Albergue de inverno é inaugurado em SP sem fogão e lençóis
Espaço foi montado às pressas pela prefeitura para atender moradores de rua da cidade
São Paulo|Gustavo Basso, do R7
Inaugurado às pressas nesta quarta-feira (19) pela Prefeitura de São Paulo, o primeiro albergue de emergência de inverno ainda não conta com itens básicos para receber os moradores em situação de rua durante o período de temperaturas baixas. Nas primeiras horas de atendimento, faltavam lençóis para os 422 leitos, além de fogão, lavanderia, sacos de lixo e papel higiênico.
A primeira estrutura do PEI (Programa Emergencial de Inverno) foi inaugurado ainda em montagem na rua Comendador Nestor Pereira, no bairro do Pari, região central da capital, com a presença do prefeito João Doria. O espaço foi planejado e montado em menos de 48 horas. Um dia antes, um morador de rua morreu na rua Doutor Arnaldo com suspeita de hipotermia, em uma tarde na qual a cidade registrou média de 7,6ºC, considerada a mais fria do ano até agora.
A reportagem do R7 estava no local durante sua abertura ontem, às 19h, para verificar se as promessas de Doria anunciada horas antes seriam cumpridas.
Enquanto os moradores de rua chegavam, funcionários da prefeitura ainda montavam a estrutura. O local contava na noite de ontem com 422 camas - 58 para mulheres, em dormitórios, e 364 para homens, em um galpão de cerca de 600 m². A quantidade de leitos disponíveis estava abaixo dos 460 anunciados; a prefeitura promete a disponibilização de mil leitos até o fim da semana que vem.
Nas primeiras horas, o espaço também não contava com cobertores para todos os leitos, mas o problema foi resolvido antes da primeira noite, quando cobertores que foram levados por engano para uma ação de distribuição foram trazidos de volta. Segundo o pastor adventista responsável pela administração do espaço, Daniel Donadelli, toalhas e travesseiros, que também estavam em falta, foram levados na primeira noite. Apesar disso, as camas foram montadas somente com cobertores, sem lençóis, e não há previsão para que isso seja remediado.
O principal problema, no entanto, estava na cozinha. Sem um fogão, os albergados receberam suco e sanduíche frio com presunto e queijo. “Nossa ideia para hoje era servir um caldo, mas como ainda não há fogão, improvisamos com comida fria”, comentou Donadelli, que falou na manhã de hoje que está complicado resolver o problema dos fogões.
A secretaria de Investimentos Sociais afirma que o fogão será entregue ainda nesta quinta-feira, e que as roupas de cama serão disponibilizadas até sábado.
Satisfação
Apesar disso, os cerca de cem usuários da primeira noite se mostravam satisfeitos com o serviço oferecido pela prefeitura.
A reportagem conversou com albergados que preferiram não se identificar. Um deles afirmava que “o espaço está muito bom. Mas o Boracéia [centro de acolhida na região da Barra Funda] também estava quando abriu, e hoje está lotado”. Leonardo foi expulso do CTA (Centro Temporário de Acolhimento) vizinho à nova estrutura por brigar com um convivente e um funcionário, e também estava satisfeito com a estrutura. “Noite passada dormi em uma praça no Pari mesmo. Na rua, a gente aprende a se aquecer com o que tem, mas ontem estava muito frio”.
A improvisação também era visível na montagem do refeitório e solda de chapas de metal, que ainda eram realizados enquanto alguns albergados tentavam dormir. O secretário de Investimentos Sociais, Cláudio Carvalho defendeu a abertura apesar da falta de preparo do albergue.
— A questão é de sobrevivência. Não dá pra deixarmos uma pessoa passar frio na rua para esperar montar uma estrutura. Então eu prefiro me antecipar e ir montando - e acho que está muito bem adequado o que está aqui hoje. Estamos agora instalando as chapas de metal para isolar o alojamento masculino do vento e da chuva.
Carvalho ainda comentou a necessidade de planejar a instalação de uma lavanderia no espaço, que foi elogiado pelos moradores de rua usuários da área.
O plano da secretaria de Investimentos Sociais é, após o fim do inverno e, consequentemente, do PEI, transformar o antigo galpão almoxarifado da Ilume em mais um CTA, montado com contêineres.