Existem sinais que podem alertar sobre suicídio, diz especialista
Psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, especialista em prevenção de suicídio, explica quais são estes sinais, como ajudar e como lidar com a culpa
Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7
Uma tentativa frustrada de superar as dificuldades de maneira imediata. Esta é a definição de comportamento autodestrutivo, segundo a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional. É quando os maus hábitos viram um padrão enraizado na vida de uma pessoa, muitas vezes, de forma inconsciente.
Identificar e compreender esse tipo de comportamento pode ser a chave para perceber sinais importantes dados por pessoas que pensam em se matar.
A psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, especialista em prevenção do suicídio, explica que comportamento autodestrutivo é construído com acúmulo de sentimentos inóspitos não acolhidos e não legitimados.
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Karina explica que isso acontece porque a pessoa não consegue lidar com essas frustrações e decepções e acaba absorvendo esses sentimentos, não consegue extravasar ou administrar as situações.
A gente desenvolve comportamentos autodestrutivos, porque reinvestimos essa energia “contra” nós mesmos, enquanto deveríamos reinvestir para sermos assertivos com as pessoas que nos machucam e nas situações que nos fazem mal”.
Este comportamento pode aparecer nas pessoas que consideram a possibilidade de encerrar sua própria vida, pois a morte começa a ser vista como uma maneira de se livrar daquilo que causa sofrimento. É o “tunnel vision” que o psicólogo Edwin Shneidman ensina, definindo o suicídio como “um ato definitivo para um problema temporário”.
Enfrentar os processos autodestrutivos, para Karina, significa buscar formas diferentes de resolver os problemas que se repetem. Além disso, considera ser necessário ampliar as possibilidades a fim de se construir tolerância existencial.
“A autodestruição é repetitiva, o que significa para a Gestalt-terapia pedir novamente. O que se pede novamente são respostas que possam trazer inovação para a maneira como lidamos com a dor. A autodestruição se torna monocromática e, por isso a gente fica muito tempo na escuridão. Infelizmente, a gente se acostuma com aquilo que é ruim. Então, o que precisamos fazer? O maior argumento contra o suicídio é a vida, dessa forma, eu entendo que o antídoto dos processos autodestrutivos são esses processos de inovação, esses processos de autodescoberta, de descobrir novas formas de lidar com as nossas adversidades, nossos problemas, nossas piores dificuldades”, afirma.
Percebendo os sinais
Quando uma pessoa decide tirar a própria vida, é comum que amigos e familiares se questionem sobre como a situação poderia ter sido evitada.
A psicóloga explica que, normalmente, a pessoa que pensa no suicídio, dá sinais que nem sempre são percebidos.
Esses sinais estão relacionados a mudanças abrupta de comportamento, por exemplo, quando uma pessoa se isola, mostra dificuldade de concentração, irritabilidade, sentimento de vingança, além de apresentar distúrbios do sono, preocupações, culpa e autocobrança por não ter conseguido responder às expectativas.
Também é comum que a pessoa repita algumas frases que deixam no ar a possibilidade de ela não estar mais ali nos próximos dias. Frases como “quero sumir”, “não consigo mais aguentar isso”, “estou cansado da vida, não quero continuar”.
Se colocar à disposição para conversar pode ser uma boa forma de ajudar um amigo que está enfrentando problemas. Além disso, é importante incentivar que a pessoa procure ajuda de profissionais da saúde interdisciplinar, tais como, psicólogos, psiquiatras, dentre outras importantes profissões da área da saúde. O CVV (Centro de Valorização da Vida) é um dos melhores parceiros da prevenção do suicídio no Brasil. A especialista explica que é preciso ajudar a pessoa a desenvolver o que ela chama de tolerância existencial:
“Apesar da escuridão, se eu tiver uma tolerância existencial, que é esta crença de que eu preciso me dar uma segunda chance, eu tenho como desenvolver uma descoberta de maneiras mais saudáveis, mais funcionais de eu viver a minha vida”.
A psicóloga destaca que é preciso entender que algumas vezes estes sinais não aparecem.
Alguns suicídios acontecem sem um pedido de socorro ou uma manifestação clara de descontentamento com a vida.
“Devemos considerar que alguns suicídios aconteceram e a pessoa não pediu ajuda, não pediu socorro e não tinha como a gente adivinhar se a pessoa não pediu ajuda. Então, a ideia é a gente entender que existem alguns suicídios que acontecem sim, por uma série de questões complexas que fazem com que a pessoa chegue ao esgotamento e se mate. Relembrando que o suicídio deve ser compreendido em sua multifatorialidade e que não devemos apresentar explicações reducionistas, pois não se deve confundir ato suicida com a pessoa que se mata”.
Lidando com a culpa
Quando uma pessoa querida decide tirar a própria vida, é comum que a pessoa se questione sobre como poderia ter evitado e se culpe por não ter feito nada.
“O processo de culpa é inerente a qualquer processo de luto e nos casos de morte por suicídio, a culpa parece que vem com uma intensidade maior, é uma sensação de que a gente poderia mudar o desfecho da situação”, explica Karina.
De acordo com a psicóloga, essa culpa é o sentimento de que poderia ter sido possível lidar com a pessoa de forma diferente. Para superar esse sentimento, é preciso aceitar que a dor existe e entender que nem sempre é possível mudar o fim da história.
“Eu pergunto: se você soubesse que o desfecho seria o suicídio, você não teria feito tudo diferente? Você precisa aprender a se perdoar e o perdão não é só na cabeça, no racional. O perdão deve acontecer no coração também. É um perdão em que você precisa ter compaixão por você. Então, se você soubesse antes, se você tivesse uma bola de cristal, obviamente você escolheria diferente, mas você não teve escolha e, às vezes, a pessoa também não te deu outra escolha porque ela não pediu ajuda, então como é que você saberia que você poderia ter feito tudo diferente?”