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'Absolvição repugnante', diz advogado da família de mulher arrastada por PMs no Rio

Em 2014, a auxiliar de serviços gerais Cláudia Ferreira morreu após ter sido baleada em uma comunidade da zona norte

Rio de Janeiro|Da Agência Brasil

Caso ocorreu em 2014
Caso ocorreu em 2014 Reprodução/Record Rio

"A absolvição foi repugnante". Assim classifica o advogado João Tancredo, que representou a família da auxiliar de serviços gerais Cláudia Ferreira no processo cível movido contra o estado do Rio de Janeiro, após ela ser morta por policiais militares e ter seu corpo arrastado por uma viatura policial, em 2014.

"Na parte criminal, a absolvição foi repugnante. Tanto na parte cível como criminal, os resultados trazem o sentimento de impunidade e revolta", disse em nota divulgada nesta quarta-feira (20).

O TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) absolveu os seis policiais militares envolvidos no caso. O processo tratou de duas acusações: o assassinato e a remoção do corpo de Cláudia do local do crime.

O juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira entendeu que os agentes agiram em legítima defesa, em confronto com criminosos, e não tiveram intenção de matá-la quando a balearam perto de sua casa, no morro da Congonha, na zona norte do Rio de Janeiro.


O caso ganhou grande repercussão devido a um vídeo que mostra o corpo de Cláudia pendurado na viatura e arrastado no asfalto por cerca de 300 metros.

Nesse caso, a Justiça entendeu que os policiais o colocaram na viatura em uma tentativa de socorrer Cláudia, levando-a a uma unidade de saúde.


Danos morais

Além do processo criminal, a família processou o estado do Rio de Janeiro pelos danos que o crime deixou. Foram ajuizadas duas ações: uma delas contendo a mãe e dois irmãos; e, outra, viúvo, os filhos, filhos de criação, sobrinhos e outra irmã.

"A indenização não foi nada satisfatória. O Alexandre (viúvo) e os filhos fizeram um acordo extremamente lesivo, forçados pela Secretaria de Direitos Humanos da época, então governo do Pezão. Fizeram um acordo muito ruim, não orientado por nós", lembra João Tancredo.


"Entramos com uma ação da mãe e dos irmãos. A mãe fez um acordo de R$ 50 mil pela Defensoria Pública, e, aos irmãos, a Justiça concedeu R$ 50 mil para cada um por dano moral. Uma quantia irrisória pela gravidade do fato. Neste caso, a família foi arrasada. Perde a Cláudia de maneira violenta e a família recebe uma ninharia de indenização", critica o advogado.

Repúdio

A absolvição dos policiais causou indignação na família de Cláudia e em movimentos de defesa dos direitos humanos.

“Eu fiquei sem palavras, sem reação. Difícil, né? Foi injusto. Foi injusto desde o começo. Só repercutiu por causa de uma falha deles, o fato de o corpo dela ter sido arrastado. Se não fosse isso, não iria dar em nada. Só deu por causa da gravação”, disse Thais Ferreira da Silva, filha de Cláudia. 

Diretora-executiva da organização civil Criola, Lucia Xavier se disse chocada.

"Nenhuma responsabilidade (foi) atribuída aos policiais que mataram e arrastaram o corpo de uma mulher negra, mãe e trabalhadora", comentou.

A Anistia Internacional no Brasil disse que a notícia trouxe "tristeza e desalento". A instituição criticou a decisão do juiz e destacou o uso que ele fez da palavra "erro de execução," ao citar os tiros que teriam atingido Cláudia por engano.

Segundo a Anistia, esses erros se "repetem contra as mesmas pessoas e destroem as mesmas vidas, as mesmas famílias". Para a organização, o caso mostra mais uma vez a desumanização da vítima e das pessoas negras.

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