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Trilha do Agro

Preço do leite pago ao produtor sobe mais de 30% em 2024

Só em maio o pecuarista recebeu 10% mais pelo leite. Ainda assim, 5% abaixo do ano passado

Trilha do Agro|Valter Puga JrOpens in new window

O preço médio pago ao produtor rural pelo leite cru entregue aos lacticínios já aumentou mais de 30% de janeiro para cá, em valores reais (deflacionados pelo IPCA de maio). São sete meses seguidos de alta no preço pago pelo leite que vem do campo. Em maio, pecuarista brasileiro recebeu em média R$ 2,7114 por litro, ou seja 9,8% mais se comparado a abril, como aponta o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o Cepea/USP.

Melhorou muito para o produtor? Nem tanto. Apesar da alta acentuada nos preços pagos pelo leite cru, o valor médio recebido ainda está 4,82% abaixo comparado com o mesmo mês do ano passado (em termos reais). Além disso, produzir leite ficou mais caro em maio.

Após três meses em queda, o custo médio para produção de leite nas fazendas aumentou 1,7% em maio, como constataram os pesquisadores da Embrapa Leite, de Juiz de Fora, em Minas Gerais. E mesmo acumulando redução de 3,2% nos primeiros cinco meses deste ano, os dados do ICPLeite/Embrapa – Indice de Custo de Produção Leiteira -- apurados em maio sinalizam que o pecuarista não pode contar com novas baixas nos custos daqui para frente.

É que entre os sete grupos de custos nas fazendas de leite que compõem o ICPLeite/Embrapa, nenhum teve diminuição em maio. Somente os gastos com “mão de obra” e “minerais” ficaram inalterados. Os custos com “energia e combustíveis” subiram 5,7%; o que avalia “qualidade do leite” aumentou 2,8%. E os gastos mais pesados na composição de custos nas fazendas subiram: o grupo de “volumosos”; aumentou 2,3% e o de “concentrados” subiu 1,8%. Até o custo com “sanidade e reprodução” também subiu.


POUCO LEITE NO MERCADO -- O que explica a alta dos preços é a redução da produção. Os pecuaristas reduziram os investimentos da porteira para dentro no final de 2023, houve um avanço da entressafra no Sudeste e Centro-Oeste, e um atraso da safra no Sul, limitando a oferta de leite cru. Para piorar a situação, houve “impacto negativo das enchentes do Rio Grande do Sul sobre a produção de lácteos gaúcha e o aumento pontual da demanda devido aos donativos no estado que criaram especulação e elevaram as incertezas, dificultando o dimensionamento do mercado em maio”, dizem os pesquisadores do Cepea/USP.

O volume de leite entregue ao mercado aumentou apenas 0,14% entre abril e maio, mas ainda é 7,7% menor desde o início do ano, como aponta o ICAP-L, o Índice de Captação Leiteira elaborado pelo Cepea/USP. Oferta menor de leite levou a um acirramento da disputa entre laticínios e cooperativas pelo pouco produto disponível. E a alta no preço foi inevitável.


CONSUMIDOR NÃO PAGA A CONTA – Os preços mais altos pagos pelo leite no campo refletem rapidamente nas negociações entre indústrias e o varejo, com aumento dos preços dos produtos lácteos. Pesquisa do Cepea e da Organização das Cooperativas Brasileiras (a OCB) sobre as negociações da indústria e os varejistas, mostra que em maio o preço do leite UHT subiu em média 5,1%, a muçarela aumentou 5,9% e leite em pó fracionado (400g) ficou 4,5% mais caro.

Os preços dos derivados lácteos continuaram avançando até a primeira quinzena de junho e, de novo, afastaram o consumidor brasileiro, limitando para a indústria o repasse da alta dos custos da matéria prima para os distribuidores. Já nas últimas semanas de junho, os preços de negociação de lácteos para o varejo tendiam a retornar aos valores de maio. Os lacticínios ajustam agora as margens que obtém com derivados lácteos, pois os varejistas mostram que o consumidor não suporta pagar a conta.


A Associação Brasileira dos Supermercados, a ABRAS, aponta que numa cesta composta por 35 produtos de largo consumo, os preços tiveram em média alta de 0,84% em maio. E num recorte de 12 produtos básicos da alimentação nas gôndolas, de abril para maio a maior alta foi a do leite longa vida (o chamado UHT), que ficou 5,36% mais caro, acima do arroz (+1,47%), da farinha de trigo (+0,93%), da farinha de mandioca (+0,32%) e do óleo de soja (+0,13%).

PECUARISTA SERÁ PRESSIONADO – O mercado de leite e lácteos tende a reajuste de preços a partir de julho, com até uma redução dos preços pagos ao pecuarista. Esse movimento altista nos preços do leite pago ao produtor deve perder força, como sinalizam os pesquisadores do Cepea/USP. As margens melhores de lucro tendem a estimular a produção de leite cru (mesmo lentamente), aumentando a oferta de matéria prima para os lacticínios e, consequentemente, de derivados lácteos aos varejistas a preços mais baixos. E, é de se esperar, reduzindo os preços pagos ao produtor no campo.

Mas além dos custos em alta na fazenda, o produtor rural ainda enfrentará a pressão causada pela importação de lácteos. A Secretaria de Comércio Exterior, a Secex, informou que as compras externas de lácteos em maio recuaram 23,6%, ou cerca de 150 milhões de litros em equivalente leite. Apesar disso, as importações ainda são em volume mais que o dobro do adquirido no exterior em maio de 2022. E mesmo com essa redução, de janeiro a maio, o volume importado somou 923 milhões de litros em equivalente leite, o que é 5,1% a mais que no mesmo período de 2023. Como alertam pesquisadores do Cepea/USP, essas importações continuam sendo um fator de incerteza para o mercado... E o pecuarista sob pressão.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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