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Mudar de opinião abruptamente não significa bipolaridade. Entenda

Estima-se que cerca de 6 milhões de adultos no Brasil sofram de transtorno bipolar, que envolve períodos de mania e depressão

Saúde|Fernando Mellis, do R7

A bipolaridade possui ciclos de altos e baixos
A bipolaridade possui ciclos de altos e baixos A bipolaridade possui ciclos de altos e baixos

Períodos de humor exaltado, expansivo ou irritado, com energia aumentada; e períodos de humor deprimido, diminuição do interesse e perda de energia. Esses são alguns dos sintomas que classificam o transtorno bipolar, doença que atinge cerca de 6 milhões de adultos no Brasil.

A médica psiquiatra Maria Fernanda Caliani explica que os ciclos de mania e depressão podem variar de pessoa para pessoa.

"Tem pessoas que nós falamos que são os cicladores rápidos, que muitas vezes conseguem mudar dentro do mesmo dia. É uma minoria. A grande maioria geralmente tem um espaço que varia de dias até semanas entre cada crise."

Alguns pacientes podem permanecer por meses em um quadro de mais excitação ou de depressão

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"Não se pode confundir o transtorno bipolar com o simples fato de uma pessoa mudar de opinião abruptamente"

(Maria Fernanda Caliani)

"Quanto mais longa for a fase [de crise], pior para o cérebro. O cérebro sofre mais e quando a pessoa sai, ela leva mais tempo para recuperar as funções dele: raciocínio, memória e concentração. Por isso, quanto antes for feito o tratamento, melhor."

Portadores do transtorno costumam ter a predominância de um ou de outro ciclo.

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"Isso que determina cada tipo de transtorno bipolar, com mais episódios de mania/hipomania, é o tipo 1. Mais episódios depressivos, transtorno tipo 2.

Maria Fernanda acrescenta que é comum que pacientes na fase de mania não procurem atendimento médico, mas que isso não significa que não precisem de ajuda.

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Em muitos casos, a pessoa pode se sentir criativa e confiante, com disposição, mas há problemas.

"Na hipomania, que é uma mania mais leve, a pessoa ainda consegue manter as suas atividades próximas do mesmo rendimento. Na mania, ela já não consegue. Sente que está produzindo muito, cheia de ideias, mas fica desorganizada e não termina as tarefas."

Outra preocupação em relação a essa fase do transtorno bipolar é que existe um aumento da impulsividade, em que alguns indivíduos têm comportamentos de risco, como uso e abuso de drogas e álcool e relações sexuais desprotegidas, porque pode haver também um aumento da sexualidade, observa a psiquiatra.

"O que a gente chama de juízo crítico da realidade é afetado nessa fase."

Ocorre de os quadros depressivos surgirem após o paciente passar por episódios dos quais se envergonha. "A fase depressiva pode vir quando a pessoa começa a sentir mal pelo que ela fez na fase de mania", acrescenta Maria Fernanda.

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Tanto na fase de mania quanto na fase depressiva, pessoas com transtorno bipolar têm risco de suicídio maior.

Em um artigo, o professor de psiquiatria da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, William Coryell, alerta para o fato de indivíduos com transtorno bipolar terem incidência 15 vezes maior de suicídio do que a população em geral.

"Nas duas fases existe a alteração da percepção da realidade. Na mania, uma das características é a impulsividade. Agindo por impulso, a chance de um ato impensado é maior. A mesma coisa na depressão, que vê a realidade de um modo mais pessimista", explica a psiquiatra Maria Fernanda.

Sintomas

Além do humor elevado, expansivo ou irritável e de energia aumentada, a fase de mania pode incluir outros sintomas adicionais, de acordo com o professor Coryell:

• Autoestima inflada ou grandiosidade.

• Diminuição da necessidade de sono.

• Falar mais do que o habitual.

• Fuga de ideias ou pensamentos acelerados.

• Facilidade em se distrair.

• Aumento das atividades direcionadas a objetivos.

• Envolvimento excessivo em atividades com alto potencial para consequências negativas (p. ex., gastar em festanças, investimentos financeiros tolos).

Na fase depressiva, podem ser identificados, além da perda de prazer ou desinteresse:

• Humor deprimido durante a maior parte do dia.

• Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades durante a maior parte do dia.

• Ganho ou perda de peso significativo (pouco comum) ou diminuição ou aumento do apetite.

• Insônia (muitas vezes insônia de manutenção do sono) ou hipersonia.

• Agitação ou atraso psicomotor observado por outros.

• Fadiga ou perda de energia.

• Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada.

• Capacidade diminuída de pensar, concentrar-se ou indecisão.

• Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, tentativa de suicídio ou plano específico para o suicídio.

Tratamento

Ainda não foi descoberta a cura para o transtorno bipolar, o que não significa que os pacientes precisem viver com os sintomas.

"Se o tratamento for feito da maneira correta, com medicamentos estabilizadores de humor e terapia, a pessoa tem uma vida normal, como das outras pessoas", afirma Maria Fernanda.

Chega a levar em média oito anos entre o primeiro episódio de depressão e o fechamento do diagnóstico, de acordo com a médica. Uma das dificuldades está no fato de os sintomas se manifestarem de maneiras diferentes e também haver períodos em que eles não aparecem.

Na rede pública, é possível encontrar ajuda especializada nos Centros de Atenção Psicossocial, os CAPS. Alguns desses locais, oferecem terapias de grupo com outros pacientes com transtorno bipolar.

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