Estrutura precária e distância de cidades ameaçam povos indígenas
Especialistas alertam que expansão do novo coronavírus pelo Brasil pode causar danos imensuráveis aos povos nativos no país
Saúde|Do R7
A morte de um jovem yanomami de 15 anos pela covid-19, no início de abril, jogou luz a uma situação já prevista pelas populações indígenas: a expansão do novo coronavírus pelo Brasil pode causar danos imensuráveis aos povos nativos no país.
“A maior preocupação está nas aldeias, onde a vida é comunitária, nas casas vivem famílias extensas, com muitas pessoas, há grande compartilhamento de objetos e alimentos”, diz Douglas Rodrigues, médico sanitarista e atuante no Projeto Xingu, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
“As condições de saneamento são precárias e as pessoas quase não têm acesso a materiais básicos como sabão para fazer a lavagem das mãos, das roupas e objetos, nem o álcool a 70% ou mesmo a água sanitária”, explica Rodrigues, que trabalha com saúde indígena desde 1981.
“Já vivemos isso antes. Muitas mortes causadas por vírus, como sarampo, varíola, malária, febre amarela, que já exterminaram muitos povos. Como já passamos por isso, o medo é que o coronavírus provoque novo genocídio”, afirma Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).
Rodrigues alerta ainda para a falta de infraestrutura de saúde e a distância das aldeias dos centros urbanos onde há hospitais com unidades de terapia intensiva. “Daí a grande importância de bloquear a transmissão”, explica.
A entrada de pessoas de fora nas terras indígenas deixa os nativos ainda mais vulneráveis. “O vírus não anda sozinho. E, sim, com as pessoas”, afirma o sanitarista. Além do rapaz morto, pessoas com quem ele teve contato também se contaminaram. “Os invasores são os maiores vetores da doença. Além de provocarem a destruição do meio ambiente, ainda trazem o risco de contaminação”, diz Guajajara.
Coordenador geral do CIR (Conselho Indígena de Roraima), Enock Taurepang afirma que, assim como em outras comunidades indígenas, aldeias no estado já estão levantando barreiras nas entradas dos territórios indígenas para evitar a entrada de pessoas de fora. “Não queremos perder nem uma criança, nem um ancião, nem um pai ou mãe de família nos nossos territórios”, disse Taurepang em vídeo publicado em sua conta no Facebook.
Recomendações enviadas pelo MPF (Ministério Público Federal) ao Ministério da Cidadania, Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Correios e agências bancárias, e às Forças Armadas foram comemoradas pelos indigenistas.
O MPF pede as autoridades que haja logística diferenciada para o pagamento do auxílio emergencial aos indígenas, além do Bolsa Família e outros benefícios. O órgão acredita que, desta forma, será possível prevenir a disseminação da covid-19 nas comunidades indígenas.
Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, anunciou, no dia 13 de abril, um plano de contingência que destinará R$ 4,7 bilhões a indígenas, quilombolas, ciganos e outros povos tradicionais do país.
O valor será dividido em R$ 3,2 bilhões para inscritos no Bolsa Família, R$ 1,5 bilhão em kits de higiene e reforço alimentar e R$ 23 milhões em ações de prevenção e atendimento à saúde.