Doenças cardiovasculares matam 46 brasileiros por hora
A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que, em 2022, 400 mil pessoas morrerão no país por problemas do coração ou vasculares
Saúde|Fernando Mellis, do R7
As doenças cardiovasculares — especialmente infarto e AVC (acidente vascular cerebral) — já mataram neste ano mais de 300 mil pessoas no Brasil, uma média de 1.100 por dia, ou 46 por hora, segundo a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Neste Dia Mundial do Coração, especialistas esclarecem que um estilo de vida saudável e o acompanhamento médico são fundamentais para reduzir esses indicadores.
A SBC estima que 400 mil brasileiros morram de doenças cardiovasculares até o fim de 2022, quase 60% do que a Covid-19 vitimou em dois anos e meio (685 mil).
A Arpen Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais) contabilizou 322,4 mil óbitos por doenças cardiovasculares em 2021, o maior número em relação aos dois anos anteriores.
As mortes por infarto representaram 32% do total; por AVCs, 33,5%; e por causas cardiovasculares inespecíficas, 34,5%.
"As doenças cardiovasculares aparecem quando as artérias coronárias estão comprometidas. Partindo disso, podem se manifestar como angina [dor no peito], infarto do miocárdio e morte súbita, além de alterações vasculares cerebrais, como o AVC. As doenças cardiovasculares respondem por um terço das mortes no Brasil e no mundo, tanto em homens quanto em mulheres, e são a principal causa de morte", alerta o cardiologista César Jardim, do Hcor, em São Paulo
A pandemia fez com que muita gente com doenças do coração e vasculares deixasse de fazer acompanhamento médico, motivo pelo qual a SBC lançou neste mês a campanha "Parou por quê?", voltada para o público acima de 40 anos.
"A descontinuidade nos tratamentos afeta parte considerável dos portadores dessas comorbidades. Mesmo com uma série de possibilidades terapêuticas, já comprovadamente eficientes, muitas vezes os pacientes acabam abandonando o acompanhamento médico e as medicações, normalmente quando aparecem as primeiras melhoras, ou por não manter a rotina de consultas e exames em dia", diz a entidade em nota.
O cardiologista Carlos Rassi, chefe do pronto atendimento do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, cita uma série de mudanças de comportamento da população nos últimos dois anos e meio.
"A pandemia contribuiu para o aumento da morbimortalidade das doenças cardiovasculares. Em grande parte porque os pacientes evitaram buscar o atendimento médico, por receio da pandemia, tanto para prevenção [exames de rotina] quanto para tratamento de suas doenças. Houve, ainda, piora nos índices de obesidade e sedentarismo, pelo isolamento social."
O estresse emocional dos últimos anos também pode ter contribuído para o agravamento de doenças cardíacas, acrescenta o médico do Hcor.
A volta aos consultórios médicos deve ter como objetivo monitorar os principais fatores de risco das doenças cardiovasculares: hipertensão, diabetes, níveis acima do normal de colesterol e triglicerídeos e sobrepeso/obesidade.
"A obesidade tem uma relação direta com doença cardiovascular, pois muitas vezes apresentam os mesmos fatores de risco, já citados, que levam a aumento de peso e também aumentam o risco cardiovascular, como sedentarismo, má alimentação e, consequentemente, maior risco de diabetes e colesterol alto", complementa Jardim.
Segundo o Ministério da Saúde, dois em cada dez brasileiros estão obesos — até o fim desta década, estima-se que sejam três em cada dez.
A SBC afirma que 40% dos brasileiros têm colesterol alto, 30% são hipertensos e 9% vivem com diabetes.
Um levantamento da entidade mostra que 67% da população desconhece os valores adequados dos níveis de colesterol. Dos portadores de diabetes, 46% não sabem da sua condição de saúde.
Em nota, o presidente do conselho administrativo da SBC, João Fernando Monteiro Ferreira, ressalta que esses números são preocupantes.
"Daí vem a importância desta campanha, alinhada a uma das grandes missões da SBC, que é a conscientização da nossa população."
O médico do Hospital Sírio-Libanês reforça que algumas mudanças de atitude, que não dependem de acompanhamento médico, na maioria dos casos, são extremamente benéficas para reduzir o risco de infarto e AVC.
São elas: não fumar, praticar atividade física regular e manter uma alimentação saudável.
A realização de exames, porém, é de extrema importância para saber quais mudanças no estilo de vida podem ser necessárias, ou até mesmo para avaliar o uso de medicações, afirma César Jardim, ao acrescentar que "a doença cardiovascular muitas vezes não apresenta sintomas".
"A melhor forma de prevenção é realizar exames no sentido de identificar fatores de risco e, posteriormente, mudar hábitos e tratá-los, caso haja necessidade. E também realizar exames que identificam alterações cardiológicas e tratá-las de forma precoce, antes de ter a ocorrência de um infarto do miocárdio, por exemplo."
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