Mãe faz vaquinha para tratar filha com síndrome rara
Menina de três anos gosta de cor-de-rosa, ama bonecas e, em estado grave, pede tábua de passar e mini ferro de presente
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Juracy Araúna já não sabe mais o que fazer para vencer a luta contra uma síndrome rara que acomete sua pequena Toninha. Tudo começou quando Juracy percebeu que, à medida que Toninha crescia, demonstrava cada vez mais interesse por tudo que era cor-de-rosa. A despeito de todos os seus esforços para que a menina não fosse influenciada a ser... menina, como comprar roupinhas verdes, pintar o quarto de cinza e só oferecer brinquedos de menino, sua amada filha não estava correspondendo.
A coisa se agravou quando, em seu aniversário de dois anos, um desavisado qualquer lhe deu uma boneca de presente. Os olhos de Toninha brilharam ao ver aquela “aberração”, mas antes que a mãe pudesse esboçar qualquer reação, a menina abraçou e ninou aquele pedaço de borracha ridículo como se fosse um bebê. Que tristeza ver aquele símbolo de opressão nos braços de uma criança inocente... Não dava mais para ignorar, a situação era grave e exigia medidas extremas. Era hora de enfrentar a dura realidade e procurar ajuda médica.
Porém, nenhum médico apresentou qualquer diagnóstico, ao contrário, olhavam para Juracy com um ar de que não estavam entendendo nada. Maus profissionais estão em todo lugar, não é mesmo? Mas eis que uma amiga de cabelo verde e franjinha no meio da testa disse a Juracy que havia um tratamento alternativo em uma clínica “children friendly”.
Foi lá que diagnosticaram a pequena Toninha com “princípio de intolerância à convivência diversa e plural”. O tratamento: internação imediata! Juracy nunca havia se separado de seu rebento, mas era preciso ser forte. Mais ainda porque ela começou a se sentir culpada por ter registrado chamado sua filha, desde que nasceu, de “menina”. A criança estava doente e era tudo culpa dela! “Por que me deixei levar pela pressão da sociedade patriarcal? Por quê? Perdão, ‘filhe’, perdão, ‘minhe menine’!”, gritava Juracy agarrada a Toninha.
Semanas depois, a “menine” volta para casa e os terapeutas dizem que, por ser ainda bem “pequene”, “ile” já havia esquecido da boneca, estava curtindo atirar coisas nas outras crianças e ainda havia aprendido a xingar palavrão. Era tão lindo ver a criança falando aquelas coisas que deixavam todo mundo chocado! Toma essa, sociedade! Porém, a alegria de Juracy durou pouco...
Para comemorar o aniversário de três aninhos de Toninha, Juracy a levou a uma loja de brinquedos. Foi então que o pior aconteceu: inesperadamente, a “menine” levantou a mãozinha e apontou para um jogo de tábua de passar e mini ferro, dizendo: “’Quelo exi, mamain’!” Juracy sentiu o chão se abrir bem debaixo de seus pés. Sua cabeça girava e as vozes que ouvia pareciam distantes, até que recobrou os sentidos e viu “sue pequene” chorando copiosamente, porque uma vendedora de cabelo colorido arrancou o mini ferro da mão da criança.
“Eu tentei, ‘amigue’”, disse a vendedora apavorada, “eu tentei dar esse boneco do Felício Nelson que fala ‘nazista, fascista, genocida’, está vendo? É só apertar a barriga tanquinho dele bem aqui, olha que graça! Mas não teve jeito, ela quer o ferro de passar... Sinto muito!”
Não resta outra a não ser internar Toninha novamente. O problema é que a tal clínica não é nada barata. Mas Juracy está disposta a largar tudo para salvar a criança antes que seja tarde demais. Por isso, ela lançou uma vaquinha on-line, com a qual pretende levantar um milhão de reais. Eu sei que parece muito, mas a síndrome é rara e pode ser contagiosa. Colabore você também, participe com qualquer quantia e ajude a Juracy a colocar a hashtag #SalveToninha nos trending topics. Não é apenas por Toninha, é por um mundo melhor!
Esta crônica é uma ficção, mas poderia não ser...
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