Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

'Cataflix': catadores apresentam série sobre reciclagem

Criada pela Pimp my Carroça, série promove diálogo sobre o trabalho dos coletores de materiais recicláveis. Primeira temporada tem cinco episódios

São Paulo|Mariana Morello*, do R7

A catadora Anne Caroline é uma das apresentadoras do Cataflix
A catadora Anne Caroline é uma das apresentadoras do Cataflix A catadora Anne Caroline é uma das apresentadoras do Cataflix

O Cataflix, uma série que promove o diálogo entre quem gera resíduo de reciclagem e quem trabalha fazendo a gestão desse material - os catadores -, foi lançada pela ONG Pimp my Carroça. Apresentado por dois catadores e hospedado dentro do canal no Youtube da ONG, o projeto conta com parceria da Nestlé e apoio do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O episódio piloto já está no ar e aborda a importância do catador. A narrativa está sob o comando da catadora Anne, da zona norte de São Paulo, e do catador Carlos. A partir do segundo episódio, Anne divide o holofote com Carlão que, apesar de ter o mesmo nome, é outro Carlos e trabalha na região da zona leste.

A iniciativa começou no início do ano com a criação de um programa de desenvolvimento e de formação para coletores. Mas que, por causa da pandemia, precisou ser transformado em outro projeto. Eram aulas presenciais sobre saúde, redes sociais, legislação e empreendedorismo.

O curso teve que ser suspenso, mas a equipe ainda acreditava que algo deveria ser feito, como conta João Bourroul, coordenador de comunicação da ONG e roteirista da primeira temporada da série.

Publicidade

Para ele, o diálogo entre essas partes da reciclagem precisa existir. Ainda segundo João, um não vive sem o outro, o catador precisa do gerador e o gerador precisa do catador.

"Acreditamos muito na força da empatia%2C então se você não entende como é o trabalho do catador%2C como é o dia a dia dele%2C quantos quilos ele carrega%2C você não vai ter a noção dos desafios desse trabalho"

(João Bourroul)

Cataflix

O Cataflix é gravado em São Paulo e os dois apresentadores também vivem e trabalham na capital. No entanto, o objetivo é ter um caráter nacional, porque tanto o Pimp my Carroça como o Cataki (aplicativo de reciclagem criado pela ONG) têm essa característica. "Nós pedimos para vários catadores da nossa rede de contatos, que trabalham com a gente, para mandarem vídeos relacionados ao tema do episódio", conta João.

Publicidade

Promovendo uma reciclagem mais inclusiva e uma relação mais empática entre a sociedade e esses trabalhadores, que são responsáveis por coletar 90% de tudo que o Brasil recicla, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a primeira temporada tem cinco episódios.

Carroça estilizada com o logo e as cores do Cataflix
Carroça estilizada com o logo e as cores do Cataflix Carroça estilizada com o logo e as cores do Cataflix

Os vídeos têm um tema específico e são destinados tanto para o catador quanto para quem pode contratar esse serviço. O objetivo do projeto é proporcionar mais conhecimento para o profissional e educar a sociedade sobre o papel do trabalhador. 

Publicidade

Já o segundo capítulo aborda a relação do profissional com a covid-19, e como a proteção e segurança deles não depende só dos catadores, mas também é responsabilidade dos geradores de resíduo. Além de ensinar como entregar o material de forma adequada aos profissionais.

"A história dessa profissão se confunde muito com a da sociedade, nossa relação com o consumo, desenvolvimento tecnológico, desigualdade social", afirma Bourroul. Outro ponto especial da série, a cada episódio um grafiteiro faz uma arte exclusiva que fica como cenário do programa e "no fim do episódio colocamos um depoimento do artista explicando porque ele fez aquele desenho, como foi o processo criativo", finaliza.

Apresentadores

Anne Caroline tem 28 anos, trabalha com reciclagem há três junto com o marido Lucas e o sonho dela é ser jornalista. Bem humorada e à vontade em frente às câmeras, Anne guia o espectador durante a maior parte do primeiro episódio sob o título 'Sou catador com muito orgulho!'. 

Anne durante gravação para o programa
Anne durante gravação para o programa Anne durante gravação para o programa

A jovem foi escolhida para apresentar a série porque já fazia um trabalho similar em seu perfil do Instagram. Anne usa a plataforma para orientar as pessoas a respeito do descarte correto e vários outros aspectos da reciclagem. 

