Frequentador da Cracolândia, Alexandre Pereira, 34 anos, foi cantor de rap nas ladeiras do Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Com um amigo, entoava versos e fazia parte da banda MC Capetinha. Pereira é filho de um traficante e sempre teve contato com as drogas — e suas consequências. Sabia do futuro que podia ter se as usasse. Em um de seus shows, há 20 anos, o baterista da banda chegou avisando que tinha a “droga nova”. Ele, sendo o vocalista, não queria ficar de fora e decidiu experimentá-la. Assim teve o primeiro contato com o crack e nunca mais largou o cachimbo. A droga ganhou o espaço que antes era da maconha e da cocaína e mudou sua vida. Neste Natal, o primeiro de Pereira nas ruas do centro, a vontade é de estar com os sete filhos. Cada um de uma mulher. Apesar de não ter muito contato com eles, sabe o paradeiro de cada um. O de 14 anos é "soldado do tráfico" no Morro do Dendê, no Rio de Janeiro. — O menino tá no Rio com a mãe, virou soldado. E tem uma menina que mora com a minha mãe, mas não para em casa. Sempre está na rua cheirando tinta. O resto tá no rumo certo.R7 acompanha o Natal na Cracolândia:Grávidas na Cracolândia: jovens contam como vivem entre os filhos e a pedra Hoje Pereira trabalha como catador de lixo de uma casa noturna no bairro de Santa Cecília. A equipe de reportagem do R7 conversou com ele no último sábado (20) em um almoço natalino organizado por uma ONG no castelinho abandonado na rua Apa. Seus olhos mudam quando comenta sobre a possibilidade de retornar à vida que teve. — Eu quero sair dessa vida e montar meu CD de rap. Vai se chamar Diário de um Viciado inspirado na música Diário de um Detento [da banda Racionais MC’s]. Pereira ressalta que o cantor Mano Brown, vocalista do Racionais MC’s, foi seu conhecido na adolescência. Fato que ele nunca esqueceu e sente saudade. *Colaborou o estágiário Plínio Aguiar, do R7