Os preços pagos aos produtores brasileiros de alho recuaram nos últimos três meses. É que há oferta maior de alho nacional, com a colheita em Minas Gerais e Goiás. “De fato os preços começaram a cair a partir de junho e julho com a colheita do Centro-Oeste”, disse Rafael Corsino, presidente da Anapa, a Associação Nacional dos Produtores de Alho. E a queda foi acentuada.Como consequência da maior oferta, já que Minas e Goiás – os maiores produtores de alho do Brasil – iniciaram a colheita em junho, a cotação do produto no atacado cedeu nos grandes centros de comercialização. No Ceagesp, entreposto de São Paulo, no final de junho o quilo do alho tipo 7 no atacado estava cotado em média a R$ 33,60, mas em meados de setembro já recuava para R$ 28,53 em média, baixa de aproximadamente 22%. E o produtor também amargou recuo dos preços: em junho no campo as vendas estavam na faixa R$ 23,00 o quilo (no mínimo R$ 22,00), mas na primeira quinzena de setembro não passava de R$ 18,00, ou seja, também cerca de 22% menos.Em média, os brasileiros consomem 2,5 milhões de caixas de alho de dez quilos todo mês, um consumo anual de mais ou menos 30 milhões de caixas, segundo estimativa da associação dos produtores. A produção, no entanto, não acompanha essa demanda. Em 2023, o país teria produzido apenas 18,5 milhões de caixas, ou 61% do que consome. Outras 12 milhões de caixas vieram de fora. Essa dependência de importação, no entanto, já foi maior.Aliás, o Brasil tem sido um dos grandes importadores mundiais de alho. Em 2019, o país foi segundo maior comprador no mercado internacional, respondendo por 8% das importações totais do planeta. De 2019 a 2023, as compras no Exterior diminuíram em mais de 30%, segundo a Conab, a Companhia Nacional de Abastecimento. É que a produção no país aumentou.A produção brasileira evoluiu 52,4% entre 2018 e 2022, graças à tecnologia de alho-semente livre de vírus (ALV), desenvolvida pelo programa de melhoramento genético da Embrapa Hortaliças, em parceria com a Anapa. “Essa tecnologia consiste em retirar todo o complexo viral do alho. A planta se regenera e produz muito mais que uma planta com vírus”, explica Corsino, que é também é produtor num Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, próximo a Cristalina (GO).Com a tecnologia ALV a produtividade saltou de 12/14 toneladas para 20 e até 25 toneladas por hectare. “Cerca de 10 anos atrás o Brasil só conseguia produzir 25% de seu próprio consumo; e nós quase chegamos a produzir 70% em 2022″, lembra Corsino. Mesmo assim o país continua dependendo de importação.As compras brasileiras de alho no Exterior ocorrem principalmente nos primeiros meses do ano, já que os maiores estados produtores, Minas Gerais e Goiás, só começam colher a partir de junho. Este ano, dados da Conab apontam importação em média de mais de 1,55 milhão de caixas de 10 quilos por mês até junho.A Argentina tem sido a grande fornecedora de alho para o Brasil. Nos últimos cinco anos, respondeu por quase 59% do produto que o país importou e aumentou em 11,8% seu fornecimento para o mercado nacional.Entre 2019 e 2023, a China forneceu quase 33% do total, mas vem reduzindo suas vendas em quase 60%. Entre os cinco maiores fornecedores, a Espanha respondeu por 5% nos últimos anos, mas vem diminuindo as suas vendas.Como alguns países diminuem a oferta, a Argentina avança no mercado brasileiro. Segundo a Conab, em 2024 esse país forneceu quase 83% de todo alho importado. E os produtores brasileiros do Sul sentem, ano a ano, a invasão do alho argentino no Brasil e diminuem a área plantada, como lembra Everson Tagliari, presidente da Associação Catarinense dos Produtores de Alho. Colaborou Lucas Limão