São Paulo Um em três casos de abuso contra mulher terminou em morte em SP

Um em três casos de abuso contra mulher terminou em morte em SP

Dois terços das ocorrências aconteceram em casa e em 70% dos casos os agressores mantinham relações afetivas estáveis com a vítima

  • São Paulo | Karla Dunder, do R7

A promotora Valéria Scarance, do MP-SP

A promotora Valéria Scarance, do MP-SP

Divulgação AL-SP


Dos 400 casos de abuso contra a mulher analisados pelo Ministério Público de São Paulo, 124 terminaram em morte — ou seja, feminicídio, consequência de abuso doméstico e que torna o homicídio doloso crime hediondo.

Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (1) no Raio-X do Feminicídio, estudo realizado pelo próprio MP-SP em 121 cidades do Estado. A pesquisa foi conduzida pela promotora do Núcleo de Gêneros do MP, Valéria Scarance.

A proporção de mortes nos casos analisados é de praticamente um a cada três. O Brasil é o quinto país do mundo que mais mata mulheres — algo que, para a promotora, é uma “doença social”. “A morte de mulheres é uma endemia”, diz.

Uma das buscas da pesquisa era responder se a Lei Maria da Penha funciona. A promotora acredita que sim. Segundo ela, as medidas protetivas inibem a ação dos homens.

Quase a totalidade das mulheres que morreram não fez boletim de ocorrência ou pediu medidas protetivas: das 124, apenas cinco fizeram.

Dos crimes, 68% ocorreram de segunda a sexta-feira — não apenas nos fins de semana, como era senso comum. Os casos ocorrem à noite (35% das 18h às 24h), e não na madrugada.

"Se acreditava que o homem matava mais aos fins de semana e embriagado. E a pesquisa mostra que não. É preciso que a mulher tenha proteção durante o dia e a caminho do trabalho. O agressor conhece a rotina dessa mulher.”

O local mais perigoso para às mulheres é a própria casa. Em cada 3 crimes registrados, 2 ocorreram no próprio lar. Os agressores costumam usar, 58% dos casos, armas caseiras como facas ou facões. Ferramentas como martelos e chave de fenda também são muito utilizadas.

"Se acreditava que o homem matava mais aos fins de semana e embriagado. E a pesquisa mostra que não."

Valéria Scarance, promotora do MP-SP

A promotora observa que as mãos são usadas como arma seja para espancamento ou asfixia. "A asfixia é muito comum. Espanca e depois esfaqueia."

Das vítimas, 70% tinham relações afetivas estáveis e os crimes ocorreram em 45% dos casos em pedidos de separação. Outros 30% foram por machismo ou sentimento de posse.

Entre os exemplos citados pela promotora está o de uma adolescente de 16 anos que foi morta porque pediu para o namorado abaixar o som. Uma mulher foi morta por não querer ter relação sexual naquela noite.

A pesquisa aponta que os filhos também são vítimas diretas e indiretas desses ataques — quando são agredidos e quando presenciam a violência contra a mãe, respectivamente.

As mulheres vítimas que não tinham uma relação afetiva são mães, vizinhas ou pessoas que tentaram ajudar o alvo das agressões.

“O que mata é o silêncio, as mulheres precisam denunciar e buscar ajuda”, diz Valéria.

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