Na terceira audiência de instrução do caso Yoki, defesa e acusação fizeram avaliações distintas sobre o depoimento da babá da filha de Elize e Marcos Matsunaga nesta terça-feira (11). Durante duas horas e meia, Mauriceia José Gonçalves dos Santos, que trabalhava no apartamento do casal, na Vila Lepoldina, zona oeste de São Paulo, foi ouvida no Fórum Criminal da Barra Funda. Antes de falar, a única testemunha do dia pediu que Elize, acusada de matar e esquartejar o marido, deixasse a sala. Para o promotor José Carlos Cosenzo, a babá “desmentiu a defesa” ao negar que foi com a ex-patroa para um hotel, após Elize ligar para a polícia, relatando que estaria sendo ameaçada por Marcos. A comunicação foi feita em abril. — A babá disse que, em momento algum, foi para um hotel junto com a Elize depois da comunicação à polícia. Primeiro, ela [Mauriceia] não sabia do fato. Segundo: a única vez que ela foi a um hotel junto com a Elize e a criança foi no período da manhã, por volta de 10h, e retornou às 15h, porque estava sendo realizada uma reforma no prédio e o próprio Marcos sugeriu que a criança fosse para um hotel. Ao ser indagado se a babá desmentiu a defesa, o advogado da ré refutou. Segundo Luciano Santoro, Mauriceia falou, durante a audiência, que foi com Elize para um hotel na rua Pedroso de Morais, em Pinheiros. Questionado se o episódio ocorreu após a ligação da acusada para a PM, Santoro respondeu: — Acredito que ela, por ser uma babá, não sabia que Elize ligou para a polícia. Ela não estava na residência e também desconfio muito que Elize contasse para sua empregada quais eram seus motivos.Leia mais notícias de São Paulo O defensor disse ainda que a babá não soube precisar a data em que esteve no hotel. — Na verdade, ela não sabe precisar absolutamente nada. Senti um depoimento muito estranho. Ela respondeu muito “não sei”. Na avaliação do advogado, o fato de Mauriceia trabalhar atualmente para os pais do executivo da Yoki — eles estão com a guarda temporária da filha de Marcos e Elize — interferiu no depoimento da babá. — Eu tenho certeza de que ela tem medo de perder o emprego. Ela falou em audiência. Não é todo lugar que você arruma um emprego de babá de R$ 3.500 por mês, mais R$ 750, por final de semana. Apesar de “olhar com ressalva o depoimento”, o advogado destacou que Mauriceia confirmou “muita coisa importante”. — Ela confirma que o casal, nos últimos três meses [antes do crime], estava vivendo brigas rotineiras, constantes. Ela confirma que Marcos enviou flores para Elize, enquanto elas [Elize e a babá] estavam na Costa do Sauípe, pedindo desculpa. Confirma que, no dia em que retornaram de Chopinzinho (PR), quando Marcos foi buscar Elize no aeroporto, ele estava nervoso. Ele exaltou o tom de voz com a Elize no carro, ficou bravo quando ela ligou para os pais dele, deu um murro no volante. Já Cosenzo afirmou que, assim como outras testemunhas do caso, a babá não relatou um comportamento agressivo por parte do empresário. — Ela disse que realmente Marcos estava apressado [no dia em que foi buscar Elize e a filha no aeroporto quando elas retornaram do Paraná]. Ele tinha compromisso marcado. O avião atrasou e ele estava nervoso em razão disso. Mas em momento nenhum ele foi rude, agressivo. E ela disse que nenhum funcionário presenciou alguma agressão, uma única ameaça feita por Marcos.“Como uma princesa” Segundo o representante do Ministério Público, a babá relatou que o executivo da Yoki tratava a mulher “como princesa”. O advogado Luciano Santoro rebateu: — Assim como eu perguntei à babá como Elize tratava Marcos antes das discussões e ela falou que era do mesmo jeito. Ou seja: Marcos tratava Elize como uma princesa e ela o tratava como príncipe. Até três meses [antes do assassinato]. Ela colocou um marco temporal. Depois, tudo mudou.