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Por que é tão importante controlar o nível de glicose no sangue?

Alta concentração de açúcar pode levar a complicações de saúde e desenvolvimento de doenças, como, por exemplo, o diabetes

Saúde|Nina Agrawal, do The New York Times

Mais de um em cada três adultos nos EUA tem pré-diabetes e níveis de açúcar no sangue acima do normal que podem levar ao diabetes Andrei Cojocaru/The New York Times

Mais de um terço dos norte-americanos adultos tem pré-diabetes, ou seja, níveis de glicose no sangue acima do normal que podem levar ao desenvolvimento da doença. E mais de 10% têm diabetes, caracterizada por uma concentração ainda maior de açúcar, que pode levar a doenças cardíacas, problemas de visão, AVCs, danificação nervosa e outras condições graves de saúde.

É possível, entretanto, evitar essas complicações mantendo o açúcar no sangue sob controle. O que você come, quando come, como se exercita e até o estresse que acumula podem afetar a subida (ou descida) da substância. “Não se deve esperar para ter pré-diabetes ou diabetes para começar a pensar nisso; o melhor mesmo é prevenir”, aconselha Elizabeth Halprin, chefe do setor de adultos do Centro de Diabetes Joslin, em Boston.

1. O que é a glicose no sangue?

Seu organismo decompõe os carboidratos que você consome e os transforma em glicose, que é absorvida na corrente sanguínea. Essa é a principal fonte de energia do corpo. O pâncreas, por sua vez, “sente” esse volume e produz uma quantidade correspondente de insulina, hormônio que age como uma chave para permitir a entrada do açúcar nas células, que o usam como combustível.

Uma parte normalmente fica no sangue e se une às proteínas como a hemoglobina – o que, em si, não tem nada de mais. Problemático, só o excesso. “Sabe quando você derruba leite ou alguma coisa doce no chão e fica tudo pegajoso? É o que acontece dentro do corpo. Cola nos vasos e deixa tudo grudento”, compara Susan Spratt, professora de medicina da divisão de endocrinologia, metabolismo e nutrição da Universidade Duke.


Quando o nível de glicose permanece alto, algumas pessoas desenvolvem resistência à insulina, isto é, o corpo deixa de reagir a ela de forma eficiente, e as células não absorvem a que se encontra no sangue. O pâncreas produz mais insulina até que por fim não consegue mais manter o ritmo, o que resulta em níveis altos de glicose, podendo levar ao pré-diabetes ou ao diabetes.

Com o tempo, esse excesso acaba prejudicando os vasos sanguíneos, levando a complicações em longo prazo.


2. Como é medida a glicose no sangue? Como saber quando o nível é saudável?

O exame de hemoglobina glicada mede a porcentagem de hemácias que têm glicose na proteína que lhe dá nome e ajuda o médico a calcular a média dos últimos três meses. Já o de glicose mede apenas a quantidade de açúcar presente na corrente sanguínea em determinado momento.

Para essa aferição, geralmente o sangue é tirado de uma veia — outro recurso são as tiras, e nesse caso é extraído do dedo — enquanto o paciente está em jejum, ou seja, sem comer nada pelo menos durante as últimas oito horas, para obter uma linha de base precisa. Se o nível da glicose e o da hemoglobina glicada estiverem acima de determinados limites — ou um deles, em dois exames diferentes —, é possível diagnosticar o diabetes.


No paciente diabético, o objetivo é manter o nível da hemoglobina glicada inferior a 7%, tanto para reduzir o risco de complicações como para evitar a hipoglicemia, que pode resultar em vertigem, tremores ou arritmia cardíaca e, nos casos mais graves, afetar a função cerebral.

Segundo os médicos, o sensor vestível, chamado monitor contínuo de glicose, faz a aferição em tempo real e pode ser ainda mais útil para quem corre o risco de queda da glicose no sangue.

