Artista Fernando Rockert apresenta a mostra "Na Pele" com técnica de pirogravura
Trabalhos foram inspirados em provérbios de tribos indígenas de diversas partes do mundo
São Paulo|Do R7
A partir de amanhã (3), o artista plástico Fernando Rockert apresenta em São Paulo a exposição "Na Pele". São dez painéis com gravuras feitas em couro, inspirados na cultura de tribos indigenas de diversas partes do mundo. "São provérbios que remetem à sabedoria e ao conhecimento indígena, que, ao meu ver, é um povo milenar e que, de forma especial, sempre soube viver de maneira equilibrada na Terra", disse o artista.
A exposição "Na Pele" fica enm cartaz na galeria da Livraria Fnac, em Pinheiros, até o dia 28 de novembro, com entrada gratuita. O endereço é rua dos Omaguás, 34, Pinheiros.
É a primeira mostra individual do artista plástico e também tatuador Fernando Rockert, que viveu um tempo em Kuala Lumpur, na Malásia. Confira a entrevista exclusiva com Rockert.
A curadoria é da Thaís Gregório, que também dividiu a produção com o Thyago Decker. Confira a entrevista exclusiva com o artista Fernando Rockert sobre a exposição "Na Pele", no Universo Fnac.
R7: Como foi o seu contato com essa técnica de gravar no couro?
Fernando Rockert: Meu primeiro contato profissional com essa técnica deu-se através da sugestão de uma amiga, Flavia Prupest, que, sabendo de um trabalho pessoal de longa data relacionado ao Desenho, sugeriu uma parceria de bolsas "tatuadas" entre mim e uma marca chamada Xaa, da qual inclusive me tornei sócio posteriormente. A partir dessa idéia, veio o encontro com Júlia Alcântara, da Xaa e passei a pesquisar equipamentos e a realizar uma série de testes em diferentes couros, a fim de compreender a sensibilidade do material, de me aperfeiçoar nessa relação do desenho com o couro e no ato de nele gravar algo permanentemente.
R7: Quantos painéis compõe a Exposição e qual a dimensão das obras?
Fernando Rockert: A Exposição é composta por dez painéis em couro de diferentes texturas e cores, com dimensão média de 100x80cm.
R7: O público vai poder tocar a obra para sentir o relevo e a textura do trabalho?
Fernando Rockert: O público poderá tocar em algumas obras, que estarão, propositalmente, desprovidas de proteção frontal, justamente para que os visitantes sintam a textura do couro e da queima através do tato.
R7: A inspiração em provérbios indígenas remete a grupos nativos de várias partes do mundo ou são de tribos brasileiras?
Fernando Rockert: Os provérbios indígenas que me inspiraram para essa minha primeira mostra de pirogravuras são provenientes de diversas tribos espalhadas mundo afora. São provérbios que remetem à sabedoria e ao conhecimento indígena, que, ao meu ver, é um povo milenar e que, de forma especial, sempre soube viver de maneira equilibrada na Terra.
R7: O couro usado nos seus painéis passa por algum tipo de tratamento especial?
Fernando Rockert: Nos meus trabalhos uso apenas o couro e a pele humana como suportes, onde as marcas deixadas por mim, enquanto artesão ou tatuador, permanecerão quase que eternamente. Para a criação de obras artísticas ou de acessórios artesanais, cada couro passa por um processo de curtimento específico, para depois acontecer o processo de gravação, sem inserção de tintas ou similares e sim com a extração de matéria. Para mim, é como se o desenho já existisse naquela peça de couro e eu apenas limpasse a superfície.
R7: Você também é tatuador e nas últimas décadas a tatuagem ganhou também um status de Arte. Como você começou a tatuar e quais estilos você mais gosta?
Fernando Rockert: A minha paixão pela tatuagem e adornos na pele começou muito cedo. Na infância já desenhava sobre minha própria pele e de amigos, chegava a comprar e aplicar tatuagens temporárias e sofria quando elas desapareciam da pele. Aos 13 anos já tinha feito minha primeira tatuagem. Em 2008, deixando o trabalho de Fotógrafo um pouco de lado, comecei a trabalhar como Assistente Geral do tatuador Jun Matsui, que têm uma estética black work muito forte e nessa experiência nasceu a vontade de aprender a tatuar.
Em 2014 recebi o convite do tatuador Fábio Pimentel para integrar a equipe do Black Ball Crew Tattoo e Estúdio, onde desde então tatuo profissionalmente. A estética tribal sempre me chamou atenção, pela força gráfica e leitura nítida, sempre me agradou o "preto no branco". Busquei diferentes estilos de desenhos e etnias, inclusive dos países onde morei, criando uma miscigenação de referências culturais, artísticas e estéticas tribais diversas num mesmo desenho, até que isso me levou ao que apresento e faço hoje em dia.
R7: Após a exposição, as obras serão vendidas ou incorporadas ao acervo de algum museu ou galeria?
Fernando Rockert: As obras estarão à venda durante o período de exposição em São Paulo, que depois seguirá itinerante, em outros estados brasileiros e finalizando, possivelmente em Portugal, mas estou aberto a convites de galerias ou museus que queiram essas ou novas obras para comercialização ou acervo.