Em 2022, a startup ainda desconhecida OpenAI lançou o ChatGPT, um chatbot que dava respostas impressionantes e parecia conversar como um humano. Foi o primeiro passo público de uma corrida que já torrou bilhões de dólares em investimentos e até ressuscitou a energia nuclear ao redor do mundo. No meio do caminho, até tornou uma a Nvidia uma empresa instantaneamente trilionária.Mas não demorou tanto assim para outros concorrentes de peso entrarem na disputa: o Google lançou o Gemini, a Microsoft firmou uma parceria com a própria OpenAI e revelou o Copilot. Recentemente, uma startup chinesa pequena também desconhecida lançou o DeepSeek, que abalou o Vale do Silício, ao apresentar uma IA igualmente poderosa, mas de código aberto e muito mais eficiente energeticamente que a concorrente da OpenAI. Agora, o bilionário Elon Musk entrou na disputa e lançou a Grok-3, seu modelo mais recente de IA que prometeu que o produto de sua empresa xAI seria eficiente energeticamente e o mais “livre” de todos, também entrando nesta disputa cada vez mais acirrada.Embora montantes colossais de dinheiro estejam em jogo, tentar prever qual delas pode alcançar alguma dominância, ou mesmo qual seria a melhor para os brasileiros, é uma resposta extremamente complexa.Cada uma delas tem características próprias. Uma delas (ChatGPT) deve se consolidar no meio empresarial, pela aliança com a Microsoft, outra (DeepSeek) pode ser a estrela dos geeks pelo código aberto e menor necessidade de data centers imensos, enquanto o Grok pode atender perfeitamente o público de Musk, envolvido profundamente com as decisões do segundo governo do presidente Donald Trump.No último dia 17, durante a Cúpula Mundial de Governos, em Dubai, Elon Musk apresentou a Grok-3, descrita por ele como “a IA mais inteligente da Terra” e que seria “o máximo em busca da verdade”. Embora seja um empreendedor de sucesso — principalmente com a montadora de carros elétricos Tesla, a empresa de tecnologia espacial SpaceX e a Starlink, que desenvolve enxames de satélite —, Musk também é conhecido por fazer promessas que sabe ser incapaz de cumprir.Por isso, muitos analistas estão com um pé atrás com relação ao lançamento. É o que nos conta Elis Hernandes — Ph.D em Engenharia de Software, e diretora de tecnologia da Marlabs Brasil, empresa especializada em desenvolver soluções digitais —, em entrevista ao blog.“Ainda não há benchmarks independentes amplamente aceitos que confirmem a alegação de superioridade do Grok-3 sobre outros modelos líderes do mercado. O desempenho depende da arquitetura do modelo, do tamanho do conjunto de dados utilizado no treinamento e da qualidade da informação processada.”, afirma Elis Hernandes.Apesar de ainda ser novata, a Grok-3 pode mudar como outros modelos de IA funcionam, com abordagens mais flexíveis e menos barreiras de segurança.“É possível que outros concorrentes adotem abordagens mais flexíveis para geração de conteúdo. É viável desenvolver modelos personalizados, ajustados às necessidades específicas de um cliente, utilizando engenharia de prompt e treinamento refinado. Independentemente da abordagem, todas as grandes desenvolvedoras de IA estão sujeitas a regulações e diretrizes de uso responsável”, completa a especialista em engenharia de software.Até o final de janeiro, praticamente ninguém fora da China conhecia a startup DeepSeek. Foi nesta época que a empresa causou um terremoto no mercado de tecnologia, com o lançamento de seu modelo de IA. O lançamento veio acompanhado de um artigo intitulado “DeepSeek-R1: Incentivando a capacidade de raciocínio em LLMs via aprendizado por reforço”.Segundo o artigo, o modelo de IA usa chips de segundo escalão e apenas uma fração do dinheiro e da energia usados pelos data centers que rodam o ChatGPT no aprendizado. Inicialmente, as descrições foram recebidas com certo ceticismo pelo Vale do Silício, mas não demorou para todos entenderem que a DeepSeek não era uma farsa.O resultado foi uma queda generalizada nas ações de gigantes do setor — só a Nvidia perdeu US$ 465 bilhões em valor de mercado em um único dia. Apple e Microsoft também experimentaram quedas vertiginosas do preço das ações, cerca de 16%.Mas a DeepSeek pode ser apenas o começo da chegada de concorrentes chineses de peso. Nas últimas semanas, gigantes como Alibaba e Tencent já anunciaram o lançamento de seus próprios modelos de IA, o que pode colocar a OpenAI e Microsoft em apuros.“O DeepSeek se destaca por sua proposta de código aberto e eficiência computacional, mas a melhor alternativa sempre depende do caso de uso específico. Além dele, há outros modelos competitivos, como os da Alibaba, Falcon, Llama 3 (7B), Bloom e outros disponíveis”, explica Elis Hernandes.Como o Brasil ainda não deu sinais de que pode tentar competir nesse mercado, cabe tentar entender se existe alguma alternativa que se encaixa melhor — ainda mais em um momento em que as big techs são encaradas com extrema desconfiança por seu crescente papel político global.“A escolha do melhor LLM para o Brasil depende do objetivo e da necessidade específica da aplicação. Modelos como o DeepSeek podem ser vantajosos pelo custo, enquanto Grok-3 e ChatGPT oferecem funcionalidades avançadas. Para determinadas tarefas, modelos menores e mais rápidos podem ser a melhor opção. A decisão deve considerar fatores como disponibilidade de dados em português, custo computacional e personalização para o contexto local”, completa Hernandes, PhD em Engenharia de Software.