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Falar sobre depressão é a melhor forma de acabar com estigma e combater a doença

No Dia Mundial da Saúde, especialistas falam que preconceito reduz procura por tratamento

Saúde|Dinalva Fernandes, do R7

Depressão é um transtorno mental frequente
Depressão é um transtorno mental frequente

Você já se sentiu triste, angustiado e perdeu o interesse pelo que mais gosta de fazer? Se essas situações pendurarem com muita intensidade e por várias semanas, você pode estar com depressão. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que a doença acomete 350 milhões de pessoas no mundo todo e é a principal causa de incapacidade. No Dia Mundial da Saúde, lembrado nesta sexta-feira (7), a OMS deu início a uma campanha sobre o transtorno, que pode afetar pessoas de qualquer idade em qualquer etapa da vida.

Como o lema “Let’s talk” (“Vamos conversar”, em português), a iniciativa reforça que existem formas de prevenir a depressão e de tratá-la, considerando que ela pode levar a graves consequências. A maior incidência da doença ocorre em adultos jovens.

Segundo o psiquiatra e professor associado de psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Miguel Jorge, quando as pessoas começam a sentir tristeza, melancolia, desânimo, desinteresse pelo que costumam fazer, elas tendem a se isolar, a não querer mais contato social e acabam vivendo esse sofrimento de natureza psicológica de forma individualizada. E, muitas vezes, são acusadas de serem fracas e preguiçosas.

— Obviamente, isso só agrava ainda mais a situação e faz com que elas não recebam o tratamento adequado. Na medida em que se passa a falar sobre o tema, essas pessoas começam a perceber que não são as únicas a experimentar essas sensações e que existe tratamento. Abrem-se portas para conversar com amigos e familiares e, eventualmente, sejam encorajadas a procurar atenção profissional.


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De acordo com a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS na América Latina, a depressão é um transtorno mental frequente. A doença acarreta à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. A incidência da doença está em ascensão no mundo todo, conforme explica o psiquiatra e especialista em psiquiatria geral pela Associação Brasileira de Psiquiatria Mario Louzã.


— Existem alguns indícios de aumento de depressão. Mas é preciso separar se as pessoas estão sendo mais diagnosticadas, se é aumento real ou se é só percepção maior da doença. Isso não é fácil de descobrir. No século atual, foi crescendo a pressão sobre o ser humano, que está mais sobrecarregado. Talvez seja um fator que contribui para a depressão, mas não o único. São múltiplos fatores que podem provocar a doença em pessoas mais vulneráveis. Não dá para afirmar se o número de diagnósticos vai continuar crescendo.

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Ainda segundo a OPAS, a depressão resulta de uma complexa interação de fatores sociais, psicológicos e biológicos. Pessoas que passaram por eventos adversos durante a vida, como desemprego, luto, trauma psicológico, são mais propensas a desenvolver a doença. Também há relação do transtorno com a saúde física. Por exemplo, doenças cardiovasculares podem levar à depressão e vice e versa.

Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano — sendo a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos, informa a psicóloga e coach de bem-estar Rosalina Moura.

— O suicídio acontece muitas vezes porque não foi dada atenção aos sinais de que a pessoa estava se desconectando com a vida, perdendo a energia ou a ligação com o que era importante. A sensação de solidão é muito grande. Falar do assunto é muito positivo. Quanto mais se fala de assuntos tabu menor é a sensação de solidão dessas pessoas, que podem perder a vergonha e o medo de falar sobre o problema.

"Vamos conversar"

Para a psicóloga, na medida em que a imprensa e a mídia em geral passaram a falar de depressão, pânico, fobia, ansiedade, se reduz um pouco o estigma relacionado às doenças mentais e emocionais.

— Conhecendo melhor o tema você tem a possibilidade de reduzir o preconceito da doença para que a pessoa procure ajuda o mais rápido possível. Às vezes, o preconceito está dentro delas mesmas e não procuram o psiquiatra para tratar ou da família, que pode pensar que não é nada, que é frescura, que vai passar.

É necessário tentar fazer com a pessoa entenda que a depressão é uma doença como outra qualquer
É necessário tentar fazer com a pessoa entenda que a depressão é uma doença como outra qualquer

Como a depressão tem muitos níveis e graus, muitas vezes quem é mais próximo nem percebe que o outro está deprimido, ressalta Rosalina.

— É muito comum familiares, pais e amigos enxergarem a pessoa com quadro depressivo instalado como vagabundo ou que não quer nada com nada. Não existe a identificação da doença, que precisa ser tratada. A depressão é além de tristeza. A pessoa deprimida tem alteração bioquímica cerebral e precisa de ajuda. Em muitos casos, ela não vai buscar ajuda sozinha por causa do preconceito ou não consegue identificar a possibilidade de pensar que algo está errado. A saúde mental é vista como algo menor, com menos valor ou importância.

E como posso ajudar?

De acordo com a psicóloga Rosalina Moura, em primeiro lugar, é necessário tentar fazer com a pessoa entenda que a depressão é uma doença como outra qualquer.

— Por uma doença emocional, muitas vezes, a depressão é vista como se não fosse real. Por isso, tem que trazer compreensão ao invés de acusação. Em alguns casos, a pessoa com depressão consegue conviver com a doença e não busca tratamento, justamente por esse preconceito de olhar o problema como falta de força de vontade, falta de desejo de agir. Uma abertura para ajudar é muito importante, se colocar ao lado. A pessoa se desconecta da vida.

Para o psiquiatra Miguel Jorge, é necessário construir um ambiente de comunicação e conversar, não necessariamente sobre a depressão.

— A partir disso, tem que mostrar a ela o que está acontecendo acomete milhões de pessoas no mundo todo. Pouco a pouco a convence a procurar ajuda médica, de qualquer especialidade, já que muita gente não quer ir ao psiquiatra por achar que é “médico de louco”. Pode ser mais fácil convencer a pessoa a ir em um clínico geral, que até poderia tratar de casos menos graves e, se necessário convencer a pessoa, a procurar um psiquiatra.

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O uso de medicamentos no tratamento vai depender da gravidade do quadro, explica Louzã.

— Apenas a psicoterapia pode ser suficiente para tratar uma depressão mais leve. Já se for um quadro moderado ou grave, tem que entrar com medicação porque vai demorar muito tempo para a terapia fazer efeito. A intervenção rápida é necessária principalmente quando o paciente está em risco. Em geral, a recuperação é total ao fim do tratamento. No entanto, a depressão é uma doença recorrente e pode voltar em outras situações, dependendo de cada caso.

Outro grande problema de combater a doença é o fato de pacientes abandonarem o tratamento depois de se sentir melhor e voltam a ter recaídas ou demoram para procurar tratamento, o que aumenta o risco de cronificação da doença, afirma o psiquiatra.

— Quanto mais recaídas, maior o risco de cronificação da doença. Por isso, tem que fazer o tratamento até o final, mesmo que já se sinta melhor. A doença também pode se tornar crônica porque a pessoa demorou muito para procurar tratamento. Aí quando se trata, a resposta terapêutica não é tão boa. Quanto antes se tratar, melhor a qualidade de vida.

Conheça os sinais da depressão que podem passar despercebidos:

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