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Mais do que túmulos: visita guiada ao Cemitério da Consolação reúne arte e história de SP

R7 participou de tour comandado pelo guia Popó, que com bom humor relata fatos sobre as personalidades sepultadas no local

São Paulo|Letícia Dauer, do R7

As visitas são conduzidas pelo guia Popó e duram cerca de duas horas
As visitas são conduzidas pelo guia Popó e duram cerca de duas horas

"Cemitério é arte. É cultura. É conhecimento." É assim que o guia e ex-sepultador Francivaldo Almeida Gomes, mais conhecido como Popó, define o Cemitério da Consolação, localizado no centro de São Paulo.

Em abril, a concessionária Consolare assumiu a operação do Cemitério da Consolação e de outras seis unidades, antigamente administrados pela Prefeitura de São Paulo. Durante aproximadamente dois meses de transição, as visitas foram interrompidas. O tour foi retomado em junho, e o R7 acompanhou o passeio da última semana. O próximo acontece neste sábado (22).

Culturalmente os cemitérios são espaços associados exclusivamente ao luto, à morte e a memórias negativas. Entretanto, as visitas guiadas ao primeiro cemitério público de São Paulo — fundado em 1858 — mostram que também é possível aprender com a arte tumular.

O passeio no museu a céu aberto é uma oportunidade de conhecer um pouco da história da cidade e de personagens célebres por meio dos túmulos de Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato, Ramos de Azevedo e Líbero Badaró, além de mais de 300 obras de escultores, como Victor Brecheret e Luigi Brizzolara.

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O Cemitério da Consolação também abriga famílias tradicionais da elite paulistana. Em um dos extremos do terreno, é possível encontrar o mausoléu dos Matarrazo — conhecidos pela forte atuação no ramo industrial. Considerada a maior da América Latina, a obra tem 150 m² e 25 m de altura, o equivalente a um prédio de três andares.

'Praça dos Três Poderes' e mausoléu da família Matarazzo
'Praça dos Três Poderes' e mausoléu da família Matarazzo

Durante a visitação, o guia Popó conta que o mausoléu da família Matarrazo fica em uma área denominada popularmente como "Praça dos Três Poderes". O nome foi escolhido em razão dos políticos ali sepultados: o ex-presidente da República Campos Salles e o ex-governador de São Paulo Abreu Sodré.

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No século 20, uma das maneiras de as famílias mais abastadas demonstrarem seu status era, justamente, por meio de túmulos e mausoléus construídos em mármore e granito e decorados por escultores de renome.

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'Guardião' do cemitério

Popó começou a trabalhar no cemitério como sepultador
Popó começou a trabalhar no cemitério como sepultador

Usando um amplificador de voz e um chapéu de pescador, Popó — aos 55 anos — conduz um grupo de cerca de 50 pessoas formado por crianças, adolescentes e adultos pelas ruas do cemitério.

Há 23 anos ocupando a função de guia, após passar em um concurso público inicialmente para sepultador, o cearense Francivaldo é considerado uma espécie de guardião do Cemitério da Consolação e de parte da história de São Paulo.

Com a voz de locutor de rádio e brilho nos olhos, ele provoca o público: "Falem qualquer nome de rua que vier à cabeça". Pouco a pouco os visitantes vão elencando alguns nomes: Washington Luís, Brigadeiro Faria Lima, Brigadeiro Luiz Antônio, Líbero Badaró, Santo Amaro...

A cada personalidade citada, Popó consegue contar uma breve descrição histórica e o local do sepultamento — mesmo que fora do Consolação. À reportagem, ele explica que gosta de interagir com o público e mantê-lo atento ao tour.

“Cada vez que você conta a história em uma visita guiada é um desafio. Ela ajuda a alimentar o conhecimento através da vida de cada cidadão aqui. É manter viva a memória para a sociedade”, afirma.

Cemitério conta com mais de 300 obras
Cemitério conta com mais de 300 obras

Ao longo do passeio, é comum os turistas testarem os conhecimentos históricos de Popó. De forma humilde, ele repete algumas vezes que nem sempre saberá a resposta, mas que tentará responder às dúvidas. Entretanto, com anos de experiência no ramo, ele demonstra ter as respostas na ponta da língua.

O público também não se esquiva de questionamentos polêmicos. Um jovem, de cerca de 20 anos, indaga o guia sobre um problema visível: muitos túmulos e mausoléus estão sem seus ornamentos e placas de bronze. Popó revela que muitas famílias preferem guardar os objetos em casa ou os túmulos foram alvos de vandalismo e furto.

O cearense chega a compartilhar com o público que já flagrou muitas pessoas invadindo o cemitério com o objetivo de furtar essas peças de metal. Por isso, ao longo dos anos, já ajudou a polícia a prender algumas pessoas.

O passeio que deveria durar duas horas acaba se estendendo em mais de meia hora. Pelo ânimo do público, continuaria a tarde toda. Como Popó costuma dizer: “Estude a morte para melhor compreender a vida”.

Serviço

O público pode realizar a visita guiada uma vez por semana, de forma alternada, às sextas, às 14h, e aos sábados, às 10h. Os ingressos são gratuitos e devem ser reservados com antecedência pelo site Sympla. Segundo a concessionária, são 50 vagas por tour com duração de duas horas.

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