Saúde Esquizofrenia pode ser superada com remédios e apoio familiar

Esquizofrenia pode ser superada com remédios e apoio familiar

Nesta quinta-feira (24) comemora-se o Dia pela Conscientização ou Atenção à Esquizofrenia, doença que afeta 1% da população, na maioria, homens

  • Saúde | Gabriela Lisbôa, do R7

Uma pessoa com esquizofrenia pode conseguir viver em sociedade

Uma pessoa com esquizofrenia pode conseguir viver em sociedade

Thinkstock

Quando Cainã Nicollelli tinha 19 anos ele teve o primeiro surto psicótico.

De repente, começou a falar que tinha chip no cérebro, que era monitorado, que as pessoas liam seus pensamentos e que precisava ir para o hospital para que retirassem esse chip da cabeça dele.

A mãe, Sarah Nicolleli, funcionária pública, nunca tinha ouvido falar sobre esquizofrenia. A primeira reação foi chamar uma ambulância.

“Até então eu nunca tinha ouvido falar sobre a esquizofrenia. Já tinha visto algumas coisas na televisão, mas não sabia o que era. Quando meu filho foi internado, fui estudar, e tentar entender o que era essa doença”.

Entre o primeiro contato e a aceitação foi um longo processo. Sarah conta que, em princípio, recebeu a notícia com uma certa naturalidade porque achou que fosse algo passageiro, que logo o filho voltaria à normalidade.

Leia também: Estudo identifica 44 variações genéticas para risco de depressão

“Depois percebi que ele estava piorando. No início, ele até melhorou um pouco, depois começou a se recusar a tomar os medicamentos e foi regredindo. Depois que eu entendi o que estava acontecendo, começou a luta para fazer ele entender que ele tinha uma doença e que precisava de um tratamento”.

Cainã, 27, superou a doença

Cainã, 27, superou a doença

Arquivo Pessoal

Essa luta durou quase cinco anos. Tempos difíceis para a família que não entendia por que essa doença tinha aparecido ali e que precisava entender e tentar controlar o comportamento obsessivo do Cainã.

“Teve uma época em que ele tomava banho a cada cinco minutos, a ponto de a pele ficar em carne viva. Foi um processo difícil de aceitação de ambas as partes. Da parte dele, ele dizia que era normal, que ele não tinha nada. A não-aceitação da minha parte eram os porquês. Por que o meu filho, por que essa doença, o que causou, o que eu fiz?”.

Sarah conta que depois que o filho entendeu que tinha uma doença e que precisava de tratamento, tudo começou a mudar.

“Aí eu comecei a ver o efeito do tratamento, ele voltou a ser o filho que eu tinha antes da primeira crise. Porque ele estava diferente, agressivo, quebrava coisas dentro de casa, vivia em um mundo irreal. A partir do momento da aceitação, começou a ficar melhor, saiu do isolamento social, da apatia, voltou a sorrir”.

Hoje, aos 27 anos, Cainã controla os sintomas da esquizofrenia com medicação e faz acompanhamento psiquiátrico. Há três meses ele voltou ao mercado de trabalho, em uma empresa de call center. Aos poucos também conseguiu retomar a vida social, fazer amigos, se readaptar à vida.

“Ver ele tomar os medicamentos e retomar rédeas da vida dele, foi uma alegria. Como mãe a gente se preocupa muito com a vida dos filhos, com o que vai ser deles quando a gente não estiver mais aqui. Hoje eu estou mais tranquila”.

Mania de perseguição é sintoma

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, a esquizofrenia é uma doença mental que afeta cerca de 1% da população mundial e é mais comum em homens.

O início da doença pode acontecer com surto psicótico – como foi com o Cainã – ou com sintomas como isolamento, retraimento social, queda de rendimento escolar ou no trabalho, mudanças de comportamento que devem estar associadas a um quadro perseguitório, ou seja, ideias de perseguição e delírio.

Saiba mais: Príncipes Harry e William participam de campanha pela saúde mental

Existe um risco genético, a esquizofrenia pode ser hereditária. Mas isso não é determinante para o desenvolvimento da doença. É preciso que fator ambiental também contribua.

De acordo com o psiquiatra Ary Gadelha, do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, sofrer algum tipo de violência ou o uso drogas como maconha e cocaína podem desencadear a doença em alguém que já tenha a vulnerabilidade genética.

Doença pode ser controlada

Quando se fala em esquizofrenia, muita gente ainda tem a ideia estereotipada de que o paciente nunca mais vai voltar ao normal e precisa ser internado porque não vai conseguir viver em sociedade.

O psiquiatra Ary Gadelha explica que, com o avanço dos tratamentos, a realidade nos dias de hoje é completamente diferente.

“Hoje, com o tratamento adequado, é possível superar a esquizofrenia e buscar qualidade de vida”.

Gadelha explica que, para isso, é preciso ter o que se chama de esperança realista. É preciso reconhecer a dificuldade, entender a doença e a partir disso reorganizar a vida.

“Com o avanço no tratamento, é possível não só controlar os sintomas, mas promover a superação da esquizofrenia, uma maneira de ter uma vida plena e significativa, apesar da doença. Nos últimos anos estamos assistindo vitórias que antes se consideravam impossíveis, como pacientes voltando ao mercado de trabalho, concluindo faculdades e fazendo pós-graduação”, destaca o psiquiatra.

Leia também: Saber filtrar ofensas contribui para a saúde mental, diz Augusto Cury

A esquizofrenia não tem cura, o tratamento deve ser seguido por toda a vida. Os remédios ajudam a controlar os sintomas, mas isso não é o suficiente. É preciso que o paciente seja acompanhado por uma equipe multidisciplinar que inclui psiquiatra, enfermeiro, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social.

O acompanhamento familiar também é importante em todos os processos.

“A família tem que estar envolvida em todos os momentos do tratamento. Hoje, todos os protocolos incluem a participação da família, porque os familiares também precisam de acompanhamento para enfrentar as dificuldades, os receios e os medos”, conclui Gadelha.

Últimas