Entenda a transmissão comunitária de coronavírus e como se prevenir
Brasil tem 30 pessoas infectadas com o vírus, mas ainda é possível rastrear a origem dos casos — a grande maioria importada da Europa
Saúde|Brenda Marques, do R7
O novo coronavírus SARS-CoV2 (que causa a doença covid-19) já foi registrado em 104 países, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) atualizados nesta segunda-feira (9). O Brasil tem 30 casos confirmados - número pequeno se comparado a países como China (80,7 mil), Coréia do Sul (7.478), Itália (9.172) e Irã (7.161).
Outra vantagem é que por aqui só existem casos de transmissão local do vírus, quando ainda é possível identificar quem foi a fonte de contágio ou o país ainda não ultrapassou a quarta geração de transmissão.
“[A transmissão] está restrita em um ambiente bem específico, familiar, de contato próximo, como foram esses dois casos confirmados positivos, que têm relação com o primeiro caso de São Paulo”, explicou o diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Júlio Croda durante atualização sobre o coronavírus feita na sexta-feira (6).
Entretanto, ele também afirmou que é “questão de dias” para que o contágio avance e aconteçam casos de transmissão comunitária - ou "sustentada" -, quando existem pessoas com a doença, mas não é possível saber quem transmitiu o vírus para elas.
“Muito provavelmente, isso deve ocorrer nos próximos dias [...] até porque existem diversos relatos de pacientes que são assintomáticos, mas possuem o vírus e podem transmitir ou não a doença”, acrescentou. Esse, por exemplo, é o caso da adolescente de São Paulo que foi infectada na Itália.
Nesta circunstância, existe a incapacidade de relacionar casos confirmados por meio de cadeias de transmissão para um grande número de casos ou ocorre aumento de testes positivos e, amostras sentinela (testes sistemáticos de rotina para quadros respiratórios feitos em laboratórios)
"Quando isto acontece, não faz mais sentido contar ou ficar preocupado com a origem do caso, se viajou ou não viajou, porque o vírus já está disseminado na comunidade", explicou Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
“A transmissão sustentada atinge pessoas que nunca viajaram [para países onde há casos da doença] e elas transmitem o vírus para outras pessoas”, esclarece o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
O especialista alerta para a chegada do frio. “As pessoas vão se confinar mais, e isso vai facilitar a transmissão de vírus respiratórios no geral”, esclarece. Mesmo assim, não há motivo para pânico, pois o Brasil está adiantado em relação a propagação das medidas de prevenção.
“O modo de precaução é absolutamente o mesmo. A orientação vem sendo antecipada justamente para que as pessoas já saibam como agir”, afirma. “O Brasil se antecipou de uma forma bastante acertada na prevenção”, acrescenta.
Isso significa que as medidas de higiene continuam valendo: ao tossir e espirrar é necessário cobrir a boca e o nariz com lenço de papel ou então usar a parte interna do cotovelo, lavar as mãos com frequência e usar álcool gel ou antissépticos à base de álcool.
“Especialmente no transporte público e para limpar materiais compartilhados, como celulares e computadores”, destaca o infectologista.
Além disso, quando a transmissão se tornar comunitária, o essencial é garantir que haja circulação de ar em locais fechados e que as pessoas evitem aglomerações.
“Se tiver sintomas respiratórios, o recomendado é não ir para locais públicos, as pessoas devem ficar em suas casas”, completa.
O uso de máscara continuará sendo necessário apenas para pessoas que estão doentes, a quem vai dar assistência a eles e aos profissionais da saúde.
“Num quadro de transmissão sustentada isso não vai mudar, a gente segue a prerrogativa da OMS”, enfatiza Gorynchteyn.
Questionado se o Brasil precisará adotar a quarentena, ou seja, o isolamento de pessoas — como aconteceu na China e na Itália —, ele afirma que isso só vai acontecer em “casos pontuais”.
Quem deve procurar atendimento médico
O infectologista ressalta que os cidadãos só devem procurar atendimento médico em situações específicas.
“Se houver desconforto respiratório, febre que não abaixa mesmo com medicações e, além disso, lábios e dedos roxos, que mostram diminuição da oxigenação pulmonar”, descreve.
Na última sexta (6), o ministro Luiz Henrique Mandetta também falou sobre a necessidade de ir ao médico.
“Em caso de quadros gripais, é recomendado que a pessoa faça o autocuidado. Deve procurar [o médico] somente quando vê que seus cuidados normais para resfriados e gripes não estão funcionando adequadamente”, alertou.
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