Alfabetização, mesmo tardia, melhora resistência ao Alzheimer
Um ano na escola já é capaz de aumentar a reserva cognitiva, tornando o idoso mais resistente aos sintomas da demência, segundo pesquisa
Saúde|Deborah Giannini, do R7
A alfabetização na fase adulta - um ano na escola - já é capaz de promover o aumento das conectividades cerebrais. Isso é o que está demonstrando um estudo desenvolvido pela UFMG divulgado no Simpósio Satélite da Conferência da Associação Internacional de Alzheimer (AAIC), em São Paulo.
"A alfabetização aumenta a reserva cognitiva deixando a pessoa mais resistente aos sintomas da demência. Não é que ela não vai ter demência, ela vai ter mais resistência aos sintomas da demência", afirma uma das autoras da pesquisa, Elisa Resende, neurologista do Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e membro do Instituto Global de Saúde do Cérebro (GBHI).
Um outro estudo, já concluído, também apresentado por ela, revelou que um baixo nível de escolaridade - de apenas quatro anos - é suficiente para representar um aumento da reserva cognitiva em idosos em comparação àqueles que nunca foram à escola. Uma melhor reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro em lidar com o processos degenerativos, significa maior resistência ao mal de Alzheimer.
Participaram do estudo 31 idosos, sendo 21 alfabetizados, com média de 4 anos de escolaridade, e 10 analfabetos. A média etária era 80 anos. Foram aplicados testes de memória e congnitivos enquanto a atividade cerebral era acompanhada por ressoância magnética.
"O primeiro achado foi que idosos alfabetizados tinham maior integridade das conexões cerebrais. Medimos quantos neurônios são conectados por meio da ressonância magnética", explica.
Elisa complementa as informações citando ainda outra pesquisa realizada por sua equipe em que 132 idosos tiveram o hipocampo, área do cérebro responsável pela memória, analisados. "Quanto maior a escolaridade, maior a relação entre hipocampo e memória. Quanto maior o hipocampo, melhor a memória. Em pessoas com escolaridade mais baixa, essa relação não era tão evidente. O hipocampo faz mais conexões permitindo que o cérebro seja mais eficiente", diz.
Segundo ela, outras pesquisas afirmam que os sintomas de Alzheimer ocorrem oito anos mais tarde em pessoas com escolaridade em relação às analfabetas. "A escolaridade pode evitar até que os sintomas apareçam. Há pessoas que morrem com a doença do Alzheimer no cérebro, mas nunca tiveram sintomas".
Exercitar o cérebro, por exemplo, fazendo palavras-cruzadas, pode ajudar e melhorar a reserva cognitiva, de acordo com a pesquisadora. "Não é um mito que fazer palavras cruzadas ajuda o cérebro. O que não foi estabelecido ainda é qual atividade congnitiva é melhor para prevenir os sintomas de demência, como se monta essa reserva cognitiva. Mas o que fica cada vez mais claro é que o estímulo da escola tem uma influência muito grande", diz.
"O risco de uma pessoa analfabeta desenvolver Alzheimer é duas vezes maior do que uma escolarizada. O estudo mostrou que pouca alfabetização é melhor do que nada e isso pode ser construído na idade adulta", completa.
Cuidados adequados ajudam vida do cuidador e da pessoa com Alzheimer: