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Prefeitura de SP empareda centros de reciclagem próximos à Cracolândia

Locais eram usados por moradores de rua e catadores para entrega de objetos recicláveis

São Paulo|Diego Junqueira, Giorgia Cavicchioli e Gustavo Basso, do R7

Na rua dos Protestantes, além do centro de reciclagem, endereços vizinhos também foram emparedados
Na rua dos Protestantes, além do centro de reciclagem, endereços vizinhos também foram emparedados

A Prefeitura de São Paulo fechou e emparedou três centros de reciclagem na Luz, no centro da cidade, próximos da região conhecida como Cracolândia, área de venda e consumo de drogas.

O emparedamento aconteceu há cerca de dez dias, no início da semana passada, em três endereços: na Rua dos Protestantes, na Alameda Glete e na Rua dos Guaianases.

Os três locais ficam a menos de 500 metros do chamado “fluxo”, onde se concentram os centenas de usuários de drogas da Cracolândia.

A prefeitura confirma os emparedamentos. Em nota enviada à reportagem “a prefeitura regional da Sé informa que os estabelecimentos citados foram fechados e emparedados por falta de segurança nas edificações e falta de licença de funcionamento”.


O R7 apurou, no entanto, que catadores e usuários dizem acreditar que o fechamento estaria relacionado às operações para “sufocar” o comércio de drogas na Cracolândia. O objetivo seria dificultar que os usuários troquem os materiais recicláveis coletados na cidade por dinheiro.

O catador Cleiton Aparecido Borda, de 27 anos, avalia que o “cerco está se fechando” na região. Usuário de crack, ele diz manter o vício por meio da venda dos materiais. Mas se esse trabalho for dificultado, ele cogita realizar assaltos para poder continuar comprando a droga.


— Se fechar os estabelecimentos comerciais de materiais recicláveis, eu não vou ficar parado. Eu sou usuário de droga. Eu tô mantendo o meu vício, por enquanto, do jeito mais fácil, que é trabalhando. Se ficar assim, se fechar tudo mesmo, eu vou pras cabeças, vou voltar pro assalto.

Local de coleta de ferro-velho na alameda Glete também foi emparedado
Local de coleta de ferro-velho na alameda Glete também foi emparedado

Um dos locais utilizados pelo catador era um ferro velho situado na alameda Glete, que era gerido pelo “Seu Eduardo”. Um comerciante vizinho ao estabelecimento confirmou à reportagem que o emparedamento aconteceu no início da semana passada, sem a presença do proprietário. O R7 não conseguiu entrar em contato com o responsável até a publicação desta reportagem.


Outro endereço emparedado visitado pela reportagem fica na Rua dos Protestantes. O responsável pelo local é um carroceiro que afirma não ser usuário de drogas. Ele pede para não ser identificado por temer represálias dos agentes de segurança. Sem poder fazer a coleta ali, ele tem se deslocado até um centro no Parque do Gato, próximo à rodoviária do Tietê, a cerca de 3 km de distância.

Centro de reciclagem emparedado na rua dos Protestantes. Ação da prefeitura aconteceu no dia 27 de junho
Centro de reciclagem emparedado na rua dos Protestantes. Ação da prefeitura aconteceu no dia 27 de junho

Outro carroceiro, que também pediu para não ser identificado, acompanhou a reportagem até o centro de reciclagem emparedado. Usuário de crack, ele afirma que vem recebendo ameaças de policiais militares por causa de sua carroça, que tem sido proibida de entrar no “fluxo”.

— Eu fumo pedra, mas não posso ir lá [no fluxo] com a carroça porque senão vão tomar. Eu vou sem a carroça. Aí quando eles me veem, falam: “por que você não tá fumando pedra lá? Cadê sua carroça? Eu vou queimar ela, eu vou rasgar os pneus, seu vacilão”.

O emparedamento deste centro de reciclagem atingiu também um prédio residencial vizinho — apenas a passagem da porta do prédio está liberada. Gerson Soares da Silva, de 47 anos, morador do local, criticou o trabalho.

— Nós todos precisamos comer e beber, não é mesmo? — questionou, em referência às dificuldades criadas para os carroceiros. E completou:

— Você chega na sua casa e não quer ver todo mundo contente e alegre? Mas aí você chega na sua casa e vê isso aqui?

Gerson Soares da Silva reclamou de emparedamento do prédio onde mora: "Você chega na sua casa e vê isso aqui?"
Gerson Soares da Silva reclamou de emparedamento do prédio onde mora: "Você chega na sua casa e vê isso aqui?"

Para Maurício Fiore, coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, existe uma tentativa de “sufocar” os usuários de drogas na região.

— A prefeitura quer vencer a Cracolândia pelo cansaço. E esse jogo de gato e rato é prejudicial à assistência social feita na região. É pouco humano e ineficaz.

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