Colesterol 'bom' pode não ser tão útil quanto se imaginava para prever risco de infarto
Níveis altos de HDL não significam muita coisa para algumas pessoas, concluíram cientistas nos Estados Unidos
Saúde|Do R7
O colesterol HDL, chamado também de colesterol 'bom', tem sido descrito há muito tempo como um preditor do risco de doença cardiovascular na população geral. No entanto, agora um grupo de cientistas descobriu que essa não é uma regra que vale para todos.
Em um artigo publicado nesta segunda-feira (21) no Journal of the American College of Cardiology, os pesquisadores verificaram que é possível prever risco maior de infarto e morte, por exemplo, somente em pessoas brancas que apresentem baixos níveis de colesterol HDL.
Os estudos que moldaram a percepção sobre níveis "bons" de colesterol e a saúde do coração foram conduzidos na década de 1970, com pesquisas que envolviam basicamente adultos brancos.
No presente trabalho, a equipe da pesquisadora Nathalie Pamir, professora da Oregon Health & Science University, analisou dados de 23.901 adultos dos Estados Unidos, negros e brancos, na meia-idade e sem histórico de doenças cardíacas.
Todos os participantes tinham características semelhantes, incluindo idade, níveis de colesterol e fatores de risco subjacentes para doenças cardíacas, como diabetes, pressão alta ou tabagismo.
As informações coletadas foram analisadas ao longo de mais de uma década, período em que 664 negros e 951 brancos sofreram um infarto ou morreram em decorrência de um.
Os níveis aumentados de colesterol LDL e triglicerídeos contribuíram para o desfecho, confirmando o que já se observara em estudos anteriores.
A novidade foi justamente o fato de pessoas negras com níveis altos de colesterol 'bom' não apresentarem risco menor de infarto.
O estudo ainda expande achados de outros trabalhos que mostram que altos níveis de colesterol HDL, na verdade, nem sempre estão associados a risco reduzido de problemas cardiovasculares no futuro.
Dessa forma, os autores entendem que esse medidor pode ser inespecífico ao se analisar o risco de infarto.
"Isso pode significar que, no futuro, não receberemos um tapinha nas costas de nossos médicos por termos níveis de colesterol HDL mais altos", afirma Nathalie em comunicado.
Segundo a professora, o papel do colesterol HDL na saúde do coração precisa ser revisado, levando em consideração não apenas a quantidade, mas a qualidade — na coleta e transporte do excesso de colesterol do corpo.
"O colesterol HDL tem sido um fator de risco enigmático para doenças cardiovasculares. As descobertas sugerem que é necessário um mergulho mais profundo na epidemiologia do metabolismo lipídico, especialmente em termos de como a raça pode modificar ou mediar essas relações", complementa o vice-chefe de epidemiologia da Divisão de Ciências Cardiovasculares do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue dos EUA, Sean Coady.
Por fim, os autores ressaltam a necessidade de se pensar em uma recalibragem das calculadoras de risco de doença cardiovascular que utilizam o colesterol HDL como item.
"Quando se trata de fatores de risco para doenças cardíacas, eles não podem ser limitados a uma raça ou etnia. Eles precisam se aplicar a todos", ressalta Nathalie.
Chamado de colesterol "ruim", o LDL é um tipo de gordura que se deposita na parede de vasos sanguíneos. Com o tempo, forma-se um quadro chamado aterosclerose.
Essas placas de gordura podem se soltar e causar infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
Já o colesterol HDL "carrega o acúmulo de colesterol e placas das artérias para o fígado, para que possa ser eliminado do corpo", segundo o Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue.
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