Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Esofagite Eosinofílica: alergia é confundida com trauma psicológico

Doença que causa inflamação no esôfago e compromete a capacidade de engolir alimentos, ainda é desconhecida por médicos e pacientes

Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7

Esofagite eosinofílica causa dificuldade para engolir, engasgo e impactação alimentar
Esofagite eosinofílica causa dificuldade para engolir, engasgo e impactação alimentar Esofagite eosinofílica causa dificuldade para engolir, engasgo e impactação alimentar

O problema ainda é considerado novo. A esofagite eosinofílica só foi descrita como doença no início da década de 1990. Mas é fato que, entre as doenças atópicas - dermatite, asma e alergia alimentar - esta é a que mais cresce.

Um levantamento feito em hospitais dos Estados Unidos concluiu que, em seis anos, o número de pacientes com o problema subiu 18% no país.

No Brasil não existem estatísticas, mas o que se sabe é que este tipo de esofagite pode se manifestar em pessoas de qualquer idade e é mais comum em homens. A cada três homens, uma mulher é diagnosticada com a doença.

Leia também: Remédio para dermatite atópica chega ao Brasil no 2º semestre

Publicidade

A esofagite eosinofílica é uma doença crônica, persistente, que pode ter origem genética e costuma evoluir com ciclos de remissão. Assim como a dermatite atópica e a asma crônica, ela acontece por causa de uma reação exagerada do sistema imunológico a um agente que causa alergia.

Um estudo desenvolvido pela USP apontou uma prevalência de 38% de casos de esofagite eosinofílica em alérgicos graves à leite. Mas outros alimentos ou substâncias também podem causar o problema.

Publicidade

A principal questão relacionada à esofagite eosinofílica é o desconhecimento. Como é uma doença nova, muitos médicos ainda não sabem identificar os sintomas e é comum que pacientes passem muito tempo sem tratamento adequado – ou pensem que os sintomas têm causas psicológicas.

O assunto foi discutido no EAACI 2018 (European Academy of Allergy and Clinical Immunology), congresso da Academia Europeia de Alergia e Imunologia, que aconteceu entre os dias 26 e 30 de maio, em Munique, na Alemanha.

Publicidade
Em bebês, o principal sintoma é o refluxo
Em bebês, o principal sintoma é o refluxo Em bebês, o principal sintoma é o refluxo

O que é esofagite eosinofílica

A esofagite eosinofílica é uma inflamação no esôfago que concentra um alto índica de células brancas do sistema imunológico.

Estas células são normalmente ligadas às doenças alérgicas e quando levam a uma inflamação no esôfago, elas causam uma espécie de machucado. Por causa deste machucado, as células liberam outras substâncias que provocam uma resposta exagerada do sistema imunológico – que manda mais células brancas e faz com que o problema aumente cada vez mais.

O esôfago é o tubo muscular responsável por levar comida da faringe até o estômago. Para isso ele realiza os movimentos peristálticos, movimentos coordenados pelo sistema nervoso que empurram o bolo alimentar para baixo.

A imunologista Ariana Yang, chefe do ambulatório de Dermatite Atópica do Hospital das Clínicas da USP-SP, explica que a esofagite eosinofílica faz com que a pessoa perca a capacidade de engolir o alimento:

“Uma característica de qualquer inflamação é diminuir a função do órgão, se você machucar o seu pé, você fica mancando, a sua função fica prejudicada. Então, esse esôfago com esofagite eosinofílica não consegue fazer os movimentos peristálticos, a função de engolir fica prejudicada. Então, a pessoa come e tem a sensação de que a comida não desce”.

De acordo com a imunologista, muitas pessoas sofrem com a doença e não sabem. Isso porque, quando a inflamação é leve, a pessoa desenvolve mecanismos de compensação:

“Quando a pessoa começa a ter uma inflamação, ela percebe que começa a querer engasgar, e ela compensa a dificuldade para engolir com líquido, por exemplo, e isso passa a ser uma necessidade, ela não consegue comer sem beber alguma coisa. Normalmente a gente não precisa de líquido para engolir, isso é um hábito nosso, não uma necessidade”.

