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Novos medicamentos para asma atuam na causa da doença

Os chamados anticorpos monoclonais começam a chegar ao país e abrem caminho para um tratamento mais individualizado para asmáticos

Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7

A asma causa inflamação das vias aéreas, que ficam obstruídas
A asma causa inflamação das vias aéreas, que ficam obstruídas A asma causa inflamação das vias aéreas, que ficam obstruídas

A asma alérgica persistente, sem controle, foi um dos temas discutidos no EAACI 2018 (European Academy of Allergy and Clinical Immunology), encontro anual da Academia Europeia de Alergia e Imunologia, realizado de 26 a 30 de maio, em Munique, na Alemanha.

O tratamento da asma desafia o mundo científico. A doença pode parecer simples, uma dificuldade física de manter o ritmo de respiração.

Mas, na verdade, é um problema mais complexo, que envolve diferentes características de manifestação e causas, que vão desde fatores ambientais a genéticos.

Cada um desses tipos de asma exige um tratamento específico. No Brasil, desde a década de 1980, passou a ser comum tratar os pacientes com corticoide de inalação ou oral. Esse tipo de medicação pode ser eficaz, mas não para todas as pessoas, além de causar efeitos colaterais como ganho de peso e hipertensão.

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Nos últimos anos, começaram a surgir os chamados anticorpos monoclonais, classe de medicamentos que age diretamente na causa da doença. No caso da asma, três substâncias foram lançadas nos últimos meses e já começam a ser comercializadas em outros países: benralizumabe, mepolizumabe e o dupilumabe.

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Asma não age sozinha

A asma é uma doença caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas, que ficam obstruídas. Durante uma crise, a musculatura dos brônquios se contrai e isso impede a passagem do ar.

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Uma das principais características, é que a asma é heterogênea, ou seja, os pacientes não são iguais. Eles podem ser divididos em duas categorias, os que apresentem asma alérgica ou não-alérgica.

A asma alérgica, ou do tipo 2, afeta entre 50% e 70% dos pacientes, segundo a Global Strategy for Asthma Management and Prevention 2018, um relatório desenvolvido pela iniciativa global para a asma.

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A gravidade desse tipo de asma está diretamente ligada à quantidade de citocinas, moléculas produzidas por células do sistema imune. Quanto maior a quantidade de citocina produzida, maior é a inflamação e mais grave a doença.

De acordo com imunologista William Busse, professor de medicina pulmonar da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, um paciente com asma do tipo 2 normalmente sofre com outros problemas ligados à alergias, tudo depende do tipo e da quantidade de citocina que as células produzem.

O imunologista explica que as células naturalmente produzem citocinas em uma quantidade determinada. O problema é quando elas começam a produzir, de forma descontrolada, as citocinas IL-4, IL-13 e IL-5.

“Estas citocinas possuem papéis distintos, quando produzidas em excesso, cada uma delas é responsável por algumas das características patofisiológicas da asma, incluindo ruptura da barreira epitelial, hiperplasia das células caliciformes e secreção de muco, além de contratilidade e proliferação do músculo liso. Por isso, dependo da citocina em excesso, pacientes com asma induzida por inflamação do tipo 2 comumente também apresentam comorbidades, como rinossinusite crônica com pólipos nasais e rinite alérgica”.

De acordo com Busse, outras comorbidades podem surgir por conta da dificuldade de respiração. O ar que deveria entrar no pulmão e chegar até os brônquios seria usado para oxigenar o sangue, como isso não acontece, a tendência é que o paciente desenvolva uma hipoxemia, queda de oxigênio no sangue.

O imunologista Dirceu Solé, representante do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo no evento, explica que o paciente tem que fazer um esforço grande pro ar entrar no pulmão, isso sobrecarrega o coração e em longo prazo, uma série de outras alterações podem surgir.

“Normalmente essa asma mais grave não está sozinha. Ela pode vir com uma rinite, uma dermatite atópica. Aí você tem, além do pulmão comprometido, outras partes do sistema respiratório que também estão comprometidas, e que vão prejudicar ainda mais o paciente”.

Novos tratamentos

Nos últimos dez anos começaram a surgir imunobiológicos para o tratamento da asma, medicamentos de alto custo que envolvem altos investimentos em pesquisa e tecnologia.

De acordo com Mario Castro, professor de medicina pulmonar da Universidade de St Louis, nos Estados Unidos, foi a partir deste momento que se começou a entender os diferentes tipos de asma e a buscar tratamentos diferentes para cada um.

"É um momento empolgante por já existirem diferentes métodos de abordagem da doença, aptos a proporcionarem condutas mais individualizadas. Hoje é possível saber o tipo de citocina que causa a asma em cada paciente e, assim, aplicar um tratamento mais efetivo”.

Para Ian Pavord, professor de medicina respiratória da Universidade de Oxford, na Inglaterra, a importância desse tipo de tratamento é o foco no caminho desenvolvido pelo processo inflamatório, embora, as substâncias desenvolvidas até o momento ainda não atendam a todos os pacientes.

“Embora a terapia alternativa ofereça bons resultados, ela fica limitada aos pacientes com perfis alérgicos e eosinófilos fenotipicamente específicos, deixando à margem uma proporção significativa de pacientes”.

Entretanto, o pesquisador concorda que o estudo do papel dessas citocinas no processo inflamatório “é a chave para determinar um tratamento mais eficiente para um número maior de pacientes, enquanto se busca tratar também as comorbidades atreladas ao tipo 2, como a rinite alérgica e a dermatite atópica”.

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Entre as novas substâncias está o mepolizumabe, indicado para pacientes adultos. Esse medicamento foi o primeiro imunobiológico aprovado para o bloqueio da citocina IL-5. O medicamento recebeu a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em agosto do ano passado e começou a ser comercializado no Brasil em fevereiro deste ano.

A segunda nova substância é o benralizumabe, que também age contra a citocina IL-5. O medicamento foi aprovado pela Anvisa nesta segunda-feira (4). O processo segue, agora, para a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). É a CMED quem vai determinar o valor do remédio para, só então, ele começar a ser vendido no país. A expectativa é que isto aconteça até o fim do terceiro trimestre.

O dupilumabe é a substância mais recente das três. Essa medicação age contra as citocinas IL-4 e IL-13. No momento, o processo ainda espera a aprovação nos Estados Unidos para o tratamento contra a asma em adultos. Só a partir daí é que ela deve ser submetida para avaliação da Anvisa. Ainda não existe prazo para que o dupilumabe para o tratamento de asma possa ser comercializado no Brasil.

*Gabriela Lisbôa viajou a Munique, na Alemanha, a convite da Sanofi Genzyme

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