Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Má postura no home office pode causar dores crônicas nas costas

Ortopedista alerta sobre os problemas mais comuns provocados por condições de trabalho muitas vezes inadequadas

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Uso de telas em altura mais baixa do que a cabeça é um dos fatores que causam dor
Uso de telas em altura mais baixa do que a cabeça é um dos fatores que causam dor

Flexibilidade, conforto, rotina sem trânsito e transporte público são algumas das vantagens do home office. Mas, passados quase dois anos desde o início da pandemia, já começam a surgir nos consultórios médicos pacientes com dores no corpo por não adotar uma postura correta ao trabalhar em casa.

A publicitária Paula Lacerda, de 35 anos, aproveitou todos os benefícios do trabalho remoto desde março de 2020. Sobrou mais tempo para cuidar do filho, do cachorro, da casa. Entretanto, na metade deste ano ela começou a ter dores que nunca havia sentido nos ombros e no pescoço.

"Eu terminava minhas reuniões no fim do dia e tinha que tomar algum remédio para a dor. Cheguei a trocar a cadeira, mas não ajudou muito", conta.

Ela procurou um médico e, após exames, foi diagnosticada com cervicalgia associada justamente à má postura. O tratamento indicado foi fisioterapia e exercícios físicos.


Não há trabalhos científicos de relevância global ou nacional acerca de problemas ortopédicos em decorrência do trabalho em casa durante a pandemia.

Mas um estudo recente conduzido por pesquisadores croatas com 232 trabalhadores de empresas de telecomunicações em home office durante a pandemia mostrou que dois terços dos participantes se queixavam do surgimento ou agravamento de dores musculoesqueléticas.


No Brasil, o ortopedista Ivan Rocha, especialista em coluna do IOT (Instituto de Ortopedia e Traumatologia) do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), ressalta que houve um aumento, a partir da metade do ano, de pacientes que se queixam de dores nas costas e no pescoço.

Ele considera duas razões para isso: o próprio surgimento de mais problemas de coluna nesse período e também uma demanda reprimida de quem já tinha alguma condição antes da pandemia e não procurou atendimento nos últimos meses por medo da Covid-19.


O médico ressalta que muitas pessoas em home office deixaram de lado os "mecanismos compensatórios", uma espécie de atividade física involuntária, "que são: a pessoa simplesmente se mexer, sair de casa, caminhar até o ponto de ônibus, até o trabalho, locomover-se no trabalho".

"Essa movimentação que acabou não sendo feita transformou quem já era sedentário em um supersedentário."

Dores musculares são as mais comuns

Duas regiões das costas podem ser acometidas de dor: a lombar e a cervical. Rocha observou no consultório o crescimento do número de pacientes com queixas de dores cervicais (na área do pescoço e ombros). É o tipo de dor associado ao uso prolongado do computador e do celular.

Segundo o ortopedista, permanecer em posições inadequadas por muito tempo pode levar a quadros de dor permanentes.

"A cabeça inclinada para a frente, próximo à tela ou abaixada, no caso do celular, aumenta muito a contratura da musculatura e o risco de a pessoa desenvolver uma dor crônica cervical. A maior parte das dores crônicas se deve a disfunções musculares."

A dor lombar (do meio das costas para baixo) é a mais frequente, destaca Rocha. Estatísticas mostram que mais de 90% da população mundial terá uma crise de dor nessa região ao menos uma vez na vida.

Já a dor cervical tem incidência em 30% da população ao longo da vida. Entretanto, 12% podem desenvolver quadros crônicos.

Ao procurar um ortopedista, a pessoa que se queixa de dor nas costas passará por um exame clínico, a única forma de diagnosticar as dores de origem muscular. 

"A lesão [quando é muscular] existe, mas é uma lesão funcional, da maneira como o músculo está agindo. A gente não tem isso no exame de imagem. [...] O músculo começa a ter uma fadiga, começa a endurecer. Dentro dessa faixa de músculo endurecida acontece uma disfunção, que é chamada ponto de gatilho, o ponto de maior dor na apalpação muscular e onde está presente o maior processo inflamatório."

Coluna

Quando a dor se irradia para os braços, causa formigamento ou perda de força, o especialista solicita um exame de imagem, normalmente uma ressonância magnética, para verificar se há algum tipo de lesão na coluna ou nos nervos.

O exame aponta, por exemplo, se o paciente tem hérnia de disco, quando o material cartilaginoso entre as vértebras se desloca.

A dor também pode ser causada por um quadro de espondilose cervical, que é a degeneração das vértebras e dos discos entre elas, exercendo pressão sobre a medula espinhal no nível do pescoço. Nesse caso, a doença é mais comum em pessoas de meia-idade e idosos.

Lesões na coluna também podem comprimir a raiz nervosa espinhal, provocando dormência e fraqueza em ambos os braços e pernas.

O tratamento para dores nas costas e no pescoço normalmente é conservador, ou seja, não há necessidade de cirurgia, explica Rocha.

"A cirurgia é indicada apenas quando há perda de força, compressões neurológicas de estruturas nobres, como a medula, que podem deixar sequelas se comprimidas e falha no tratamento conservador."

Na maioria dos casos, o médico prescreve remédios para a dor e anti-inflamatórios, indica fisioterapia e, posteriormente, musculação como parte do processo de reabilitação.

É importante, frisa o ortopedista, que as pessoas entendam que a melhora das dores lombares ou cervicais não ocorre de uma hora para outra.

"O paciente terá que mudar de maneira radical o dia a dia dele para sentir esse benefício, senão esse benefício vai ser muito tênue e temporário. O médico dá um remédio e melhora, o fisioterapeuta manipula e melhora. Mas a pessoa volta às mesmas condições que geraram a disfunção e vai ter dor de novo."

Ambiente ideal

Local de trabalho precisa ter condições que evitam lesões lombares e cervicais
Local de trabalho precisa ter condições que evitam lesões lombares e cervicais

Apenas ter uma cadeira ergonômica não é garantia de que não haverá dores nas costas e no pescoço.

Os notebooks, utilizados pela grande maioria das pessoas que trabalham em casa, precisam ser ajustados para que a tela fique na altura dos olhos, o que é feito com o uso de suportes específicos ou até mesmo livros.

Também é importante garantir que a parte mais baixa das costas tenha algum apoio — pode ser uma almofada — para que não haja risco de se curvar em uma posição ruim com o passar das horas.

Os cotovelos precisam estar em uma curvatura de 90 graus (formando um L) em relação ao teclado. Para isso, é possível ajustar a altura da cadeira para cima ou para baixo.

As pausas periódicas, com uma caminhada dentro de casa e alongamentos, também ajudam a prevenir lesões.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.