Conforme a doença vai avançando, a passagem do alimento começa a ficar cada vez mais difícil e começa a acontecer a impactação alimentar – a comida entala na garganta ou no peito.

“Este é o sintoma mais típico, a pessoa come e não consegue engolir, a comida para na garganta ou para no peito, fica entalada. Alguns pacientes acabam indo para a emergência, pensam que estão infartando porque junto vem uma dor forte, suor frio. É extremamente desagradável, os pacientes descrevem como algo terrível”, explica Ariana Yang.

A doença pode começar a se manifestar em qualquer idade.

No bebê o sintoma mais comum é um tipo de refluxo que mesmo quando é tratado, não melhora.

Entre as crianças, os sintomas mais comuns são dor abdominal, engasgo e vômito, além de dificuldade de comer.

Nos adultos é mais comum a disfagia, que é a dificuldade para engolir, e a impactação alimentar.

Doença ainda é desconhecida por muitos médicos e pacientes
Doença ainda é desconhecida por muitos médicos e pacientes Doença ainda é desconhecida por muitos médicos e pacientes

Desconhecimento de médicos e pacientes

Como é uma doença nova, o conhecimento sobre esofagite eosinofílica ainda é restrito ao grupo de especialistas em doenças do sistema gastrointestinal ou alergistas e imunologistas.

Ariana Yang explica que, muitas vezes, a dificuldade para engolir é associada ao câncer de esôfago, mas “hoje essa doença é a primeira causa de dificuldade para engolir e impactação alimentar em adultos”.

O desconhecimento da doença acaba acarretando na dificuldade de diagnóstico. Depois que a suspeita de câncer é eliminada, muitos médicos ficam sem conseguir explicar a causa do problema. Isso acaba levando os pacientes para os consultórios de psicólogos e psiquiatras.

“Sem diagnóstico, o paciente começa a pensar que é psicológico, é da cabeça, mesmo quando entala, quando começa a passar mal e vai para uma emergência, pensa que é o estresse e a ansiedade que estão deixando um bolo na garganta”, explica a imunologista.

Sem um tratamento adequado, os sintomas vão ficando cada vez mais fortes.

"Esta doença é mais difundida entre alergistas e gastroenterologistas, mas é importante que pediatras, clínicos e, principalmente médicos que trabalham em emergências se interessem e estudem o assunto", alerta a médica.

Entre os alimentos que causam a esofagite eosinofílica, o leite é o mais comum
Entre os alimentos que causam a esofagite eosinofílica, o leite é o mais comum Entre os alimentos que causam a esofagite eosinofílica, o leite é o mais comum

Tratamento

Quando uma doença é identificada, começam a ser feitos estudos para o desenvolvimento de medicamentos que possam controlar ou curar o problema, e isso pode levar bastante tempo.

Como a esofagite eosinofílica é uma doença muito nova, estes estudos ainda não foram concluídos. Portanto, não existe, no mundo, um medicamento com indicação específica para a doença.

De acordo com a imunologista Ariana Yang, atualmente, o tratamento é feito com a mesma medicação usada para asma, que são basicamente corticoides.

Leia também: Novos medicamentos para asma atuam na causa da doença

A especialista explica que alguns pacientes com sintomas mais leves melhoram com dieta, “como é uma doença muito associada à alergia alimentar, a retirada dos alimentos causadores da alergia pode ser o suficiente para controlar a doença, mas isso não acontece em todos os casos”.

Entre os alimentos que costumam causar este tipo de reação, estão o leite, trigo, ovo, soja, peixe, camarão, amendoim e castanha.

“O leite é disparado o principal alimento envolvido. Isso em qualquer lugar do mundo que se estuda a doença, o leite é o principal”, destaca Ariana.

*Gabriela Lisbôa viajou a Munique, na Alemanha, a convite da Sanofi Genzyme

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.