Várias são as histórias de jovens, na faixa entre 15 e 30 anos, que foram acometidos por um linfoma e que perderam anos de suas vidas em busca da recuperação. Trata-se do câncer que mais atinge esta faixa etária e, apesar do alto índice de cura, sua essência traiçoeira exige atenção ao surgimento de sintomas característicos. O linfoma é provocado por uma alteração genética dos linfócitos, que são responsáveis pela produção de leucócitos (células de defesa do organismo) e estão dentro do sistema linfático. Por ser uma doença do tipo bimodal (predominante em dois grupos) também costuma atingir adultos com mais de 55 anos. A melhor maneira de se combater doença está muito mais na observação do próprio corpo do que na prevenção. O chefe da Disciplina Hematologia e Hemoterapia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Otávio Baiocchi, explica que não há uma causa bem definida para a sua ocorrência. — Existem algumas situações, raras, em que linfomas se desenvolvem a partir de uma infecção crônica e à exposição de substâncias químicas como o benzeno. Mas de um modo geral não possui causa determinada. Costumo dizer que é uma loteria genética. Desta forma, alguns sinais podem ajudar a detectar este mal que ainda tem mistérios a serem desvendados e, apesar de predominar nos grupos citados pode ocorrer em qualquer idade. Um dos enigmas é o porquê de a doença atingir determinadas faixas etárias com mais intensidade. Em 75% dos casos, conforme conta Baiocchi, o sinal clínico do linfoma é o aumento de gânglios ou íngua no pescoço, axila e região da virilha, onde estão os linfonodos, pequenos órgãos que existem em vários pontos da rede linfática. —Em geral o aumento dos gânglios é acima de 2 centímetros e permanece por mais de quatro semanas. Um dos diferenciais em relação a infecções é que não há dor no local. Quando uma ou mais destas características prevalecem, a chance de haver linfoma é grande. Além destes sinais, há também os sintomas sistêmicos, com febre noturna que cessa em uma hora, suor muito intenso à noite, pruridos e perda de peso contínua. Dos tipos de linfoma, o chamado linfoma de Hodgkin, descoberto pelo médico inglês Thomas Hodgkin em 1832, é o que mais tem tido sucesso no tratamento. Há ainda os linfomas do tipo não Hodgkin, que são mais de 40. Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), nos últimos 25 anos, houve o dobro de casos de tumores não Hodgkin, principalmente em pessoas com mais de 60 anos. No Brasil ocorreram cerca de 9.790 novos casos em 2014, dos quais 4.940 em homens e 4.850 mulheres. Em relação ao linfoma de Hodgkin, que atinge determinado tipo de linfócito, foram 2180 casos novos em 2014, 1300 em homens e 880 em mulheres. Para o diretor clínico do Hemocentro da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Carlos Chiattone, o crescimento no número de casos de não Hodgkin no Brasil, ocorre também em função do desconhecimento da doença. A mais conhecida, segundo ele, é o de Hodgkin, mas os outros ainda precisam ser melhor decifrados. — Este tipo de linfoma (não Hodgkin) teve sua incidência dobrada. O problema é o atraso do diagnóstico. O linfoma é a sexta principal causa de câncer no Brasil, mas 70% da população não sabe o que é linfoma.Tratamento Nas últimas décadas, o tratamento para o combate ao linfoma evoluiu bastante. Conforma atesta Baiocchi, se há mais de quarenta tipos de linfomas, as opções de tratamento possuem um número similar. Segundo ele, a quimioterapia, com suporte de múltiplas drogas, é utilizada em 90% dos casos. Apesar de ainda ser um método que atinge indiscriminadamente as células normais e as doentes, produzindo efeitos colaterais, houve uma melhora no desgaste do organismo dos pacientes em geral, com sintomas como nauseas, vômitos e fadiga surgindo de maneira mais leve. A radioterapia também pode ser utilizada, mas este tipo de tratamento é menos frequente. Baiocchi ressalta ainda que, se há um grupo com fator de risco mais elevado, este são as pessoas com baixa imunidade, como infectados pelo HIV e os recém-transplantados. A evolução da medicina tem possibilitado, cada vez mais, a busca da cura do câncer com a incoproração de terapias-alvo. De uma maneira geral, trata-se de uma doença com alto grau de cura. No caso do tipo Hodgkin, 75% dos pacientes ficam curados com o tratamento convencional. Outros mais raros, como o Linfoma Anaplásico de Grandes Células (LAGC), são mais agressivos, mas também é curável. No entanto, em todos os tipos de linfoma, quando o primeiro tratamento não funciona, há a necessidade de um transplante autólogo de células-tronco (TACT). E essas soluções não funcionam em uma faixa que vai de 20% a 30%, o chamado grupo de necessidades não atendidas. Aprovado em janeiro de 2015 no Brasil, um dos medicamentos que surgiram como alternativa para os casos que tiveram recidiva (recaída), é o Brentuximabe Vedotina. Injetável, é específico para Linfoma de Hodgkin e o LAGC e, segundo Baiocchi e Chiattone, esta droga aumentou a sobrevida de pacientes, por meio de terapias-alvo, cuja ação é específica nas células tumorais, preservando as saudáveis.Descamação de pele e convulsões são alguns sintomas de doenças raras já registradas em crianças do DF Para solucionar principalmente estes casos raros, a medicina tem procurado desenvolver tratamentos que ataquem especificamente as células já doentes, ou cancerosas, evitando que as normais sejam afetadas. Uma das soluções é a Imunoterapia, segundo Baiocchi. — O futuro da oncologia e o do tratamento do linfoma é a Imunoterapia, que usa anticorpos específicos contra o linfoma, evitando as lesões e os efeitos colaterais. * O jornalista Eugenio Goussinsky viajou ao Rio de Janeiro a convite do laboratório Takeda