A atriz Bic Müller, que tem mais de 300 mil seguidores no Twitter, afirmou nas redes sociais que quase caiu em um golpe para atendimento médico mediante pagamento. "Meu pai está na UTI e recebi um Whats de um número com o logo do hospital. O cara mandou um áudio se apresentando como médico. A essa altura eu já tava fazendo fuá na recepção e outros visitantes recebendo a mesma ligação. Ele chegou a falar os custos dos exames: R$ 4.900". Como a atriz, outras pessoas afirmam que estão sendo algo de golpistas que se passam por médicos e funcionários de hospitais. Em alguns casos, até de unidades de saúde públicas. Bic Müller afirma que o golpista que a abordou disse que não teria visita naquele dia porque ele tinha que realizar um procedimento. A madrasta da atriz também recebeu a ligação e ficou desesperada. O homem exigia dinheiro para a realização de exames no paciente. "Eu já estava no hospital e conferi com a recepção: a visita estava confirmada. A menina falou 'é golpe, daqui a pouco ele vai pedir dinheiro'. Pois dito e feito. O suposto médico começou a falar sobre o caso, disse que seria necessário fazer exames complexos. O hospital fez B.O. e eu vou achar esse f... até no inferno se for preciso. Pega as pessoas em um momento mega frágil pra tirar dinheiro", escreveu. Após o relato, outras pessoas disseram ter sido vítimas do mesmo golpe nas redes sociais. Outra mulher escreveu que o golpe é frequente também no interior paulista: "Eu trabalho no Hospital do Câncer de Barretos. Isso acontece direto com nossos pacientes. Eles falam que se não pagarem o hospital vai parar com o tratamento! A pessoa desesperada, paga. Sendo que o serviço é 100% gratuito, via SUS e doações". Já outras pessoas relataram que tiveram de assinar um termo que alertava sobre o golpe. "Minha mãe ficou internada esses dias. No hospital me deram um termo para ficar ciente de um possível golpe. Fiquei muito intrigado. O termo tira fora o hospital, mas não explica porque estão normalizando esse tipo de crime. Nada explica as informações vazarem dessa maneira", questionou um homem. De acordo com a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, Jacqueline Valadares, o golpe configura estelionato e deve ser registrado em boletim de ocorrência, mesmo que feito pela internet. "Estelionatários se adaptam à realidade e vulnerabilidade das vítimas. Com o aumento de internações e atendimentos médicos na pandemia, abriu-se um nicho. Eles aproveitam o momento das famílias fragilizadas, com pacientes internados, para fazer cobrança de valores, em geral em hospitais públicos, que não cobram pelo serviço", explica a delegada. Os familiares devem ficar atentos porque, na maioria dos casos, o valor exigido deve ser depositado em uma conta física quando deveria ser jurídica por ser tratar de uma entidade ou hospital, ainda mais se o equipamento de saúde é público. "Para evitar um prejuízo financeiro, nunca faça um depósito antes de checar. Deve ligar em um telefone de confiança do hospital ou ir pessoalmente. Esse tipo de cuidado vai dificultar a ação dos criminosos", detalha Jacqueline Valadares. Os golpistas usam informações fornecidas pelos próprios parentes do paciente para construir a história, que parece ser real. A delegada lembra também que, uma vez paga a quantia inicial exigida, é comum que os estelionatários façam um novo contato para pedir mais dinheiro. A orientação é registrar o boletim de ocorrência apenas com a declaração da vítima e tentar reunir provas como o número de telefone usado para aplicar o golpe ou a conta bancária repassada, o comprovante de transferência quando feita ou número do Pix. A vítima tem seis meses para fazer a representação, indicando que quer processar criminalmente o golpista e que seja instaurado um inquérito policial. A pena para estelionato é de até 5 anos de reclusão. Mas é comum que os suspeitos participem de uma organização criminosa, com diferentes atribuições - quem cede a conta, quem liga para as vítimas e quem saca o dinheiro - e podem responder por associação ao crime, com pena ainda maior.