Gordura no fígado exige restrição do consumo de bebida alcoólica
Médico adverte que indivíduos com qualquer problema hepático devem cortar a zero a ingestão de álcool
Saúde|Lucas Pimentel*, do R7
Os famosos brindes de fim de ano com bebidas alcoólicas são uma tradição em muitas famílias e rodas de amigos ao redor do mundo. Entretanto, exageros nesta época do ano podem ser cruciais para quem já tem algum comprometimento do fígado.
Segundo Paulo Bittencourt, presidente do Ibrafig (Instituto Brasileiro do Fígado), a tolerância às bebidas alcoólicas para pessoas com problemas hepáticos deve ser zero.
“O consumo adequado de bebidas alcoólicas independe do tipo de bebida. O que se considera é o total de álcool ingerido. A recomendação é 45 ml de destilados, 150 ml de vinho ou lata de cerveja – até duas doses por dia para homens e uma por dia para mulheres. Mas, no caso de quem apresenta alguma doença hepática, ou mesmo gordura no fígado, o limite seguro é zero.”
A gordura no fígado, chamada de esteatose hepática, é comum principalmente entre indivíduos que estão acima do peso.
Essa condição pode ou não gerar inflamação no fígado, o que, por sua vez, é um fator de risco para o desenvolvimento de cirrose (cicatrização que distorce a estrutura do órgão e compromete a função dele), descreve o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento.
As causas mais comuns de fígado gorduroso nos países ocidentais são:
• Consumo abusivo de álcool
• Obesidade
• Anormalidades metabólicas, como resistência à insulina, como ocorre em diabéticos, e níveis elevados de gorduras no sangue (triglicerídeos e colesterol)
• Uso de medicamentos, como corticoides e drogas quimioterápicas
• Gravidez
• Toxinas
Por raramente apresentar sintomas, a esteatose hepática é detectada normalmente em exames de rotina, como ultrassom do abdômen.
O especialista relata que, além do consumo de bebidas alcoólicas, outros fatores podem levar ao desenvolvimento de doenças hepáticas, como o sobrepeso e o sedentarismo.
“Para diagnosticar a saúde do fígado, o recomendado é que sejam feitos exames de avaliação de enzimas hepáticas, por meio da coleta de sangue, e ultrassom de abdômen”, explica.
A importância da realização desses exames se dá pela forma como as doenças hepáticas se desenvolvem. Segundo Bittencourt, elas são silenciosas e só apresentam sintomas quando a saúde do fígado pode já estar comprometida, com o risco de levar a casos de cirrose e até câncer.
“Nos estágios iniciais, é possível tratar as lesões do fígado adotando um estilo de vida mais saudável, com dieta rica em frutas e vegetais, e eliminando alimentos gordurosos, além de manter um peso saudável e fazer exercícios regularmente. Nos casos avançados, a doença hepática pode levar à necessidade de transplante do órgão.”
Às pessoas sem problemas hepáticos, Bittencourt recomenda cautela ao consumir álcool durante as festividades de fim de ano e férias, a fim de evitar excessos que possam ser prejudiciais à saúde.
“A orientação para as pessoas que forem beber nas confraternizações é que elas se hidratem bastante e consumam bebida alcoólica durante as refeições. Além disso, devem evitar a automedicação. Os chás e remédios que chamamos de hepatoprotetores, mesmo os analgésicos, quando usados para tentar curar a ressaca podem ser ainda mais prejudiciais ao fígado e potencializar os efeitos do excesso.”
Um dos medicamentos que devem ser evitados após a ingestão de álcool é o paracetamol, conhecido por causar danos ao fígado se usado em altas doses.
*Estagiário do R7 sob supervisão de Fernando Mellis