Resumindo a Notícia
- Aumento do tempo de deslocamento na cidade interrompeu sequência de queda
- Mais de 70% das pessoas afirmam se sentir pouco seguras ou nada seguras ao atravessar rua
- Segundo estudo, 55% dos moradores têm carro de passeio, próprio ou da família
- 42% dos entrevistados diminuíram frequência com que usam o carro nos últimos 12 meses
Até 2021, paulistano levava, em média, 2h01 por dia para se locomover. Neste ano, são 2h19
Edu Garcia/R7 - 23.02.2022O paulistano passou a gastar, em média, 18 minutos a mais por dia em deslocamentos pela cidade em relação ao ano passado, conforme revelou a pesquisa “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana” da Rede Nossa São Paulo, divulgada nesta quinta-feira (22), data que marca o Dia Mundial sem Carro.
Até 2021, os moradores de São Paulo (SP) levavam, em média, 2h01 por dia para se locomover. Neste ano, a média passou para 2h19. A alta interrompe um ritmo de queda que ocorria desde 2018 nessa estatística.
O estudo revelou que o tempo médio de deslocamento aumentou 15 minutos para a atividade principal do dia, e voltou a um patamar próximo ao de 2020. No ano passado, gastava-se 1h24; agora, a média subiu para 1h39.
Os acréscimos se associam ao abrandamento da pandemia de Covid-19, considera Igor Pantoja, doutor em Sociologia, mestre em planejamento urbano e regional e membro do Instituto Cidades Sustentáveis: “Tem relação com a retomada das atividades presenciais, o que está expresso nos números [da pesquisa]”.
Outra razão, explica Pantoja, é o aumento do uso de transporte público entre os paulistanos em relação ao ano passado.
“Está mais alto do que na pandemia. Porém, mais baixo do que era antes (entre 2018 e 2019). É um dos fatores que influenciam no tempo de deslocamento”, afirma.
O estudo revelou que os paulistanos se sentem mais inseguros na cidade de São Paulo. O número de pessoas que disseram se sentirem pouco ou nada seguras ao atravessar as ruas na faixa de pedestres subiu de 68%, em 2021, para 73% neste ano. Ao andar pelas calçadas, de 69% para 73%.
A sensação de insegurança também aumentou entre aqueles que andam em ciclovias e ciclofaixas: de 78% para 80%. O padrão se repetiu nas questões sobre como se sentem ao atravessar pontes, viadutos e passarelas (de 83% a 85%), bem como ao passar por baixo de pontes e viadutos (de 87% a 90%).
A soma dos que se disseram seguros e muito seguros não subiu em nenhum dos índices.
Uma das hipóteses levantadas por Igor Pantoja é que, como um efeito da pandemia, comércios e vias estão menos ocupados do que antes da chegada do coronavírus ao Brasil. “Pode ser ainda o reflexo de que as ruas não estão tão movimentadas quanto eram”, pondera.
Ao todo, segundo a pesquisa, seis em cada dez paulistanos se deslocam a pé todos os dias na capital paulista.
Sensação de seguranças relatada por pedestres na cidade de São Paulo
Reprodução/Rede Nossa São PauloOutro ponto de destaque da pesquisa foi que, do ano passado para 2022, mais pessoas declararam possuir um carro — próprio ou da família — na cidade: de 47% a 55%. No entanto, apesar do aumento, a população tem usado menos seus automóveis.
No mesmo período, os entrevistados que relataram utilizar o carro com menor frequência foram de 35% a 42%; com frequência igual, de 42% a 34%; com maior frequência, 21% nos dois anos.
O motivo principal apontado pelos pesquisadores para a redução no uso dos veículos foi o aumento no preço dos combustíveis.
“As duas principais respostas são questões econômicas: uma por causa do preço do combustível, e o segundo motivo, de modo geral, para reduzir custos. O bolso é o que mais fez as pessoas diminuírem o uso do carro”, afirma Pantoja.
O estudo mostrou, ainda, que o uso da bicicleta diminuiu novamente na capital paulista. De 2020 a 2021, o número de paulistanos que disseram usar o veículo com maior frequência havia caído de 17% para 12%. Neste ano, baixou para 9%.
Igor Pantoja atribui as quedas consecutivas à falta de visibilidade em relação à bicicleta como meio de transporte e à segurança, em relação tanto a roubos e furtos quanto acidentes.
“É um número que era baixo, e diminuiu de novo. Não há investimento em educação no trânsito nem incentivo à utilização das bicicletas, tampouco as ciclovias são respeitadas na cidade”, avalia o pesquisador.
Realizada há 15 anos, a pesquisa sobre mobilidade urbana da Rede Nossa SP ouviu 800 moradores de São Paulo (SP), pessoalmente e online, nas cinco regiões da capital paulista. O objetivo do estudo, segundo a organização, é mapear a percepção da população sobre o tema na cidade.