Pai de menina com síndrome rara se revolta com regras do CFM sobre derivado da maconha: "Retrocesso"
Norberto Fischer diz que resolução restringe o uso da substância canabidiol
Saúde|Bruno Lima, do R7, em Brasília
O pai da menina Anny, cinco anos de idade, Norberto Fischer, criticou a resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) apresentada nesta quinta-feira (11) sobrea liberação da prescrição do canabidiol, substância derivada da maconha. A história de Anny, que sofre com uma síndrome rara, ficou conhecida nacionalmente e abriu a discussão sobre o uso do CBD (canabidiol) após a divulgação do filme Ilegal, que mostra como os pais da menina portadora contrabandeavam a substância dos EUA.
Em entrevista ao R7, Fischer, que se tornou um defensor da utilização do CBD, definiu o texto como um "retrocesso" e afirmou que as regras restringem o uso da substância para pacientes de outras doenças.
— Considero essa decisão um atraso. Como eles podem na resolução definir até a dose que pode dar ao paciente se eles estão dizendo que não tem pesquisas? Eu acho que foi um retrocesso.
Médicos poderão prescrever substância derivada da maconha em todo o Brasil
O CFM decidiu liberar os médicos a prescreverem o medicamento apenas para pacientes de até 18 anos que sofrem de epilepsias refratárias. A regra detalha os critérios para o uso do CDB com fins terapêuticos no País, mas veda a prescrição da cannabis in natura para uso medicinal. De acordo com o texto, o grau de pureza da substância e sua apresentação deverá ser determinada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Cremesp libera uso de derivado da maconha
O conselho destacou também que não há evidências científicas que comprovem que os canabinoides são totalmente seguros e eficazes no tratamento de casos de epilepsia. De acordo com o presidente do CFM, Carlos Vital, o texto também apresenta um limite da quantidade diária recomendável do CBD.
Fischer esteve na coletiva de imprensa do CFM, realizada na tarde desta quinta-feira (11), em Brasília, para anunciar a medida e se revoltou ao tomar conhecimento do teor da resolução.
— Eu achava a resolução da Cremesp restritiva, mas essa aqui está pior. Eles definiram inclusive que o paciente não pode retirar os outros medicamentos. Isso é um absurdo.
A decisão do CFM foi tomada após o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) publicar, em outubro deste ano, uma resolução que regulamentou a prescrição da substância. A decisão do Conselho deverá ser revista em dois anos, quando serão avaliados novos estudos sobre o uso do CBD. Norberto pediu urgência na discussão do assunto.
— Não estou preocupado daqui a dois anos. Eu estou preocupado com o agora. Eles estão restringindo o acesso à população de um medicamento que é comprovadamente eficaz.
Ao final da reunião, Fischer abordou o presidente do CFM argumentando que a decisão deveria ser revista.
Visivelmente incomodado, Fischer questionou Vital sobre o tratamento específico de Anny.
— Eu vou ter que diminuir a dosagem da minha filha?
O presidente do CFM deixou o auditório dizendo que está “aberto ao diálogo”.