Os advogados de Elize Matsunaga, acusada de matar e de esquartejar o marido, o executivo da Yoki Marcos Matsunaga, vão se basear nas provas técnicas do processo para tentar convencer a Justiça de que o crime não foi cometido com crueldade, por motivo torpe e com recurso que dificultou a defesa da vítima. Estas são as três qualificadoras apresentadas pelo Ministério Público e que aumentariam a pena da bacharel em direito, que pode ultrapassar 30 anos de reclusão. Ré confessa, Elize responde por homicídio doloso triplamente qualificado, além de ocultação de cadáver. O empresário foi morto em 19 de maio do ano passado, no apartamento onde o casal morava, na Vila Leopoldina, na zona oeste. Pouco mais de uma semana depois, pedaços do corpo de Matsunaga foram encontradas em diferentes pontos da estrada do Pires, em Cotia, na Grande São Paulo. Parte da argumentação do advogado Luciano Santoro, contratado pela acusada, deverá ser sustentada no laudo de exumação, que provocou interpretações distintas da defesa e da acusação. Um dos pontos destacados pelo exame foi que, após ser atingido na cabeça pelo tiro disparado por Elize, Matsunaga ficou inconsciente. Para Santoro, isso faria cair por terra a qualificadora meio cruel. — Os três peritos, tanto o oficial quanto o assistente técnico da acusação e o assistente técnico da defesa, são contundentes de que ele [Matsunaga] ficou inconsciente imediatamente após o tiro. Se a pessoa fica inconsciente, ela não sofre. Independentemente da discussão se ele estava morto ou não. Se não sofre, não tem crueldade. Simples assim. É uma consequência lógica. Santoro alega ainda que a qualificadora “recurso que dificultou a defesa da vítima” não se sustenta, em razão da distância com que o disparo teria sido feito. O resultado da exumação indicou que seria certamente “maior do que 40 centímetros”. Já o laudo necroscópico, assinado pelo médico-legista Jorge Pereira de Oliveira, mostrou a existência de “pequena zona de tatuagem e queimadura nas margens do ferimento” à bala na cabeça do executivo, sinalizando que o tiro tinha “características de tipo encostado”. — A acusação falou que essa qualificadora existia porque o tiro foi próximo ou encostado. Acabou de ser provado que o tiro foi de longe. O Ministério Público rebateu o dado apresentado no laudo da exumação, argumentando que o médico legista não tem condições de “falar em centímetros ou metros” e que isso só pode ser feito por um perito do Instituto de Criminalística.Motivo torpe Santoro explica como vai tentar derrubar a qualificadora “motivo torpe”. Segundo argumenta, a acusação sustenta que Elize queria evitar a separação e ficar com a fortuna do marido.— Primeiro, quem buscou a separação foi ela. Segundo, Marcos não tinha dinheiro. Quem tinha eram os pais dele. Ele tinha dinheiro em vida. Vivo, ele tem muito dinheiro. Morto, não tem nada.Elize Matsunaga vivia casamento falido, diz advogadoPromotor: mulher de empresário arquitetou crime com "paciência" e "requinte" Para o Ministério Público, Elize Matsunaga matou o executivo da Yoki por dinheiro. Na interpretação da promotoria, o crime foi premeditado desde o momento em que a mulher contratou um detetive para flagrar Matsunaga com a amante. A acusação afirma que a ré não queria perder o casamento e o status social que adquiriu com ele e que Elize seria beneficiada por um seguro de R$ 600 mil, além de ter a filha como herdeira do patrimônio do pai. Já a defesa apresenta a tese de crime passional e diz que a cliente era humilhada pelo marido. Ao confessar o crime à polícia, Elize declarou que atirou em Marcos após ser agredida durante uma discussão motivada pela descoberta do caso extraconjugal do empresário.Elize trabalha em biblioteca do presídio e gosta de ler livros de história Luciano Santoro adianta que, na hipótese de não conseguir convencer o juiz Adilson Paukoski Simoni, do 5º Tribunal do Júri da capital, a excluir todas as três qualificadoras, poderá recorrer, o que adiaria o julgamento, ainda sem data prevista. — Pelo que ficamos sabendo, o juiz tem data para o júri neste ano. Mas não depende dele apenas. Pode ser que eu recorra. Assim como tenho certeza de que, qualquer qualificadora que o juiz afastar, a acusação vai recorrer. O processo tem atualmente 14 volumes e cerca de 2.800 páginas. Na terça-feira (25), Elize foi interrogada pela segunda vez no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.