Ela conta que, em um dia de trabalho normal - antes da pandemia - ela chegava a andar 30 km puxando a carroça. Em um mês, a família faturava cerca de R$ 3.200 trabalhando com a média de dez clientes fixos - lojas ou pessoas físicas que a contraravam para fazer a gestão dos lixos recicláveis. Porém, durante o isolamento social adotado na cidade, essa renda caiu para menos de R$ 1.000. 

"Está sendo uma grande honra poder dar um rosto para a nossa classe de catadores e poder educar as pessoas"

(Anne Caroline)

Carlão, o outro apresentador da série, já trabalha com isso há mais de 20 anos e é de Itaquera, na zona leste de São Paulo. Segundo o coordenador "ele é um dos catadores mais icônicos da cidade!".

Carlão, o catador vira um dos apresentadores a partir do segundo episódio
Carlão, o catador vira um dos apresentadores a partir do segundo episódio Carlão, o catador vira um dos apresentadores a partir do segundo episódio

Carlos Antonio dos Reis, 52 anos, ou 'Carlão, o catador', como é conhecido, tem história de luta política e social por direitos e remuneração adequada para os profissionais, ajudando a fundar e a administrar cooperações e movimentos de catadores. 

App Cataki

É um aplicativo feito para o gerador de resíduo encontrar o catador mais próximo dele. O usuário baixa e tem uma lista ou um mapa com os catadores na região. Ao entrar em contato, o interessado conversa diretamente com o profissional e combina o serviço e o valor da retirada. A ONG não fica com nenhuma parte do valor arrecadado pelos profissionais.

“O trabalho do catador não é gratuito. As pessoas muitas vezes não entendem como funciona a cadeia da reciclagem e é muito normal acharem que estão somente doando o material para o catador, mas não. É um serviço e deve ser remunerado como tal. Você está contratando aquele profissional para resolver um problema seu, é uma mão-de-obra especializada naquilo então ele deve ser remunerado”, explica Bourroul.

De acordo com o coordenador, esse entendimento é muito importante para gerar uma mudança na cultura. Através do aplicativo o catador também pode ser contratado para coletar um móvel, entulho ou ajudar em uma mudança, por exemplo.

O usuário também pode encontrar outros agentes da reciclagem no Cataki, como ferro velho, corporativas, ecopontos, pontos de entrega voluntária. A ideia é que seja um ecossistema da reciclagem juntando gerador com coletor.

“Sabemos que várias pessoas já despertaram para a necessidade da reciclagem, de repensar o consumo, mas muitas vezes não têm os mecanismos para de fato ver o resíduo sendo reciclado. O catador é a melhor opção para isso', conta João Bourroul. 

Lucas, companheiro de Anne e catador parceiro do Cataki
Lucas, companheiro de Anne e catador parceiro do Cataki Lucas, companheiro de Anne e catador parceiro do Cataki

Anne e o companheiro trabalham com a ajuda do Cataki e foi através do aplicativo que conseguiram encontrar seus clientes fixos.

De acordo com Carlão, o resíduo não se paga e a conta só começa a fechar a partir do momento que o cliente paga pela retirada do reciclável. Para ele, o usuário precisa levar em consideração a distância percorrida até o local de retirada, o tempo gasto e que esse é o trabalho daquele profissional.

Pimp my Carroça

O Pimp my Carroça foi fundado em 2007 pelo Mundano, um artivista - artista e ativista - de São Paulo com ele pintando carroças sozinho pela cidade e usa arte, tecnologia e participação coletiva para mostrar para as pessoas o trabalho dos catadores.

Mundano ficou cinco anos fazendo esse trabalho sozinho de maneira informal até começar a ONG. Ele e outros artistas parceiros estilizam carroças com pinturas e escrevendo mensagens para motoristas que encontram com os veículos nas ruas. "O motorista esté prestes a buzinar e vê o escrito 'Não buzine, me dê bom dia!', 'Meu trabalho é honesto. E o seu?' ou “'Meu carro não polui”, finaliza João Bourroul.

*Estagiária do R7 sob supervisão de Ingrid Alfaya

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.