Covid: por que crianças recebem doses menores de vacina? Entenda
Grupo tem mesma resposta imune com menos antígeno e, com isso, efeitos colaterais causados por imunizantes diminuem
Saúde|Carla Canteras, do R7
Os Estados Unidos começaram a vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19, na última quarta-feira (3), após a liberação do imunizante da Pfizer pelo CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA). Diferente dos outros grupos, essa faixa etária vai receber uma dose de princípio ativo equivalente a pouco mais de 30% da quantidade recebida pelas pessoas acima dos 12 anos.
O infectologista Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), lembra que outras vacinas têm dosagem pediátrica menor devido ao sistema imune das crianças.
"A formulação pediátrica das vacinas contém menos concentração do antígeno, pois a resposta imune das crianças é mais rigorosa e o sistema imunológico mais jovem funciona melhor. Em geral, com menos quantidade de vacinas, às vezes menos doses, às vezes com doses de concentração reduzida, conseguimos o mesmo efeito protetor de doses maiores ou mais concentradas", conta Kfouri.
O coordenador do teste clínico da vacina da Pfizer, Cristiano Zerbini, explica ainda que foi levada em consideração a diminuição dos efeitos colaterais do imunizante.
"Na primeira fase dos estudos da vacina, o princípio ativo foi usado em dose menor para evitar uma série de efeitos colaterais que ocasionalmente acontecem depois da aplicação da vacina, como febre, um pouco de dor de cabeça, calafrios, às vezes um pouco de diarreia, nos sete primeiros dias após a aplicação da vacina", diz Zerbini.
Kfouri acrescenta: "Além de economicamente ser melhor, já gasta menos produto para vacinar do mesmo jeito. A outra vantagem é aumentar ainda mais o grau de segurança dessa vacina e trabalhar com efeitos colaterais de menor frequência e de menor intensidade", ressalta ele.
Leia também
Segundo Cristiano Zerbini, as crianças devem receber três doses da vacina, sendo a segunda 21 dias após a primeira e a terceira seis meses depois da segunda. "Essa é a programação atual, mas o futuro vai nos dizer se a imunização deverá ser anual, ou em quanto tempo deverá ser dada outra vacina", lembra o médico.
A Pfizer ainda vai apresentar os resultados do ensaio clínico para crianças abaixo do 5 anos nos próximos dias, e nesse grupo a dose do princípio ativo vai ser de 3 microgramas do produto, 1/10 da quantidade recebida pelos jovens e adultos.
No Brasil, a farmacêutica norte-americana pretende pedir à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a liberação do imunizante para crianças acima dos 5 anos neste mês. "Eu tenho a impressão de que vamos começar a vacinar as crianças a partir de 2022. Claro que, se der para fazer antes, é ainda melhor", afirma Cristiano Zerbini.
"É uma questão de meses e semanas para conseguirmos vacinar as crianças no Brasil", concorda o infectologista da SBIm
Chegou a hora das crianças
Imunizar as crianças tem se tornado ainda mais importante, principalmente após a volta das atividades escolares sem distanciamento social. "A inclusão dessa faixa etária vai proteger as crianças de uma forma geral e permitir que elas fiquem mais livres. Os pais podem ficar tranquilos porque a vacina é muito segura e esses possíveis pequenos efeitos adversos podem ocorrer em qualquer pessoa, nos sete primeiros dias após a aplicação", ressalta o coordenador do estudo da Pfizer no Brasil.
Kfouri observa que o número de mortes de crianças e adolescentes por Covid no Brasil chega a 2.400 e não pode ser negligenciado. "Ficou no imaginário das pessoas que as crianças não precisariam da vacina. Mas não é isso, as crianças precisariam ser as últimas, depois dos adultos. As mortes por Covid nessa faixa etária representam mais do que todas as doenças preveníveis por vacinação juntas. Chegou a vez de vacinar as crianças", finaliza o infectologista.