Quem multa muito ganha "moral" e quem multa pouco é "lixo", dizem funcionários da CET
Em um ano aumentou 16,2% o volume de multas manuais na cidade; CET nega prática
São Paulo|Juca Guimarães, do R7
O número de multas manuais aplicadas pelos agentes de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) na cidade de São Paulo cresceu 16,2% em um ano, sem levar em contas as multas registradas por radares. Em 2015, foram 2.380.555 de multas contra 2.047.827 no ano anterior. Entre os agentes e chefes diretos, quem multa mais tem um tratamento diferenciado e é chamado de caneteiro. Por outro lado, os menos eficientes ganham um apelido pejorativo.
A CET tem 4.311 funcionários dos quais 1.850 são agentes de trânsito, que atuam nas ruas e avenidas monitorando e organizando o tráfego; e multando em caso de infração.
Oficialmente, não existe uma gratificação ou prêmio para os agentes que aplicam mais multas. No entanto, o desempenho nas ruas, segundo dois agentes e um ex-funcionário da CET ouvidos pelo R7, garante "moral" para os agentes.
Quem tem um bom desempenho nas multas consegue um certo “status” entre os companheiros e os chefes diretos. Esta condição privilegiada fica evidente nas escalas de trabalho, na distribuição de material de uso e uniformes e nas equipes de trabalho. Por exemplo, quem tem bom desempenho nas multas consegue trabalhar em horários melhores, ganha uniforme e equipamentos novos e em condições melhores e também trabalha em locais mais agradáveis (como opções de local para almoço, sem muito barulho e mais segurança). Os agentes que se enquadram neste perfil são chamados de caneteiros. "É até um orgulho ser reconhecido como caneteiro. Os colegas te olham com respeito e a chefia te trata melhor", revelou um agente.
Por outro lado, o agente que não aplica muitas multas fica sem "moral". Para este perfil de agentes o nome usado, a título de gozação, é lixo. "O agente pode ser designado para ir até um determinado local fazer a fiscalização. Então ele está lá para ver se tem alguma coisa errada. Numa cidade grande como São Paulo é claro que vai ter. Se ele não vê nada, ou multa pouco, fica chato. As pessoas reparam", disse outro agente.
Outro perfil comum entre os agentes que aplicam muitas multas é o do "revoltado", aqueles funcionários desmotivados que "descontam" nas autuações as frustações com a pressão do trabalho.
Para o presidente do Sindviários (Sindicato dos Agentes de Trânsito), Reno Ale, a pressão sobre os agentes para aplicarem mais multas é um tema de preocupação. "Vamos fazer uma reunião na próxima quinta-feira (dia 7) com representantes da subssede para apurar as denúncias. Recentemente, recebemos algumas reclamações de equipes que estão sendo designadas para trabalhar à noite em cruzamentos onde tem farol quebrado. Até o final do ano passado, a orientação da CET era apenas de bloqueio e redirecionamento do trânsito nos faróis quebrados à noite. Agora, estão colocando os agentes lá. Pode ser um tipo de represália. Trabalhar de madrugada em um cruzamento com farol quebrado é um risco grande, os agentes podem ser atropelados", disse Ale.
Além dos agentes da CET, os PMs e os CGMs (guardas civis metropolitanos), estes desde 2015, também podem aplicar multas de trânsito. Somando as infrações registradas pelos PMs e GCMs às aplicadas pelos agentes da CET, em 2015 foram 3,74 milhões de multas e em 2014 foram 3,12 milhões, alta de 19,9%.
Outro lado
Em resposta ao R7, a CET informou o seguinte — que não há orientação nem iniciativa para estabelecer metas para aplicação de multas de trânsito. A política de valorização dos funcionários está fundamentada em índices oficiais e é auditada e homologada pelo sindicato, gerando benefícios a todos os funcionários, nunca individualmente. A CET repudia a tentativa de envolver a empresa pública em uma suposição sem fundamento claramente pautada por intriga de um grupo de funcionários.
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