Alan Frank e os filhos Luigi (à esquerda) e Luca
Reprodução/InstagramO médico oftalmologista e ex-integrante do grupo Polegar Alan Frank passou por um susto com um de seus filhos gêmeos no começo deste mês. Ele estava no aeroporto de Guarulhos com a família ao voltar de uma viagem quando Luigi, de seis anos, se engasgou ao tomar água e teve uma parada respiratória:
"Estávamos aguardando as bagagens e o Luigi pegou um copinho de água mineral da minha mochila e saiu correndo, pulando, brincando, e bebendo a água que pegou sem pedir”, contou em entrevista à revista Marie Claire.
“De repente, quando ele estava próximo à mãe, longe de mim, engasgou com a água, em seguida vomitou e provavelmente o pedaço de algum alimento obstruiu as vias aéreas de modo que ele começou a ficar roxo e perdeu completamente os sentidos. Teve uma parada respiratória".
O engasgo acontece por um desvio. “Aquilo que a criança tem na boca vai para o trato respiratório ao invés de ir para o digestório, atinge a via aérea alta e depois vai para a traqueia”, explica a pediatra Andrea Fraga presidente do Departamento de Emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Ela destaca que qualquer coisa que esteja dentro da boca da criança pode causar engasgo, desde alimentos e líquidos até brinquedos.
Já Wylma Hossaka, pediatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta que o engasgo também pode acontecer por causa do vômito. “Nessa situação, ocupa toda a traqueia e a árvore respiratória [que leva o ar aspirado das narinas para os pulmões]”, afirma.
A parada respiratória e a perda de consciência podem acontecer em minutos, de acordo com ela. “É a mesma coisa que ser asfixiado”, compara.
No geral, o engasgo começa a provocar danos cerebrais a partir dos 5 minutos. Se chegar a 10 minutos, a criança pode ter uma parada respiratória, segundo Andrea.
Alan prestou os primeiros socorros, mas sem sucesso. Luigi já estava há dois minutos desacordado quando ele tentou novas manobras e continuou sem resposta.
"Resolvi aspirar e em seguida soprar novamente, daí então tive êxito. Fiz a respiração boca-nariz mais algumas vezes e ele voltou a respirar. A corzinha dele voltou, mas ele estava em coma. Um pesadelo terrível", desabafou.
O menino foi levado para um hospital em Guarulhos e lá voltou a ficar consciente, porém esqueceu de coisas específicas.
“Ele estava consciente e orientado, porém em estado de amnésia para eventos recentes. Não lembrava da viagem à Bahia, não lembrava do avião, nem de nada recente”, relatou.
A falta de oxigênio poderia ter deixado outras sequelas. As mais graves são neurológicas, de acordo com Andrea. "Dependendo da parte [do cérebro] que ficou com hipóxia a criança pode parar de falar, enxergar e escutar", afirma.
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Wylma, por sua vez, ressalta que se o socorro for rápido, a criança não terá nenhum dano mais sério. "Sequelas neurológicas são raras. Casos mais graves, no geral, resultam em óbito", acrescenta.
As pediatras ressaltam que se a criança estiver tossindo e respirando, não é necessário interferir. "É necessário tossir, porque é o melhor jeito de expelir o corpo estranho", destaca Andrea.
Caso a criança não esteja respirando, a primeira coisa a se fazer é a manobra de desobstrução das vias aéreas e chamar a ajuda do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), pelo telefone 192 ou os bombeiros (193).
As manobras variam de acordo com a faixa etária da criança. Até um ano de idade, o adulto deve colocar a criança em seu braço — apoiado na perna — e bater cinco vezes nas costas.
"A boca da criança deve estar para fora do braço", observa Andrea. Depois, virar o bebê de barriga para cima e apertar o toráx cinco vezes com a palma da mão.
"Muitas vezes, as pessoas começam com respiração. Mas a primeira coisa a se fazer é a massagem cardíaca", enfatiza Wylma. De acordo com ela, a proporção deve ser de 15 massagens cardíacas para duas respirações boca a boca. "No total, deve haver 100 massagens por minuto", afirma.
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Caso a criança seja mais velha, é necessário ficar atrás dela e envolver sua barriga com as duas mãos posicionadas embaixo do umbigo. "A pessoa deve colocar uma mão em cima da outra e pressionar a região. É como se fosse um aperto na barriga, de baixo para cima", orienta a pediatra.
Andrea ressalta que o engasgo é mais comum em crianças menores de quatro anos porque elas têm uma dificuldade maior para mastigar e identificar os alimentos mais perigosos: os lisos e arredondados:
"Uva, morango, salsicha... mas os campeões são pipoca e amendoim", relata. "Elas também se engasgam muito com brinquedos."
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Já as crianças menores de um ano são as que correm mais risco de ter complicações. "Suas vias aéreas são menores, então é mais fácil de engasgar", explica. "E também elas têm o hábito de colocar tudo na boca para conhecer o mundo à volta."
Alguns hábitos simples podem prevenir engasgos, como deixar coisas pequenas fora de alcance e picar bem os alimentos. "Os pais não devem deixar as crianças se alimentarem sozinhas, é preciso que elas fiquem sob vigilância", alerta Andrea.
"Depois que os bebês mamam, é preciso colocá-los para arrotar e esperar no minímo 20 minutos até deitar de novo", aconselha Wylma.
Ela destaca que crianças maiores devem fazer uma coisa de cada vez. "Não dá para ficar pulando, é preciso sentar e se concentrar".
A atenção com brinquedos também é fundamental. "Tem que ser liberado pelo Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia] e é importante observar a faixa etária para a qual ele é apropriado", ressalta Andrea.
Como garantir uma saúde de ferro para seu filho, segundo pediatra: