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Promessa de moradia e 'praça nova': a retirada das famílias do Paissandu

42 famílias foram removidas pela Prefeitura de São Paulo na sexta-feira (10) e levadas para o novo CAT Canindé 

São Paulo|Ingrid Alfaya, do R7

42 famílias foram levadas para o Centro Temporário de Acolhimento Canindé
42 famílias foram levadas para o Centro Temporário de Acolhimento Canindé

A Prefeitura de São Paulo retirou na tarde da sexta-feira (10) as famílias que estavam acampadas há mais de três meses no Largo do Paissandu. Três caminhões da prefeitura regional da Sé levaram a estrutura improvisada do acampamento e os pertences de quem ficou por lá depois do incêndio no Edifício Wilton Paes de Almeida, em maio.

Um dia após a remoção, a praça está de cara “nova”. Guias recém pintadas, chão lavado e comércio aberto. Nem parece que ali ficaram acampadas mais de 500 pessoas, entre adultos e crianças, ex-moradores da ocupação que não conseguiram comprovar seu vínculo com o prédio, chamados pela prefeitura de “forasteiros”.

Limpeza após remoção das famílias
Limpeza após remoção das famílias

Um dos jornaleiros do local — que pediu para não ter seu nome divulgado — diz que ficou impressionado com a remoção. “Achei que ia ter tumulto, mas eles vieram aqui e de repente saiu todo mundo. Devem ter prometido alguma coisa”, afirma. Segundo a prefeitura, as famílias saíram voluntariamente.

No total, 42 famílias foram levadas para o novo CAT Canindé (Centro de Acolhimento Temporário). O espaço, que foi inaugurado na sexta (10), não acolhe pessoas solteiras. O R7 foi até o local do abrigo, mas não teve autorização para entrar. A prefeitura justificou que as famílias precisam se ambientar e por isso ainda não é permito a entrada da imprensa. No entanto, uma família foi autorizada a conversar com a reportagem.


Lilian com o marido Michel e os dois filhos, Tiffany e Gabriel
Lilian com o marido Michel e os dois filhos, Tiffany e Gabriel

Lilian Luciana de Oliveira, de 40 anos, foi para o abrigo com o marido e cinco dos seus dez filhos. “Em um dia não dá para saber, né? Tudo está bonito e a comida é boa, mas eles regulam o banho. E um só por dia com criança pequena fica difícil”, explica.

Ela afirma que a saída “voluntária” foi na verdade uma negociação. “Eles disseram que aqui ia ter capacitação para emprego e que quem estivesse no abrigo ia entrar no cadastro pra ter uma casa".


Quem ficou para atrás

O autônomo Alexandre Silva, de 35 anos, alega que foi deixado para atrás. Como é solteiro não teve direito de ir para o novo abrigo. “Quem não tem família, tinha que ir para o abrigo da Liberdade ou pra ‘carnificina’ aqui do lado”, diz referindo-se ao Complexo Prates. “Pra lá eu não volto nunca mais".


Silva e Rocha não conseguem provar que moravam na ocupação
Silva e Rocha não conseguem provar que moravam na ocupação

Silva e o amigo Lindalvo Rocha, de 41 anos, contam que não conseguiram comprovar sua relação com o prédio que desabou. “Perderam nosso cadastro porque somos solteiros”, diz Rocha. “A gente tinha cadastro no prédio, no acampamento, no Pedroso, se duvidar até na Nasa”, completa Silva.

Comércio local comemora

O florista José Amorim, de 65 anos, há 30 trabalhando na pequena loja de flores do Paissandu, comemora a saída das famílias do local. “Foram 100 dias de tortura. Ninguém vinha comprar flor aqui. Minha renda diminui em 90%”, lamenta. “Agora é correr atrás do prejuízo e agradecer por ter o Largo bonito de novo".

José Amorim quer ir atrás do prejuízo: 100 dias com queda nas vendas
José Amorim quer ir atrás do prejuízo: 100 dias com queda nas vendas

Ele não era o único comerciante da região a reclamar do acampamento. O dono de uma das bancas, Cícero Silva, de 40 anos, diz que está com todas as contas atrasadas. "Vim esse tempo todo trabalhar com medo que invadissem a banca, mas vender eu não vendi nada". Ele ainda conta que já viu muita gente que estava na ocupação ontem retornar hoje pela manhã. "A gente está aqui e vê, conhece, eles saíram do Cine Marrocos, foram pro Paes e logo estão em outra de novo. Vamos ver quanto vai durar."

Outro lado

Desde 1º de maio, a Prefeitura afirma que foram analisados casos de 435 famílias que se apresentaram como vítimas sendo que apenas 291 comprovaram morar na ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida. Essas famílias já estão recebendo auxílio-moradia e saíram da praça.

"As famílias remanescentes e que aceitaram acolhimento estão sendo encaminhadas para as 14,5 mil vagas da rede de assistência social, com estrutura para população em situação de rua e espaços adequados ao perfil familiar", informou a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB).

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