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Covid-19: entenda a diferença entre o teste rápido e o 'padrão ouro'

Anvisa liberou a aplicação de testes rápidos em farmácias na semana passada; resultado 'falso negativo' é frequente, de acordo com especialista

Saúde|Brenda Marques, do R7

Amostras de sangue colhidas de trabalhadores para testes sorológicos na empresa Liebherr, na Itália
Amostras de sangue colhidas de trabalhadores para testes sorológicos na empresa Liebherr, na Itália

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite, desde a semana passada, que farmácias apliquem testes rápidos de covid-19. O órgão afirma que esse tipo de teste não tem o objetivo de diagnosticar a doença e que a medida é temporária e excepcional.

Além disso, destaca que apesar de não haver necessidade de pedido médico, o exame não deve ser feito indiscriminadamente. Quem procurar a farmácia com esse objetivo deve ser orientado pelo farmacêutico sobre o momento certo para a realização.

O teste rápido sorológico detecta a presença de anticorpos que foram gerados em resposta à infecção pelo novo coronavírus e seu resultado sai em dez minutos, de acordo com o virologista e biólogo Flávio Guimarães da Fonseca, do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

"É feita uma pequena coleta de sangue. Ele é colocado em uma plataforma de plástico que ajuda esse fluxo da amostra [de sangue] a escorrer", explica. "Depois, é aplicado um reagente que dá cor a esses anticorpos", descreve, referindo-se a um teste rápido que teria resultado positivo.


Os testes rápidos podem detectar dois tipos de anticorpos chamados IgM - primeiro a ser produzido, indica que a pessoa está infectada ou teve infecção recente - e IgG - é o mais ambundante e demora para ser produzido, indica que a pessoa está recuperada, mas não necessariamente imune.

"Existem diferentes testes rápidos. Alguns detectam os dois [tipos de anticorpos ao mesmo tempo] e alguns fazem a detecção separada", esclarece o especialista.


Resultados 'falsos negativos'

O ideal é que esse tipo de teste seja feito a partir do sétimo dia de manifestação dos sintomas. "Antes disso, pode dar 'falso negativo' porque os anticorpos ainda não apareceram", pondera.

Entretanto, a Anvisa informa que os "resultados mais robustos foram obtidos a partir do décimo dia", de demosntrações de sintomas.


"Além disso, para detectar IgM existe um prazo, porque ele vai sumindo e tende a desaparecer cerca de um mês após a infecção", acrescenta Guimarães.

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Segundo o virologista, os resultados falsos negativos acontecem com frequência por duas razões: a quantidade de anticorpos está baixa ou o teste foi coletado no tempo errado. Por isso, o teste rápido não pode ser usado como um diagnóstico definitivo e precisa ser acompanhado de considerações técnicas.

Uma análise encomendada pelo Ministério da Saúde aponta que o exame doado pela mineradora Vale ao governo federal erra 75% dos resultados negativos, se aplicado no tempo errado.

Guimarães explica que a utilidade do teste disponibilizado nas farmácias é epidemiológica e prática, pois serve para estimar o tamanho da população que já foi infectada pelo novo coronavírus e para liberar, por exemplo, profissionais de saúde para o trabalho, pois permite saber quem já está imune.

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"Uma pessoa que não está com sintomas dificilmente vai ter a oportunidade de fazer o teste molecular. Então, seve para saber se pessoas não internadas já foram infectadas e também para ajudar na recomposição da força de trabalho médica", afirma.

"Um plantonista que fica dentro da UTI e é IgG positivo pode trabalhar porque já está imune", exemplifica. "A gente tem um grau elevado de certeza de que quem já contraiu [o vírus] está imune, mas não sabemos por quanto tempo", completa.

Teste de biologia molecular é ideal, mas custa caro

Já o RT-PCR é conhecido como teste 'padrão ouro' porque detecta a presença do genoma do novo coronavírus.

"Ele identifica uma sequência do material genético do vírus. Então, consegue pegar a doença bem no início, antes do aparecimento de sintomas", explica Alessandro dos Santos Farias, professor do Instituto de Biologia e Coordenador da Frente de Diagnóstico da Força-Tarefa de enfrentamento ao novo coronavírus da Unicamp.

Guimarães acrescenta que esse tipo de teste, feito com base na biologia molecular, serve para informar se a pessoa tem uma infecção ativa pelo vírus. O problema é que ele exige pessoas treinadas para ser aplicado, depende de insumos importados para ser produzido e é caro.

"Há uma fila de espera de cerca de 45 dias para receber um insumo, por isso eu defendo outras alternativas. Não existe possibilidade estrutural e financeira para fazer aplicação em massa", avalia.

De acordo com ele. só o equipamento usado para ler o resultado desse exame custa aproximadamente R$ 150 mil.

A sigla RT-PCR significa "reação em cadeia da polimerase acoplada a transcriptase reversa".

Na prática, isso significa que o RNA - material genético do vírus - é transformado em DNA para depois ser detectado. "O PCR é uma técnica que permite detectar poucas moléculas de DNA, ele identifica e aumenta essa quantidade", explica o virologista.

As amostras para o exame são retiradas do nariz ou da boca com um instrumento chamado swab, que se parece com um cotonete gigante. A análise é feita em laboratório, de acordo com a Anvisa.

"O resultado leva algumas horas para ficar pronto, mas pode chegar a dias por conta da grande procura pelo exame", informa a agência em nota divulgada em seu site.

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