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Sem depender de reservatórios, Itatiaia enfrenta problemas para administrar água

Cidade de 28 mil habitantes não tem, sequer, um serviço responsável pelo saneamento básico

Rio de Janeiro|Fernando Mellis, do R7


Em meio à crise hídrica que assola o Sudeste, Itatiaia (RJ) sempre viveu um cenário que poderia ser classificado de “independência de água”. Isso porque a cidade de 28 mil habitantes não usa a mesma fonte de captação das vizinhas: o rio Paraíba do Sul. As nascentes dentro do Parque Nacional do Itatiaia são suficientes, em períodos de chuvas regulares, para abastecer todos os moradores e os cerca de 7.000 turistas que visitam o município todos os meses. Além disso, ninguém paga conta de água.

Mas a cidade ser autossuficiente em água, não significa que todas as calçadas em Itatiaia sejam lavadas com mangueira diariamente. O município enfrenta problemas de tratamento, distribuição e armazenamento. Em algumas épocas do ano, já chegou a haver rodízio. A ausência de uma conta no fim do mês é um dos motivos.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Domingos Baumgratz, conta que, desde que Itatiaia se emancipou de Resende, há 25 anos, “pouco foi, de fato, investido na questão de saneamento básico”.

— As nossas redes de água e esgoto são limitadas. O ideal é que, depois da captação, haja reservatórios, o que não acontece na região central. Nossa tubulação não é pressurizada. O sistema de cloração com pastilhas não é hoje o mais adequado.


Sem doer no bolso, há quem exagere. O R7 flagrou, por exemplo, um imóvel de médio porte com três caixas d’água de 25 mil litros. O secretário diz que isso prejudica outros consumidores e que a água de graça em Itatiaia está com os dias contados.

— É inevitável que todos paguem água no futuro. A tarifação é em função do uso. Mas existe, para a população de baixa renda, a tarifa social. O que muda, e aí o comércio tem que entender isso, é que alguém que tem uma reserva de água de 75 mil litros vai pagar por isso.


A prefeitura da cidade começou a dar andamento ao Plano Municipal de Saneamento Básico, elaborado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, e que prevê uma completa restruturação do atual sistema. Um serviço autônomo de água e esgoto será instalado na cidade. As obras serão feitas primeiro na região turística de Penedo.

Abastecido por água da Fazenda da Serra — um curso d’água que foi represado, inicialmente para abastecer a Academia Militar de Agulhas Negras —, Penedo, onde vivem cerca de 5.000 pessoas, concentra um grande número de pousadas. O projeto prevê organizar a captação, o tratamento, o armazenamento e a distribuição da água, além da implantação de novas tubulações. O custo deverá superar os R$ 4,2 milhões, dinheiro disponibilizado pelo Estado. Se tudo correr conforme o cronograma, Baumgratz espera que até o fim de 2016 as obras estejam terminadas.


Ainda não há um projeto específico para a região central. Segundo o secretário, deverá levar mais tempo até que seja readequado o sistema de água das 20 mil pessoas que vivem lá. Quando isso acontecer, todos passarão a pagar pela água.

A notícia não agrada muito a aposentada Regina Valdetaro.

— Se pagar, eu vou pagar e não vou ter uma água de qualidade garantida. Então, eu prefiro não pagar.

A cabeleireira Ana Maria Ribeiro também concorda que a tarifa pode não ser bem-vinda.

— Eu gostaria de nunca ter que pagar. Para o meu negócio, será um custo a mais.

Mas o secretário explica que não há mais como manter a situação do jeito que está.

— A partir do momento em que nós implantarmos uma empresa para tratar da gestão do saneamento básico, implantar os sistemas, rede e tudo isso, não tem como deixar de realizar a cobrança de água. A lei nos obriga. É essencial para que se possa ter até uma sobrevida. 

Baumgratz aposta que a conta no fim do mês seja mais um estímulo para fazer com que as pessoas tenham consciência sobre o uso da água. A crise hídrica no Sudeste serviu como um alerta, segundo ele. 

— A natureza foi muito elegante com Itatiaia. Tem a serra, a mata exuberante e tem os mananciais, que não precisamos depender da água do rio Paraíba do Sul. Apesar desse privilégio todo, a natureza não escolhe lugar, nem hora. Nós também, em período de estiagem, tivemos problemas de abastecimentos por três anos consecutivos. Além das obras necessárias, as pessoas precisam economizar.

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