Pandemia causa a maior queda de cobertura vacinal nos últimos 30 anos, apontam ONU e OMS
Pesquisa mostra que a imunização de crianças seguiu em queda em 2021, levando 25 milhões de bebês a não receber vacinas que salvam vidas
Saúde|Do R7
A ONU (Organização das Nações Unidas) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgaram na noite desta quinta-feira (14) uma pesquisa que mostra que a pandemia de Covid-19 reduziu a taxa da cobertura vacinal de crianças ao patamar mais baixo dos últimos 30 anos.
"Este é um alerta vermelho para a saúde da criança. Estamos testemunhando a maior queda sustentada na imunização infantil em uma geração. As consequências serão medidas em vidas", disse Catherine Russell, diretora-executiva do Unicef.
"Embora fosse esperada uma ressaca da pandemia, o que estamos vendo agora é um declínio contínuo. A Covid-19 não é uma desculpa. Precisamos recuperar a imunização para os milhões desaparecidos ou inevitavelmente testemunharemos mais surtos, mais crianças doentes e maior pressão sobre sistemas de saúde já tensos", completou Catherine.
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Se levados em consideração os números do imunizante contra difteria, tétano e coqueluche, cerca de 25 milhões de crianças no mundo não receberam as três doses dessa vacina, chegando-se a uma taxa de cobertura de 81%.
De acordo com as organizações, essa queda acontece pela associação de diversos fatores: aumento do número de crianças que vivem em conflitos e ambientes frágeis onde o acesso à imunização é escasso, crescimento da desinformação sobre questões relacionadas à pandemia, como interrupção de serviços e cadeia de suprimentos, desvio de recursos para esforços de resposta e medidas de contenção que limitaram o acesso e a disponibilidade dos serviços de imunização.
No caso do sarampo, a cobertura de primeira dose caiu para 81% no ano de 2021, também o menor nível desde 2008. Isso significa que 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose de sarampo naquele ano, 5,3 milhões a mais do que em 2019.
Proteção contra HPV
A saúde de mulheres e meninas tem mais um agravante, já que mais de um quarto da cobertura de vacinas contra o HPV alcançada em 2019 foi perdida. A cobertura global da primeira dose da vacina contra o papilomavírus humano (HPV) é de apenas 15%, apesar de as primeiras vacinas terem sido licenciadas há mais de 15 anos.
O HPV é a principal causa do câncer de colo do útero. Só no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), esse tumor é o terceiro com maior incidência em mulheres, perdendo apenas para o câncer de pele e não melanoma.
Surtos de doenças evitáveis
A baixa vacinação já resulta em surtos evitáveis de sarampo e poliomielite nos últimos 12 meses, ressaltando o papel vital da imunização para manter crianças, adolescentes, adultos e sociedades saudáveis.
O retrocesso histórico acontece em um cenário de aumento das taxas de desnutrição aguda grave. Uma criança desnutrida já apresenta imunidade mais fraca, e a falta de vacinas pode significar que doenças comuns na infância rapidamente se tornam letais para elas. A convergência de uma crise de fome com a falta de imunização ameaça criar condições para uma crise de sobrevivência infantil.
Com os resultados, ONU e OMS pedem a intensificação de esforços para recuperar a vacinação e enfrentar esse retrocesso na imunização de rotina, com a ampliação de serviços em áreas carentes, para alcançar crianças carentes, e implementação de campanhas para prevenir surtos.
Além disso, há o pedido da criação de estratégias para construir e fortalecer a confiança das pessoas em vacinas, sendo o combate à desinformação uma das principais ações solicitadas.
Para a contenção de surtos e epidemias, a OMS pede a priorização do fortalecimento das informações de saúde e dos sistemas de vigilância de doenças, para fornecer os dados e o monitoramento necessários para que os programas de vacinação tenham o máximo impacto.
"É de partir o coração ver mais crianças perdendo a proteção contra doenças evitáveis pelo segundo ano consecutivo. A prioridade da Aliança deve ser ajudar os países a manter, restaurar e fortalecer a imunização de rotina, juntamente com a execução de ambiciosos planos de vacinação contra a Covid-19, não apenas por meio de vacinas, mas também de apoio estrutural personalizado para os sistemas de saúde que os administrarão", afirmou Seth Berkley, CEO da Gavi, a Aliança de Vacinas.
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