Doria inaugura albergue na Barra Funda sob queixa de vizinhos
Prédio doado será aberto na próxima segunda (2) e tem partes sob obras
São Paulo|Gustavo Basso, do R7
A Prefeitura de São Paulo inaugurou na manhã desta sexta-feira (29) o CTA (Centro Temporário de Acolhimento) Brigadeiro Galvão, na Barra Funda, região central da capital. Com pontos da reforma ainda por serem finalizados, o local deve passar a funcionar na próxima segunda-feira (2), e tem capacidade para 290 pessoas.
O prédio pertence à Telefônica, e foi cedido à Prefeitura em regime de comodato, por cinco anos. Antes, abrigava equipamentos desativados, e no passado, pertencera à antiga Telesp. Reformado com doações de empresas, conta com dormitórios para homens e mulheres (incluindo dois quartos para cadeirantes), banheiros, sala de informática, canil, bagageiro, lavanderia e refeitório.
Localizado próximo ao Elevado João Goulart, conhecido como Minhocão e que abriga uma grande quantidade de moradores de rua, o novo albergue busca diminuir a deficiência para na cidade para abrigar esta população.
“Este é o sexto CTA inaugurado pela prefeitura nesses nove meses de gestão. Este foi montado em 26 dias. Ao todo, serão 17 centros como este para o acolhimento da população em situação de rua até dezembro”, comentou o prefeito João Doria durante a inauguração.
O banheiro para cadeirantes e a lavanderia não estavam prontos na manhã desta sexta-feira (29). O secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Filipe Sabará, garante que até segunda, quando será aberto à população, todas as instalações estarão funcionando.
Reclamações de vizinhos
O prefeito João Doria comentou ainda as reclamações de vizinhos, que se queixam da instalação do albergue no local.
— O que é melhor para essas pessoas [vizinhos do albergue]. Que estejam dormindo pessoas em situação de rua na frente dos seus prédios, nas calçadas das suas casas, ou que estejam acolhidas, bem tratadas, treinadas e preparadas para se tornarem profissionais? Você não pode imaginar que as pessoas de situação de rua sejam retiradas dos locais, simplesmente.
Do lado de fora do novo albergue, um grupo de moradores vizinhos criticavam a inauguração feita no local.
“No meio de tanta gente boa que vai procurar o albergue, sempre fica um ou outro ruim de fora, e acaba que a rua vai ficar insegura”, afirma Ricardo Gushiken, morador de um prédio na mesma rua. A opinião é compartilhada por Ângela Freitas. “Tenho filha adolescente, e não vou deixá-las passar aqui na frente. Eles não consultaram os moradores da região em nenhum momento. Se é tão bom, por que ele não construiu um na rua dele?", afirma.
Engenheiro mecânico e bacharel em direito, Vladimir Entini é representante informal dos vizinhos contrários à abertura do CTA. Para ele, o albergue vai contra ações culturais que a prefeitura teria feito nos últimos anos. "Desde que foram feitas ações para tentar acabar com a Cracolândia, formou-se um corredor entre o Minhocão e a Cracolândia. Nós gostaríamos que houvesse um centro cultural, uma escola, alguma instituição artística, que fosse contra a formação deste corredor. O albergue aqui vai reforçá-lo."
Entini questiona ainda a reforma em si, uma vez que o imóvel se encontraria no entorno do Teatro São Pedro, tombado pelo Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio histórico.
A norma 16.280 da ABNT, citada pelo engenheiro para queixa sobre a placa, rege as obrigações de quem realiza reformas em edifícios, e afirma que “cabe ao responsável legal da edificação promover a comunicação e disseminação entre os demais usuários sobre as obras de reforma na edificação que estiverem prontas."
Durante a coletiva de imprensa o prefeito falou sobre a placa.
— A obra foi interna, não externa. Que diferença faz ter placa ou não ter placa? É reclamar porque não havia a placa? Ter ou não ter não altera nada.
Em nota, a Prefeitura acrescenta que o CTA não terá custos para o município.
"O imóvel pertence à Telefônica (dona da marca Vivo) e foi cedido à Prefeitura em regime de comodato, por cinco anos. Para abrigar o CTA, o prédio recebeu adaptações em todos os ambientes com a construção de salas de atendimento e treinamento, informática, cozinha, refeitórios, dormitórios e banheiros. A implementação desse equipamento também contou com doações de outras empresas da iniciativa privada."