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Gari poeta faz sucesso na zona sul de São Paulo

Neusvaldo Santos produz seus livros com dinheiro do próprio bolso, mas aguarda patrocínio 

São Paulo|Giorgia Cavicchioli, do R7

Gari poeta faz sucesso no bairro de Mirandópolis, na zona sul de SP
Gari poeta faz sucesso no bairro de Mirandópolis, na zona sul de SP

O nome dele é Neusvaldo Juvenal Santos, mas no bairro de Mirandópolis, zona sul de São Paulo, ele é conhecido como o “gari poeta”. Com criatividade e simpatia, o escritor já virou figura carimbada na região. Moradores incentivam e gostam do trabalho do autor, que sonha em ver suas obras em prateleiras de grandes livrarias.

Assim como suas publicações, a vida do alagoano é cheia de poesia desde seu nascimento. Quando chegou ao mundo em um sítio no interior do Estado, sua mãe precisou ser ajudada por uma parteira. Lá não havia médicos nem hospitais para fazer o parto.

Quando tinha por volta de oito anos, Neusvaldo começou a se interessar pela poesia ao ouvir os adultos da região recitando e lendo poemas e poesias: “Eu via e achava tudo aquilo muito importante. Achava bonito”.

Aos 19 anos, resolveu ir para São Paulo. O irmão dele, que já trabalhava na cidade grande, foi visitar a família em Alagoas. Lá, perguntou para o jovem Neusvaldo se ele se interessaria pela aventura de mudar de Estado. Ele, buscando uma vida melhor e com mais estabilidade, concordou.


— Deu uma seca lá e ficou dois anos sem chover. Para quem vive de roça fica difícil.

Seu primeiro emprego após sair da terra natal foi em Santo André, na Grande São Paulo, em um restaurante. Durante 10 anos, a rotina dele era difícil, como a de muitos brasileiros: acordar cedo, depender de transporte público e voltar muito tarde para casa.


— Eu trabalhava e chegava duas horas da manhã em casa e era muito perigo à noite.

Foi aí que veio a oportunidade de trabalhar como gari. Segundo ele, a decisão de mudar de profissão surgiu exatamente pelo perigo da cidade grande: “[Trabalhar como gari] é sofrido, mas eu trabalho de manhã e volto para casa cedo”.


Neusvaldo declama para o R7. Assista:

Trabalhando como gari, Neusvaldo começou a dar voz para seu lado artístico e passou a expor suas criações para colegas de trabalho e pessoas que passavam pelas ruas: “Comecei fazendo pequenos poemas na rua e os amigos davam risada”.

Quando entrou em uma empresa de gestão ambiental, o gari poeta fez um poema para a diretora da empresa. Ela gostou muito da homenagem e resolveu colocar a obra em um painel da empresa para que todos os funcionários pudessem apreciar a criatividade do trabalhador.

— Isso me deu coragem de fazer poesia e ir na gráfica para pedir ajuda. O meu objetivo é que uma editora ou um empresário se interesse para colocar meus livros nas lojas.

Até o momento, Neusvaldo gasta dinheiro do seu próprio bolso para ver seu sonho ganhar forma. Ele vai até uma gráfica na região, faz um orçamento de uma pequena tiragem de livros — entre 100 e 200 — e tentar vender no esquema “boca a boca”.

— Eu ofereço para as pessoas que estão passando nas ruas. Uns dizem não, outros aceitam.

Mesmo com as dificuldades para ter seu trabalho reconhecido, o gari poeta já registrou e enviou à Biblioteca Nacional 12 obras de sua autoria. O livro mais recente, A Mulher Joia Fina, ainda não foi registrado, mas já circula pelas mãos dos moradores de Mirandópolis.

— Tem algumas pessoas que gostam das minhas poesias, mas entre esse todo também tem uma pessoa que vem com uma inveja, que tenta dizer que não é bom. Mas a gente não pode olhar para isso. Tem que olhar só para frente.

O gari poeta mostra, com orgulho, sua mais recente obra
O gari poeta mostra, com orgulho, sua mais recente obra

O poeta conta que sua inspiração vem principalmente das mulheres e das flores. Para ele, é importante “falar bem” delas. Como artista, sua principal influência é o cantor Roberto Carlos, “porque ele é o rei, né”?

— É o cantor que tem as músicas mais bonitas e as letras mais bonitas. Agora eu tô ouvindo mais música evangélica. Meu celular é cheio.

As músicas evangélicas estão incentivando tanto Neusvaldo, que ele já começou a produzir o seu novo trabalho, totalmente baseado nas canções que ouve e gosta muito: “Estou fazendo uns rascunhos para começar outro”.

— Eu não escrevo bem poesia, eu escrevo música que precisa de uma partitura. Eu teria que ter um professor para fazer música. Tenho letras muito bonitas que dá pra fazer música.

O gari poeta conta que duas famílias do bairro já são fãs do seu trabalho e elogiam suas obras. Os moradores até fazem “encomendas de poemas” para ele.

— Tem um senhor que falou pra mim para fazer um poema de Carnaval. Eu fiz para mostrar que a pessoa pode escrever um poema e uma letra de Carnaval sem palavrões.

Aliás, ele diz que escreve sobre qualquer coisa, mas que palavrões não entram em suas obras: “Teve gente que já pediu tipo pornografia. Aí eu não escrevo. Eu também não gosto de palavrão e piadas feias e pesadas”.

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