Manter a higiene da boca em dia pode ajudar na prevenção do câncer de intestino
No Dia Mundial da Saúde Bucal, especialista explica que muitas bactérias que vivem no intestino estão presentes na saliva e manter a cavidade oral limpa é fundamental
Saúde|Carla Canteras, do R7
Entre as regras básicas de higiene pessoal é consenso que manter a boca limpa está nessa lista. A manutenção da higiene bucal é importante, porque é a maior porta de entrada de bactérias do corpo e, se esquecida, fungos e bactérias podem se proliferar, atingindo outros órgãos e suas funções. O que pode causar doenças sérias, como diabetes, problemas cardiovasculares e cânceres.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) credita a saúde oral como um dos indicadores mais importantes para constatar a saúde em geral, o bem-estar e a qualidade de vida dos seres humanos. Por tudo isso, em 20 de março é comemorado o Dia Mundial da Higiene Bucal como uma forma de conscientização para a questão.
Quando a relação é com o surgimento de tumores, a higienização sempre foi associada ao surgimento de câncer na boca. De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, os cânceres de lábio e cavidade oral estão entre os 20 mais comuns em todo o mundo, com quase 180.000 mortes a cada ano.
A coloproctologista Larissa Berbert explica que a boa saúde bucal também está relacionada com o câncer no intestino. "Nosso conhecimento atual é de que um desses fatores com papel importante na geração de mutação celulares são as bactérias do nosso intestino, a microbiota intestinal. Aí que entra o vínculo entre a cavidade oral e o aparecimento do câncer. Descobrimos que esses bichinhos que moram no nosso intestino têm uma relação muito grande com os bichinhos que moram na nossa cavidade oral", diz ela.
A médica ainda destaca: "algumas espécies que são nocivas e têm um papel ativo nessa transformação celular são encontradas no intestino e na saliva de pacientes com câncer. Essas bactérias têm a função na ativação do sistema imunológico, para aumentar fator de proliferação celular, ou na ação direta das toxinas bacterianas que são carcinogênicas."
O surgimento de tumores malignos no intestino acontece a partir da alteração no DNA das células que revestem o órgão. Essas mudanças celulares se dão pela somatória de fatores, que são a genética e as questões ambientais, como tabagismo e consumo de álcool.
"A falta de higiene bucal não causa o câncer do intestino, e sim está associada à doença. Assim como, o consumo de álcool, sedentarismo, tabagismo, obesidade estão associados ao aumento do risco. Chamamos atenção para o assunto, porque quem vai imaginar que a saúde bucal vai ser também uma forma de prevenir um câncer no intestino", ressalta Larissa.
No intestino humano estão presentes cerca de 130 mil espécies de bactérias e fungos e manter a flora intestinal saudável é ajuda na prevenção de tumores. "O que queremos ter é uma microbiota que seja saudável, que não seja inflamatória e não auxilie a genética ruim na transformação celular que leva ao câncer", destaca a especialista.
A dieta também interferir na manutenção da saúde bucal e intestinal. "Para ter uma microbiota correta temos que acertar a dieta, que também vai prevenir os problemas na cavidade oral, já que cáries não aparecem só por falta de higiene. O consumo excessivo de carboidratos refinados, ou de açúcares, são fatores que desencadeiam problemas metabólicos que são associados ao aumento do câncer do intestino, obesidade, diabetes, que também fazem com que nossas células sejam estimuladas a proliferar", afirma Larissa Berbert.
Prevenção do câncer de intestino é fundamental
Além de manter a higiene bucal e uma dieta que não seja rica em açúcares, a prevenção de tumores no intestino se dá por meio de exames periódicos. Todas as pessoas, mesmo quem não tem sintomas ou não tenha histórico familiar, precisa fazer uma colonoscopia após os 45 anos. No caso de histórico familiar ou da presença de sintoma intestinal, o exame deve ser feito antes.
Esse exame é um procedimento que usa técnica semelhante a da endoscopia, por meio da imagem é feito verificação do intestino grosso e do reto.
"A periodicidade dos exames vai ser definida pelo médico, que vai analisar os fatores de risco, ver o histórico familiar e o resultado do exame, caso tenha a formação de pólipos, que precedem o câncer, a gente consegue fazer o diagnóstico e retirá-las durante a colonoscopia. Essas lesões são completamente assintomáticas, assim como os cânceres iniciais", orienta a médica.
Tecnologia em prol da saúde
Por enquanto, na área clínica a colonoscopia é a única usada para fazer o diagnóstico. Mas, é possível pensar que em alguns anos a análise das bactérias presentes na boca e no intestino poderá ser usada na detecção da doença.
"Com a tecnologia, conseguimos analisar o DNA das bactérias e mapeamos perfil de bactérias de cada pessoa. A partir daí, vamos nos pacientes que têm câncer ver quais as espécies estão sendo repetidas entre os doentes. Depois vamos nessas espécies e checamos as funções delas, daí chegamos nas espécies que têm o papel de alterar as células e chegar ao caminho de desenvolvimento do câncer", explica Larissa.
Além disso, a avalição dos microrganismos podem futuramente auxiliar no tratamento. "Acho que o próximo passo é não só identificarmos qual é a bactéria, como dar um jeito matá-la. Por exemplo, tem alguns estudos que criam uma bactéria parecidas com as que fazem mal e acabam com elas. Como se fosse um probiótico", conclui Larissa Berbert.