estão no livro “Será! – Crises, genialidade e um som poderoso: os bastidores da gravação do primeiro disco da Legião Urbana contados por seu produtor”, de autoria de José Emilio Rondeau, o produtor do primeiro disco homônimo da Legião Urbana, lançado em 1985. A publicação está sendo lançada pela editora Máquina de Livros.Jornalista, crítico musical e produtor de videoclipes, Rondeau se autoconvidou para ser produtor, sem ter ideia do que viria pela frente. “Naquela época, uma pessoa que trabalhava conosco, que era o Tom Leão, era os ouvidos e os olhos do que tinha de mais novo acontecendo. Eu não conhecia o pessoal de Brasília e ele era muito amigos deles. Veio parar na minha mão uma fita cassete demo com 13 músicas. Aquela demo mostrava que alguma coisa ia mudar completamente o panorama do rock brasileiro e eu queria participar dessa revolução”, falou Rondeau, em entrevista ao Enigmas do Rock.Como tinha contato, marcou uma reunião com Jorge Davidson, diretor artístico da EMI Odeon. “Ouvi essa fita demo aqui. Eu só tenho uma credencial anterior de produtor de discos, que é do Camisa de Vênus, mas estou muito a fim de fazer essa produção para a Legião, uma banda que me apaixonei. E me ofereço para o trabalho”, disse Rondeau na sala da gravadora. Davidson respondeu: “Ok!”.A Legião Urbana entrou no estúdio para finalmente gravar seu primeiro álbum meio a algumas turbulências: a linha punk que a banda queria seguir não era a mesma que os produtores queriam; pouco tempo antes de entrar no estúdio, Renato Russo corta os pulsos e Renato Rocha entra na banda de última hora, entre outras.Rondeau diz que havia, sim, divergências entre os integrantes (Russo, Bonfá, Rocha e Dado Villa-Lobos), mas eles se resolviam sozinhos. O problema talvez fosse fora deles. “O Jorge Davidson chegou pra eles e disse: olha pessoal, vamos usar violão no disco?! E aí foi a bomba atômica explodindo”. É claro que os violões foram gravados, passando a ser um instrumento presente não só na obra da Legião, como na sua arte gráfica. Ainda segundo ele, a Legião Urbana entrou de um jeito no estúdio e saiu de outro.E muitas outras histórias estão no livro, que reúne não só as lembranças do autor/produtor, como também dos integrantes da banda e pessoas que faziam parte daquele período de gravação.Rondeau fará o lançamento do livro “Será!” na próxima quarta-feira, 4 de junho, a partir das 19 horas, na Livraria da Travessa Ipanema, rua Visconde de Pirajá, 572, no Rio de Janeiro.Confira no vídeo abaixo a entrevista completa e exclusiva com o José Emilio Rondeau e não deixe de adquirir seu livro.✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp