Decisão do governo de SP é precipitada, avaliam especialistas
Reprodução/RecordTVEspecialistas consideram precipitada a decisão do governo de São Paulo de acabar com a obrigatoriedade do uso de máscara na maioria dos ambientes fechados. A avaliação é que o país — com apenas cerca de 50% da população com a dose de reforço e lentidão no avanço da vacinação das crianças contra a Covid-19 — continua em situação de risco diante da chegada da variante Deltacron.
A infectologista do Instituto Emílio Ribas Rosana Richtmann, que integra o comitê científico montado pelo governo para orientar as medidas sanitárias, vê a decisão como "prematura" e afirma que a mensagem deveria ser mais cautelosa. "É prematuro abandonar máscaras nas escolas", exemplifica.
"Qualquer pessoa com o mínimo de bom-senso olharia para esse cenário e chegaria à conclusão de que não é a hora de abandonar as poucas medidas de proteção que temos. Agora, estamos no momento de respiro, mas ao invés de estarmos nos preparando para nos solidificar quando vier uma próxima onda, estamos relaxando o pouco que temos", avalia Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin de Vacina.
O infectologista e pesquisador epidemiologista da Unesp Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza até se considera um otimista, mas também não acredita que seja o momento de medidas menos restritivas. "As flexibilizações ainda são precoces e desnecessárias, principalmente o uso de máscara em lugares fechados. Isso nos deixa mais vulneráveis", aponta.
Fortaleza integrou o Centro de Contingência do governo até meados do ano passado. Em agosto, o grupo, formado por mais de 20 especialistas, foi extinto pelo governo e substituído por um pequeno comitê que manteve os integrantes mais alinhados a medidas de flexibilização.
Ao anunciar o fim da obrigatoriedade do uso de máscara, o governador João Doria (PSDB) afirmou que a decisão foi referendada pelos integrantes do comitê, liderado pelo médico Paulo Menezes.
"Este comitê entende possível recomendar, a partir da data de hoje, que o uso de máscaras de proteção facial seja obrigatório apenas nos locais, públicos e privados, em que são prestados serviços de saúde, bem como nos transportes públicos coletivos e respectivas áreas de acesso", apontou Menezes em nota técnica divulgada pelo governo na qual cita a queda de novas internações.
Na quarta-feira (16), São Paulo registrou 139 mortes pela pandemia e 8.800 casos confirmados da doença no período de 24 horas. A ocupação nos leitos de UTI estaduais é de cerca de 30%, enquanto o índice fica em 22% em enfermarias. "Internação em hospital é um indicador tardio. É assim que tem acontecido há pelo menos dois anos, e ainda não aprendemos com nossos erros", observa Denise.
Apesar de considerada precoce, a liberação da obrigatoriedade do uso de máscara já foi implementada em outros estados e capitais. Rio de Janeiro, Maceió, Cuiabá, Florianópolis, Natal, Rio Branco, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre são algumas das cidades que, em maior ou menor grau, não exigem mais o uso da proteção facial.
"O uso de máscaras ainda é essencial. Se estamos falando de uma doença que é transmitida por vias respiratórias, a primeira barreira é ela, logo é a primeira medida a ser tomada em um surto e a última a ser retirada quando tivermos o controle da doença", diz Rodrigo Stabeli, pesquisador e diretor da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em São Paulo.
"Abrir mão dessas políticas agora é uma maneira efetiva do ponto de vista do ano eleitoral, mas é completamente burra no combate à Covid e quem sofre ou morre é a população."
Copyright © Estadão. Todos os direitos reservados.