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Coleta seletiva de lixo em SP é desigual e insuficiente, diz estudo

Relatório da Rede Nossa São Paulo mostra que mesmo bairros líderes de adesão à prática têm somente 10% dos resíduos coletados seletivamente 

São Paulo|Gabriel Croquer*, do R7

A aposentada Sônia Silva de Lima, de 60 anos, separa diariamente o lixo produzido em sua casa, na rua Rua Moisés José Pereira, no Itaim Paulista, extremo leste da capital, mesmo morando em local onde o serviço de coleta seletiva só é oferecido uma vez na semana pelas concessionárias de coleta da prefeitura de São Paulo.

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“Separo tudo: plástico, papelão, vidro, lata, porque sei que quando os catadores de lixo vem pegar eles derramam tudo, deixam tudo espalhado. Então já digo ‘não, esse lixo não é de vocês, é esse aqui e esse aqui’”, diz Sônia, citando também os alagamentos crônicos na rua de sua residência como outro motivo para descartar o lixo corretamente.

Coleta seletiva é a prática de separar lixo reciclável e não-reciclável para garantir reaproveitamento e menores danos ambientais. O bairro onde Sônia mora tem o pior índice de toda a cidade, apenas 0,25%. O dado é 42 vezes menor que o dos melhores colocados, os bairros de Vila Maria e Vila Guilherme, com 10,62%.


Os números são do Siscor (Sistema de Controle dos Resíduos Sólidos Urbanos), levantados pela Rede Nossa São Paulo em relatório sobre desigualdade na capital, que calculou a proporção de resíduos domésticos coletados seletivamente nos bairros da capital no ano de 2019.

Menos árvores cortadas

A separação correta do lixo tem entre seus principais benefícios o reaproveitamento dos resíduos produzidos, o que diminui o impacto ambiental das cidades. Em São Paulo, por exemplo, os cerca de 60 mil resíduos reciclados na capital desde agosto de 2018, equivalem a 842.082 árvores e 156.891 barris de petróleo, que não precisaram ser produzidos mais uma vez.


Segundo Sérgio Finger, cofundador da Trashin, empresa que atua com gestão de resíduos, a coleta seletiva tem impactos também em outros aspectos da cidade. 

"Uma gestão adequada destes resíduos reduz problemas de desvalorização de imóveis, por estarem presentes em regiões de foco de lixo ou com problemas de saneamento, diminui o custo e melhora o tratamento de água e esgoto, além da infraestrutura de saneamento danificada. Isso sem falar na melhoria da mobilidade urbana, com a redução do número de alagamentos", explica. 


Além dos benefícios ambientais, o lixo bem tratado gera dinheiro e renda. Após a coleta dos materiais recicláveis nas residências da capital pelas concessionárias Loga e Ecourbis, a maioria dos resíduos é encaminhada para as 24 cooperativas habilitadas pela prefeitura, o que sustenta cerca de 930 famílias.

O número é ainda maior se considerarmos a quantidade de catadores ou catadoras de lixo informais, sem ligação com a prefeitura ou sem infraestrura para abrir cooperativas.

Um destas é a responsável pela cooperativa de lixo Nova Esperança Água Branca, Maria Madalena, de 64 anos. Ela conta que chegou a empregar 70 pessoas quando possuía um galpão para seu projeto.

Sem dinheiro para alugar um novo depois que entregou o local ao proprietário, em 2018, ela depende da prefeitura para conseguir retomar a cooperativa. "Com essa pandemia, já me ligaram várias pessoas pedindo emprego e eu não posso porque não tenho galpão para trabalhar", lamenta.

Imagem da cooperativa Giba GPS, que emprega quatorze pessoas
Imagem da cooperativa Giba GPS, que emprega quatorze pessoas

Além da Vila Maria e Vila Mateus, todos os bairros do top 10 do ranking de São Paulo coletam seletivamente menos de 10% do lixo total produzido pelos moradores: Pinheiros (5,38%), Santo Amaro (4,85%), Lapa (4,63%), Sé (3,67%), Jabaquara (3,41%), Ipiranga (3,22%), Vila Prudente (2,73%), Ermelino Matarazzo (2,31%) e Santana/Tucuruvi (2,16%).

O especialista no mercado de reciclagem da empresa Cicla, Daniel Carvalho, acredita que, além da adesão da população à prática, a desigualdade social e a urbanização ajudam a explicar os índices irrisórios.

"São Paulo tem muitas áreas de urbanização precarizada, de ocupação irregular, que têm muita dificuldade de acesso da infraestutura de coleta. (...) Quanto mais pobre a população, quanto mais precária a urbanização do bairro, mais difícil são os serviços de gerenciamento do município", afirma.

Em São Paulo, cerca de 24% das vias não têm serviço de coleta seletiva domiciliar porta a porta. Ainda de acordo com Daniel, porém, a principal solução para o problema passa primordialmente pela diminuição da produção de lixo.

"A gente tem que ter uma hierarquia para a gestão de resíduos. O primeiro passo é a não geração. Como a gente consegue criar mecanismos para evitar ao máximo a geração de resíduos? Acho que a população tem que começar a rejeitar as empresas que produzem resíduos desnecessários", defende.

Como fazer coleta seletiva

Nas regiões que não estão contempladas, o cidadão tem a opção de descartar os recicláveis nos cerca de 3.631 PEV’s (Pontos de Entrega Voluntária) e 105 Ecopontos distribuídos pela cidade.

Para ampliar a adesão da população à coleta seletiva na cidade, no ano passado, São Paulo lançou o Movimento Recicla Sampa, que é baseado em uma plataforma online de amplo conteúdo com vídeos, webdocs, tutoriais, jogos, materiais para impressão, reportagens, notícias da cidade, do Brasil e do mundo para orientar e informar os cidadãos sobre como cuidar do seu resíduo.

Como resultado, em 2019, mais de 4,7 milhões de pessoas foram impactadas pelos conteúdos. A campanha é da Loga e da EcoUrbis, concessionárias de limpeza urbana de São Paulo, e conta com o apoio institucional da AMLURB.

*Estagiário do R7, sob supervisão de Clarice Sá

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