O cantor e compositor Luiz Felipe Amaral, conhecido como MC Amaral, 30 anos, está realizando mais um sonho. Natural de Santos, no litoral paulista, o artista é um dos pioneiros do funk em São Paulo e agora está com uma produtora própria para disseminar o estilo e gerenciar a carreira de outros funkeiros. No final de julho, o artista anunciou, em sua página no Facebook, o início da caminhada em sua nova empresa, a 300 Produtora. "Essa é a realização de um sonho que sempre tive, desde o começo da minha carreira, mas nunca tinha colocado em prática", conta o MC. Amaral começou a cantar em 2004, aos 17 anos, quando o funk ainda estava começando a fazer sucesso em São Paulo, principalmente na baixada santista, com influência de artistas do estilo que já eram consagrados em comunidades do Rio de Janeiro. Enquanto cursava ensino superior em uma faculdade de Santos, Amaral conheceu o também cantor e compositor de funk MC Chiquinho CH. Os dois começaram a lutar para ocupar os poucos espaços para funkeiros na região. — Era difícil ter acesso para se apresentar nos bailes. Então começamos a ir juntos tentar oportunidade de cantar. E quando um conseguia chamava o outro para participar. Como os principais MCs que iniciaram o ritmo no Estado estavam concentrados na Baixada Santista, a dupla começou a se apresentar na capital paulista, onde o ritmo ainda não tinha força. Chiquinho e Amaral sempre faziam as apresentações juntos, para compartilhar as oportunidades de cantar funk em São Paulo. Com isso, alguns donos de casas de shows passaram a querer contratá-los como dupla. Assim nasceu, em 2005, um dos pares que mais propagou o funk na capital paulista. No entanto, a conquista de espaço para se apresentar e de seguidores foi interrompida em 2007, quando Amaral foi internado para se recuperar da dependência química. — Usei muita cocaína dos meus 17 aos 20 anos. Quando fui internado, aprendi um método para se afastar das drogas. Quando a dupla voltou, em um show na Cidade Tiradentes, zona leste paulistana, viveu o auge da carreira. Nos anos seguintes, Chiquinho e Amaral apadrinharam artistas de sucesso como MC Dede e MC Lon. No entanto, em 2013 a dupla chegou ao fim, quando decidiram seguir carreiras solo. MC Amaral assegura que não houve briga entre eles. Seguindo a carreira sozinho, MC Amaral lançou diversos clipes, sendo que dois deles ganhou destaque por ter sido gravado nos Estados Unidos: Hall dos Milionários, em Las Vegas, e Felicidade Delas, em Nova York. Juntos, os vídeos bateram a marca de 2 milhões de visualizações. Com o sucesso, o MC foi convidado para fazer parte de uma das maiores empresas de divulgação de funk do país, a GR6 Eventos. Os lançamentos do artista no canal da empresa no YouTube geraram centenas de milhares de visualizações, e quatro deles superaram a marca de 1 milhão. Mesmo com os bons resultados, MC Amaral decidiu sair do canal para realizar o sonho de ter a própria produtora. Na nova empreitada, Amaral vai gerenciar a carreira de artistas, além de fazer produções e edições de musicas e clipes, que serão lançados no canal do YouTube Fonte do Funk, um dos maiores do segmento. A 300 Produtora já nasce com 12 funkeiros na catálogo, entre eles os conhecidos Murilo Azevedo e o ex-parceiro do Amaral, MC Chiquinho CH. Segundo MC Amaral, o nome da produtora é uma homenagem ao amigo e também cantor de funk MC Lello, que morreu em novembro de 2014 vítima de um câncer. — O nome é por causa da música 300 por minuto, que gravei com o Lello, da Mooca [zona leste paulistana]. Hoje o artista afirma que está há 10 anos sem usar cocaína e coloca em prática o que aprendeu no período de recuperação para ajudar outro homem que sofreu recentemente com o uso de drogas. Com a construção da produtora, Amaral se aproximou de Fábio Rufos, contratado para trabalhar na obra. O artista conta que Rufos estava morando de favor em um quarto onde foi construído a 300 e era usuário de crack. O funkeiro, então, hospedou o homem na produtora e, graças ao método de tratamento, Rufos está afastado da droga. O MC compartilha frequentemente vídeos e fotos de brincadeira dos artistas da produtora com o homem que virou um símbolo da empresa.Criminalização Em meio à discussão que visa criminalizar o gênero musical funk, MC Amaral defende o ritmo dizendo que "o funk é a alegria da favela e a diversão gratuita das periferias". Mesmo com a tentativa de criminalização, o artista acredita que o estilo vive um bom momento, e que conseguiu sair das periferias e atingir todas as classes sociais. Apesar de chegar para todos, Amaral avalia que a grande maioria dos artistas de funk são das periferias de São Paulo. Para o cantor, o grande apoio à criminalização do funk é "por conta da nave batida e desgovernada que é o nosso país, onde a corrupção impera e alguém tem que pagar o pato pela falta de educação e segurança". — O funk é o grito de socorro da sociedade, onde podemos expôr o outro lado da moeda, a realidade vivida pela maioria das pessoas das periferias do Brasil, a realidade que é encoberta pelos maiores meios de comunicação. Na periferia, droga é normal, tráfico é normal, ladrão também é normal se ver. E isso não foi o funk que colocou.