3. Com que frequência devo fazer exames?

Depende do seu estado de saúde e dos fatores de risco. A Associação Norte-Americana de Diabetes recomenda o procedimento em qualquer adulto obeso ou com sobrepeso e que tenha fatores agravantes, incluindo pai e/ou mãe com a doença, problemas cardíacos, hipertensão ou síndrome do ovário policístico. Os afro-americanos, de ascendência asiática, latinos, indígenas ou ilhéus do Pacífico são considerados grupos de risco, já que o diabetes é mais frequente entre seus membros devido a fatores biológicos e socioeconômicos.

Se o exame mostrar pré-diabetes, você deve repetir o exame todo ano; se der normal, a cada triênio. Quem não tem fatores de risco pode começar a checagem aos 35 anos.

4. Como os alimentos afetam o nível de glicose no sangue?

Os alimentos ricos em amido ou carboidratos — macarrão, arroz, pão e batata, por exemplo — ou doces, como biscoitos e refrigerantes, fazem o nível subir. “No diabético, a relação insulina-glicose é desequilibrada. Um pico de açúcar faz o pâncreas eliminar muita insulina; com isso, a glicose sanguínea despenca, o que faz com que a pessoa sinta fome e passe mal. Consumir proteínas e gorduras em conjunto com os carboidratos retarda a absorção e mantém a glicose no sangue mais estável”, esclarece Halprin.

A saber: pular ou atrasar refeições e o consumo excessivo de bebida alcoólica (ou com o estômago vazio) podem derrubar o nível de açúcar no sangue, principalmente nos diabéticos.

5. Quais os outros fatores que desequilibram o nível de glicose no sangue?

O exercício físico ajuda a reduzir o açúcar no sangue porque usa a glicose como fonte de energia, criando músculos que a absorvem facilmente e reduzindo a gordura que contribui para a resistência celular à insulina. “Já o estresse faz com que o volume de cortisol suba, sinalizando que o fígado deve liberar mais glicose no sangue”, revela Spratt.

Segundo Halprin, a privação de sono pode ter o mesmo efeito. “Não dormir bem afeta indiretamente o nível de glicose no sangue, porque dificulta a alimentação adequada, a perda de peso, a prática de atividades físicas e a administração do estresse.”

6. Como manter um nível controlado de glicose no sangue?

Os médicos recomendam aos pré-diabéticos e diabéticos que dividam o prato da seguinte maneira: metade com folhas verdes, um quarto de alguma proteína magra, como peixe ou lentilha, e o outro com amido. Planejar a refeição dessa forma também ajuda a garantir a saúde do diabético. É importante trabalhar com o paciente para identificar mudanças que sejam realistas e apropriadas no nível cultural. “Você não pode pedir a um hispânico, por exemplo, que troque o arroz e a banana-da-terra por salada. Não dá certo”, afirma Halprin.

A prática de exercícios, nem que seja uma caminhada de dez minutos depois da refeição, já ajuda a baixar o nível da glicose no sangue e também a emagrecer — o que, segundo os médicos, é essencial para administrar a doença, em parte porque reduz a resistência à insulina.

7. Quais os remédios que auxiliam na redução?

Se esses recursos não bastarem, o médico pode receitar algum tipo de medicação. A metformina é barata e amplamente utilizada para ajudar o fígado a produzir menos glicose. As sulfonilureias compõem outra classe de remédio, mais antiga e acessível, que estimula o pâncreas a liberar mais insulina, mas podem levar à hipoglicemia e ao ganho de peso.

Opções como o Ozempic e o Jardiance são mais caras, mas auxiliam no emagrecimento e na redução da glicose no sangue. A insulina, que também pode ser cara e é injetável, normalmente é eficaz quando outras opções não são, de acordo com os médicos. “Se sua glicose está alta e você não consegue controlá-la com dieta, exercício, regulação do sono e administração do estresse, o negócio é apelar para os remédios”, aconselha Spratt.

c. 2024 The New York Times Company

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